O presidente Lula da Silva (PT), enfrentando uma crise de desaprovação, se voltou para o caminho a que historicamente recorreu: a concessão de crédito para estímulo do consumo. Desta vez, entretanto, o contexto econômico pode fazer o tiro sair pela culatra.
Primeiro, os fatos: pesquisa Quaest publicada nesta semana mostra que a desaprovação ao governo chegou a 57% dos eleitores, o maior nível desde o início do mandato. Também nesta semana, Lula anunciou que o governo federal trabalha em dois novos programas de financiamento.
“Tem gente que quer comprar uma casa, tem gente que já tem a casa, mas tem gente que quer fazer um quarto a mais, uma garagem a mais, uma cozinha a mais, um banheiro a mais, e essa gente não tem crédito”, afirmou Lula sobre a nova política de crédito do governo para reformas.
Lula também anunciou a intenção de facilitar financiamento para motos: “Estamos trabalhando com afinco em um programa de crédito para financiar motocicletas para os entregadores de comida”, disse.
Sempre que se analisa a política econômica de Lula, é importante fazer o disclaimer: ninguém é contra dar condições aos mais pobres consumirem e fazerem reformas. A questão é executar essa intenção de forma sustentável. A história mostra que a multiplicação de estímulos ao consumo desacompanhada do aumento da produção dará errado novamente.
Em 2018, a crise causada pela greve dos caminhoneiros estourou nas mãos de Michel Temer (MDB), mas foi gestada pela atuação do BNDES entre 2009 e 2015. O Programa de Sustentação do Investimento (BNDES PSI) elevou via crédito e financiamento a frota de caminhões no país, reduzindo o preço dos fretes e tirando dos caminheiros a capacidade de absorver o súbito aumento dos custos dos combustíveis em 2018.
De forma semelhante, um programa para financiamento de motos pode aumentar o número de entregadores de tal forma que pode prejudicar toda a classe. Se houver mais entregadores, o valor das entregas diminuirá.
Outro problema do plano de expansão fiscal para estímulo do consumo e indução do crescimento econômico de forma artificial é o aumento dos preços. Com a alta taxa de juros que inibe investimentos, e sem o boom das commodities, não há elevação da produção de forma orgânica à altura do consumo. O aumento da demanda eleva os preços: mais inflação. Quando a desaceleração da economia chegar, inevitável, será cruel especialmente com os mais pobres e endividados pelo financiamento e crédito; mas até lá, a eleição de 2026 já terá passado. Essa é a aposta de Lula.
Em busca de aprovação
Desde o desastrado anúncio do aumento do IOF, que foi vazado pela imprensa antes de um pronunciamento oficial, Lula luta contra a queda de sua popularidade. A solução apresentada pelo ministro da Comunicação, Sidônio Palmeira, é incerta, para dizer o mínimo.
Conforme noticiado pelo jornal O Globo na sexta-feira, 6, a Secretaria de Comunicação (Secom) vai utilizar a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) para “ampliar a participação social” e “reforçar o caráter público da estatal” instalando dois novos comitês de participação na empresa. A declaração acontece logo após o pedido de demissão de Sabrina Gabeto Soares, agora ex-diretora de Administração e Finanças da EBC.
Na prática, isso significa um novo contrato no valor de R$ 7,5 milhões por um período de um ano para fazer a cobertura de atos de ministros e do Presidente Lula. Serão adquiridas 7,5 mil passagens aéreas; 625 cotas de bagagens extras; 2,5 mil diárias em hotéis; 1.801 diárias de locações de veículos e mais 9 mil diárias de seguro para viagens nacionais e internacionais.
Vale o ceticismo: a EBC tem audiência para reverter a queda de popularidade? Há interesse da sociedade de “ampliar sua participação” na estatal?
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