Professor da Universidade de Nova York, o psicólogo Jonathan Haidt, autor do best-seller “A Geração Ansiosa” (Companhia das Letras, 440 páginas, tradução de Lígia Azevedo), concedeu uma entrevista ao repórter Nelson Gobbi, de “O Globo”, que, de tão valiosa, merece ser lida e comentada.
Haidt diz que a decisão de proibir celulares nas escolas é importante para alunos e professores. “Quando os alunos têm acesso aos seus celulares durante o dia, o drama e a distração nunca acabam, mesmo durante as aulas.”
As redes sociais organizam lobbies poderosos, inclusive no Brasil, para evitar a adoção de legislação de controle rigorosa. Na sua defesa, dizem que são apóstolas da liberdade de expressão. Haidt diz que é papo furado.
“Quando se trata de proteger crianças, quase não há implicações de liberdade de expressão. As empresas não deveriam projetar seus aplicativos para gerar dependência. Não deveriam permitir que homens anônimos conversem com meninas de 10 anos. Elas devem ser responsáveis por verificar a idade e banir pessoas que cometem golpes, extorsão e ‘sextortion’ (extorsão com uso de conteúdo íntimo da vítima). Elas têm sido lentas para agir. Isso não é sobre liberdade de expressão.”
Numa reportagem do “Estadão”, de autoria de Renata Cafardo, Haidt avança: “‘É preciso agir agora’ para regular as plataformas de rede sociais, impedir que menores de 16 anos possam acessá-las e retomar a infância que vem sendo perdida nos últimos anos”.
Haidt defende, de acordo com a reportagem do “Estadão”, “a volta da infância independente, com mais tempo de recreio nas escolas e crianças brincando na rua”. O professor americano garante que é importante os jovens “se frustrarem, terem conversas difíceis, aprenderem a paquerar cara a cara”.
O psicólogo enfatiza, no “Estadão”: “Protegemos demais nossos filhos no mundo real e os desprotegemos online”.

Ao “Globo” acrescenta: “Os jovens foram incentivados a ver as pessoas, no mundo real, como perigosas, e as interações online como seguras. As habilidades sociais diminuíram. A capacidade de tolerar o tédio ou momentos de desconforto caiu”.
Crianças e adolescentes estão se expondo diariamente nas redes sociais, enviando fotografias de maneira “incontrolável”.
A exposição que mais desgasta é a das meninas, enfatiza Haidt. “Os britânicos têm um ditado: ‘Don’t put your daughter on the stage’ (“Não coloque sua filha no palco”). Eles estão certos. A última coisa que queremos é incentivar meninas a pensar, a todo momento, em como as pessoas estão julgando seus rostos, corpos, roupas e cabelo. A última coisa que queremos é que as meninas cresçam num palco ou numa passarela”.
Uma ideia do capo do Facebook e do Instagram é rechaçada ferozmente por Haidt: “Acho um absurdo que Mark Zuckerberg queira oferecer amigos artificiais às nossas crianças para aliviar a dor e o sofrimento da solidão causados por seus próprios produtos. Esses amigos de IA não foram testados em crianças. Eles são facilmente levados a conversas sobre sexo. Por enquanto deveriam ser apenas para adultos”.
Haidt afirma que até adultos têm reclamado dos tempos atuais. Eles falam em “atenção fragmentada” e “sensação de nunca estar completamente presente”.
“Estamos todos sobrecarregados. Essa nova luz digital é desumana. Interrupções constantes, conexões sociais demais para manter. Há, inclusive, evidências recentes de que todos, em todas as faixas etárias, estão achando mais difícil pensar”, disse ao “Globo”.
Na reportagem do “Estadão”, Haidt acrescenta: “É bem possível que toda a humanidade esteja ficando mais estúpida desde 2015, que é o período exato em que nossas máquinas passaram a ficar mais inteligentes”.
“Mesmo nas melhores universidades dos Estados Unidos, os alunos não conseguem mais ler”, afirma Haidt. Ele lamenta que “já precisa fazer adaptações nas aulas porque seus alunos não conseguem mais ler textos e livros indicados nos cursos” (“Estadão”).
O mestre americano frisa que “os universitários usam inclusive plataformas que transformam textos PDF em vídeos curtos para que consigam acompanhar o conteúdo com palavras e frases que piscam na tela” (“Estadão”).
Numa conversa com secretários de Educação, Haidt destacou que é um mito a ideia de que, quanto mais tecnologia, melhor será a aprendizagem. “Quanto mais tecnologia educacional você usar, menos as crianças vão conseguir fazer, por causa da distração. Não coloque um computador na mesa dos estudantes.”
O post Jonathan Haidt diz que o Brasil deve adotar legislação que proíba redes sociais para menor de 16 anos apareceu primeiro em Jornal Opção.