Pela primeira vez, aconteceu em Goiânia o Seminário Nacional “Torcidas Organizadas – Prevenção à Violência Dentro e Fora dos Estádios”. O evento, realizado pela Associação dos Oficiais da Polícia e Bombeiro Militar de Goiás (ASSOF-GO), reuniu representantes das 20 federações estaduais de futebol, de um total de 27 em todo o país, além de autoridades da segurança pública, clubes, torcidas organizadas, Ministério Público e Judiciário.
Um dos destaques do seminário foi o lançamento do aplicativo Coliseu, ferramenta inovadora que permite a identificação de torcedores com histórico de envolvimento em crimes relacionados a torcidas organizadas. A tecnologia permitirá o monitoramento em tempo real de indivíduos cadastrados, com base em banco de dados compartilhado entre as forças de segurança.
“As torcidas são monitoradas 24 horas por dia. Com o Coliseu, conseguimos identificar quem são os reincidentes, os mal-intencionados”, destacou ao Jornal Opção Coronel Cardoso, presidente da ASSOF-GO.
Durante o evento, também foi apresentado um manual operacional, que sistematiza todos os procedimentos de policiamento voltado a eventos esportivos. O documento reúne protocolos de ação e práticas preventivas para antes, durante e após as partidas.
Para o coronel Cardoso, o seminário representa um marco no enfrentamento à violência no futebol.
“É a primeira vez que conseguimos reunir esse nível de integração nacional. Temos representantes de torcidas do Atlético, Anápolis, Anapolina e também de subsedes de torcidas organizadas de outros estados que atuam aqui em Goiás. A Polícia Militar não é contra a torcida organizada. Somos contra pessoas mal-intencionadas que se escondem nesse meio para cometer crimes.”

O seminário também debate a necessidade de mudanças legais.
“Precisamos de uma legislação mais dura. Quem for pego praticando violência precisa ser processado, cumprir pena e ser banido dos estádios. A Polícia Militar faz muito bem o seu trabalho, mas os outros atores também precisam assumir sua responsabilidade. O sujeito tem que sentir o peso da lei”, completou o presidente da ASSOF-GO.
A programação do evento foi até quarta-feira, 4, com palestras de especialistas como o Major PM Valdinei Arcanjo (PMESP), o sociólogo Nicolás Cabrera, o secretário nacional de Segurança Pública, Dr. Rodney da Silva, e o coronel Pedro Henrique, da PMGO. Um dos pontos altos foi a apresentação do projeto “Estádio Mais Seguro” e o debate com representantes das torcidas organizadas.
O evento também recebeu apoio do Governo de Goiás, que reconhece a importância da iniciativa pioneira no país. A expectativa é que o seminário contribua para a criação de políticas públicas mais efetivas, que promovam segurança e convivência pacífica nos estádios de futebol. A iniciativa é promovida pelo Batalhão Especializado de Policiamento em Eventos (BEPE), da Polícia Militar de Goiás (PMGO).
“Nosso compromisso é com a construção de uma cultura de paz. O futebol precisa voltar a ser um espaço de celebração e segurança para todos”, concluiu o coronel Cardoso.
Violência em Goiás
Por anos, o futebol goiano tem convivido com um cenário alarmante de violência entre torcidas organizadas, transformando o que deveria ser uma festa em clima de guerra. Episódios de agressões, vandalismo e tiroteios marcaram o esporte no estado e colocaram em xeque a segurança de torcedores comuns. Os confrontos mais recentes escancararam a urgência de iniciativas como o novo Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado entre o Ministério Público de Goiás (MP-GO) e representantes das principais torcidas da capital.
O episódio mais grave dos últimos anos aconteceu em junho de 2024, quando um confronto entre membros das torcidas organizadas do Goiás Esporte Clube e do Vila Nova terminou com cinco pessoas baleadas no Jardim Novo Mundo, em Goiânia. Segundo a Polícia Militar, os disparos partiram de dois suspeitos presos em flagrante, após uma tentativa de ataque da torcida do Goiás contra membros da organizada rival. As vítimas foram socorridas conscientes ao Hospital de Urgências de Goiás (Hugo), mas o caso marcou profundamente a escalada de violência no futebol local.
Meses depois, em outubro do mesmo ano, outra tarde de terror antecedeu o clássico entre os mesmos clubes. Um ônibus do transporte coletivo foi apedrejado por torcedores armados com pedras e pedaços de madeira no Setor Orlando de Morais. O coletivo teve os vidros destruídos e, por pouco, torcedores do Goiás — em minoria — não foram agredidos fisicamente. A fuga só foi possível graças à manobra rápida do motorista. Apesar dos prejuízos, ninguém se feriu gravemente.
A tensão entre torcidas não se limita à capital. Nesta segunda-feira, 2, em Trindade uma briga generalizada entre torcedores da Anapolina e do Trindade tomou conta dos arredores do Estádio Abrão Manoel da Costa, momentos antes de uma partida pela Divisão de Acesso do Campeonato Goiano.
O confronto teve início com provocações e xingamentos, mas rapidamente escalou para agressões físicas em bares e calçadas da região. Vídeos divulgados nas redes sociais mostram cenas de selvageria: mesas e cadeiras sendo arremessadas, torcedores correndo, e o tumulto só foi controlado com a intervenção da Polícia Militar.
Segundo o presidente da ASSOF-GO, coronel Cardoso, foram 35 detidos.
O Jornal Opção questionou a Diretoria-Geral de Administração Penitenciária (DGAP) quantos dos 35 ainda seguem detidos, mas não obteve retorno. O espaço segue aberto.
O post Goiânia sedia 1º Seminário Nacional sobre torcidas organizadas e lança aplicativo para combate à violência nos estádios apareceu primeiro em Jornal Opção.