”Prosperidade e performance”: por que os evangélicos aumentaram e os católicos diminuíram em Goiás

O número de evangélicos cresceu e o de católicos encolheu em Goiás, conforme mostra o Censo Demográfico 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado na última sexta-feira, 6. Esse crescimento é histórico e constante, segundo especialistas. 

Apesar de estarem aglomerados na mesma categoria, não existe uma hegemonia teórica quanto aos evangélicos, que se dividem em diferentes vertentes – batistas, presbiterianos, pentecostais, e muitos outros -, explica o professor e sociólogo João Coelho, em entrevista ao Jornal Opção. Ele afirma ainda que essas igrejas, mesmo diferentes, construíram uma narrativa de prosperidade que consegue impactar culturalmente, socialmente e politicamente. 

Segundo ele, há mais de 200 anos, com a ascensão do protestantismo, houve uma mudança na forma de gerar economia e poder na Europa. “Havia uma comparação entre essas duas culturas: a que produzia mais economicamente e a que produzia menos. O grupo dos protestantes produzia mais economicamente do que os católicos, porque tinha a liberdade de acumular bens e riqueza, o que a Igreja Católica condenava e considerava pecado”, explica. 

“De lá pra cá, enquanto a Igreja Católica permanece com ritos muito conservadores, as igrejas evangélicas têm tido uma capacidade de performance maior. Vivemos numa sociedade performática, visual e ideológica. Essas formas atraem muito mais público. E, nesse caso, as igrejas evangélicas neopentecostais têm conseguido construir um espetáculo para produzir uma narrativa”, afirmou o professor.

“A igreja católica escolheu não fazer alteração, mas não podemos também diminuir o poder dela”, diz o professor João Coelho | Foto: Instagram/Reprodução

João pontua que a igreja evangélica historicamente se reinventa, sem perder o conservadorismo. Exemplo prático do que o professor explicou é o poder político das igrejas evangélicas no país, que conseguem alavancar candidatos e transformar os fiéis em eleitorado – como percebemos políticos sendo apresentados em cultos. Vertentes novas e joviais também são bons exemplos, com boates e festas fantasiadas de cultos. 

“Mesmo essas igrejas que estão conseguindo desenvolver baladas evangélicas, também têm influenciado uma mudança na percepção política dos seus fiéis. Ou seja, mesmo as igrejas publicamente não instituem uma defesa de um político específico, no cerne da ideologia produzida, acabam levando a um determinado pensamento conservador. E essa é a alteração que a sociedade tem vivido, […] mesmo com essas chamadas inovação, isso não tiram delas o conservadorismo”, explicou. 

Sétima capital do país

Goiânia é a sétima capital com maior proporção de evangélicos no Brasil. Apesar da religião Católica Apostólica Romana ainda ser a que tem mais seguidores, é também a que mais encolheu — caiu de 59,4% em 2010 para 51,9% em 2022 – enquanto os evangélicos cresceram de 19,5% a 32,6% nos mesmos 22 anos.

“A igreja católica escolheu não fazer alteração, mas não podemos também diminuir o poder dela. É a instituição constituída mais longa, longeva do Ocidente. Hoje, o papel dos grupos evangélicos estão mais conservadores que a igreja católica.”, disse.

Além disso, é preciso levar em conta um crescimento geral de diversidade religiosa. Segundo a pesquisadora de Antropologia Social, Camilla Nascimento, os evangélicos ainda estão em crescimento, mas de forma desacelerada no Brasil.

“Há um crescimento de outras religiões, assim como daqueles que se apresentam como ateus ou sem religião, e isso mostra uma maior diversidade religiosa no país. Revelando que muitos que antes se afirmavam católicos, muitas vezes por tradição familiar, agora sentem que tem liberdade para fazer outras afirmações”, detalhou, em entrevista ao Jornal Opção.

Camilla Nascimento: “Há um crescimento de outras religiões, assim como daqueles que se apresentam como ateus ou sem religião” | Foto: Arquivo pessoal

Já a pesquisadora e doutoranda em Antropologia Social, Camilla Nascimento, explica que os dados do IBGE revelam a continuidade histórica do crescimento da parcela de brasileiros que se declaram evangélicos, assim como a continuidade da queda do número de católicos. “O que é revelador nesses novos dados é a desaceleração do crescimento dos evangélicos, em comparação com o Censo de 2010, Goiânia teve um decréscimo de 0,9% na população que se apresenta como evangélica”.

Segundo Camilla, o crescimento da parcela de brasileiros que se declaram evangélicos perdeu força pela primeira vez desde 1960, “o que se olharmos na perspectiva da história de colonização católica do Brasil, faz todo sentido perceber uma queda história, haja que o Estado se tornou laico e a religião já não é imposta como fora em outros momentos nas instituições de ensino e em outros espaços institucionais”.

“No entanto, se os evangélicos ainda estão em crescimento, mas de forma desacelerada no Brasil, é preciso dizer que há um crescimento de outras religiões, assim como daqueles que se apresentam como ateus ou sem religião, e isso mostra uma maior diversidade religiosa no país”, destaca a pesquisadora, que acrescentou que o fator revela que muitos que antes se afirmavam católicos, muitas vezes por tradição familiar, agora sentem que tem liberdade para fazer outras afirmações.

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