A série The Last of Us, inspirada em um popular videogame, reacendeu o debate sobre o potencial de fungos causarem pandemias em humanos. Na trama, um fungo chamado Cordyceps sofre mutações devido ao aquecimento global, passa a infectar humanos e desencadeia um colapso global.
O cenário é aterrorizante, mas será que existe alguma base científica para essa possibilidade? A resposta é: não exatamente. O Cordyceps é um fungo real, mas na natureza ele infecta apenas insetos, e não há nenhuma evidência científica de que possa se adaptar para controlar organismos humanos.
No entanto, um estudo recente, conduzido por pesquisadores da Universidade de Manchester, da Escola de Medicina Tropical de Liverpool e do Centro de Ecologia e Hidrologia do Reino Unido, trouxe de fato um alerta importante sobre o impacto das mudanças climáticas no comportamento de fungos patogênicos.
A pesquisa viralizou nas redes sociais, muitas vezes sendo interpretada de forma equivocada como uma previsão de uma nova pandemia semelhante à da série. O estudo analisou como as mudanças climáticas podem favorecer a expansão geográfica de fungos do gênero Aspergillus, conhecidos por causar doenças tanto em seres humanos quanto em plantas.
Utilizando modelos matemáticos com dados de previsão de temperatura até o ano de 2100, os cientistas observaram que o aquecimento global pode tornar novas regiões do planeta mais propensas ao crescimento desses fungos.
Em resumo, locais antes considerados frios e hostis à proliferação fúngica podem se tornar ambientes ideais para esses microrganismos, enquanto outras áreas podem apresentar queda na incidência.
Apesar de os pesquisadores não mencionarem o Cordyceps nem sugerirem que fungos possam causar uma pandemia global como a da ficção, o alerta é real. Em um planeta cada vez mais quente, fungos patogênicos podem se adaptar e representar riscos maiores, principalmente para pessoas imunossuprimidas.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam que cerca de 6,5 milhões de infecções fúngicas são diagnosticadas por ano, resultando em aproximadamente 3,8 milhões de mortes.
Além disso, estima-se que 20% da produção global de alimentos se perca ainda antes da colheita devido a fungos, o que representa um impacto significativo na segurança alimentar.
Em regiões como a Austrália, por exemplo, a pesquisa projeta que, em um cenário climático extremo, a exposição ao Aspergillus pode aumentar de 5 milhões para até 16 milhões de pessoas.
Essa expansão territorial dos fungos não implica uma nova pandemia, mas reforça a necessidade de políticas públicas e maior investimento em pesquisa e monitoramento de doenças fúngicas.
Especialistas como Gustavo Henrique Goldman, professor da Universidade de São Paulo (USP) e membro da Academia Brasileira de Ciências, afirmaram ao G1 que o estudo não aponta uma ameaça imediata de pandemia, mas destaca um risco crescente que deve ser levado a sério.
Segundo ele, a elevação da temperatura global pode desorganizar ecossistemas e favorecer a disseminação de fungos em locais que antes não eram afetados. O problema é agravado pela escassez de medicamentos antifúngicos.
Em toda a última década, apenas quatro novos antifúngicos foram aprovados por agências reguladoras dos Estados Unidos, da União Europeia ou da China. O biotecnologista Daniel Dahis reforça que o estudo funciona como um cenário hipotético projetado para alertar sobre as possíveis consequências da inação diante das mudanças climáticas.
Para ele, distorcer o conteúdo científico, como alguns conteúdos nas redes sociais fizeram ao comparar o estudo com o enredo de The Last of Us, é perigoso, pois gera desinformação e prejudica a confiança na ciência.
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