Uma pesquisa da Universidade Federal de Goiás (UFG) estudou os discursos do ex-presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), com o contexto da “pós-verdade”, cunhada pela primeira vez pelo dramaturgo sérvio Steve Tesich. A tese de doutorado do publicitário com bacharel em Direito, Leonardo Rezio, quis entender os efeitos das declarações do ex-gestor da República e como elas impactam na vida dos apoiadores.
No contexto original, a “pós-verdade” foi usada por estudiosos para qualificar a exposição da mídia na Guerra do Golfo, conflito que teve início no dia 2 de agosto de 1990 com a invasão do Kuwait pelo regime do iraquiano Saddam Hussein. De acordo com o dicionário de Oxford, a pós-verdade é um neologismo que descreve o fenômeno que ocorre quando a relevância de crenças pessoais e emoções é mais importante do que um fato ou o seu contexto.
A pós-verdade
Na sua criação, teóricos da sociologia criticavam os noticiários norte-americanos pela cobertura sensacionalista do conflito no Oriente-médio. De acordo com os estudiosos, na época, a exposição massiva de cenas da guerra junto com a presença dos repórteres ao lado do fronte poderiam deturpar o real contexto do confronto, e diminuir um conflito bélico entre as duas nações para uma para algo simples entre o “bem contra o mal”.
Um dos teóricos desta área foi o pesquisador linguista e ativista político Noam Chomsky que criticou a participação dos jornalistas nos três conflitos armados que os Estados Unidos da América (EUA) participaram no final do Século XX e início de Século XXI: a Guerra do Golfo (1990-1991), a Guerra do Afeganistão (2001-2021) e a Guerra do Iraque (2003-2011). A teoria do pesquisador ocorre dentro do livro “Manufacturing Consent: The Political Economy of the Mass Media” (Fabricação de Consentimento: A Economia Política da Mídia de Massa, em português).
Atualmente, o conceito foi usado por ativistas e pesquisadores para definir os discursos do então candidato à presidência dos EUA, Donald Trump, em 2016. Em 2018, o tema ressurgiu, mas desta vez na política brasileira para sinalizar as declarações do então candidato à presidência, Bolsonaro. O termo retorna novamente com a proeminência de ambas as figuras no cenário político nacional e internacional, sendo Trump o novo líder dos EUA e Bolsonaro como um dos principais instigadores da oposição ao Governo Lula (PT).
A pesquisa acadêmica
Com isso, Rezio fez uma análise do discurso do ex-presidente sobre a ótica da pós-verdade. Declarações como “conosco não haverá essa politicalha de Direitos Humanos” e “Brasil acima de tudo! Deus acima de todos!” foram exemplos dados pelo pesquisador para denotar o apelo emocional aos apoiadores conservadores.
Ainda segundo a tese, temas que são contrários ao movimento bolsonarista, como “aborto” e “feminismo” apareciam com conotação negativa, enquanto, “patriotismo”, “vida” e “família” eram associadas a valores bons e positivos. Segundo Rezio, esta associação conversa diretamente com o eleitor concervador cristão que Bolsonaro procurou alinhar.
“O apoio de grupos evangélicos, que valorizam a ‘família cristã tradicional’, foi crucial para Bolsonaro, e suas mensagens sobre temas como aborto e ‘ideologia de gênero’ mobilizaram esse eleitorado a seu favor”, afirmou Razio.
Outro ângulo da pesquisa de Rezio foi sobre como os discursos pós-verdade se alinham com o tema dos Direitos Humanos, que são alvo de desinformação. De acordo com o pesquisador, o público tende a se preocupar menos quando ocorre a simplificação dos direitos básico para medidas eleitoreiras.
Com informações do Jornal UFG.
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