Morre Martín Almada, responsável por descobrir arquivos da Operaçãoa Condor

O advogado, escritor e ativista paraguaio Martín Almada faleceu no sábado, 30 de março, aos 87 anos. Almada ficou conhecido por revelar os “Arquivos do Terror” do regime de Alfredo Stroessner (ditador paraguaio que governou o país entre 1954 e 1989), que incluíam documentos sobre crimes cometidos durante as ditaduras do Cone Sul na segunda metade do século XX.

Martín era um militante na resistência ao regime e foi preso em 1974 pelos agentes da ditadura paraguaia, permanecendo encarcerado por três anos, tempo em que sofreu torturas que quase o levaram à morte.

Ao ser libertado em 1977, Almada escreveu o livro Paraguay: la cárcel olvidada, el país en el exilio (“Paraguai: a Prisão Esquecida, o País no Exílio”) durante o período em que viveu como asilado político no Panamá. A obra conta detalhes das torturas vividas por ele e sua ex-exposa Celestina Pérez (falecida em prisão domiciliar) e levantou um debate internacional acerca dos direitos humanos. A repercussão gerou um convite para trabalhar na Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), entre 1986 e 1992.

Terror

Já de volta ao Paraguai, em 22 de dezembro de 1992, o Martín Almada descobriu no Departamento de Produções da Polícia Nacional, na cidade de Lambaré (a 7 km de Assunção), os chamados “arquivos do terror”, documentos policiais e militares que comprovaram os crimes da ditadura de Alfredo Stroessner e da Operação Condor – as ações realizadas em conjunto entre as ditaduras do Paraguai e do Brasil (1964-1985), Argentina (1976-1983), Chile (1973-1990) e Uruguai (1973-1985). A ata de fundação da Operação Condor, que estruturou a colaboração entre as cinco ditaduras do Cone Sul durante os anos 70 e 80 é um dos principais documentos da série.

Os arquivos encontrados representaram um avanço excepcional para as lutas pela Verdade, Justiça, Memória e Reparação em nível internacional. Eles facilitaram o processo contra o ditador chileno Augusto Pinochet, forneceram evidências de numerosos desaparecimentos forçados e execuções sumárias e permitiram revelar a magnitude da repressão aos movimentos sociais e políticos, às Ligas Agrárias Cristãs, aos intelectuais, aos sacerdotes e até aos militares institucionalistas, bem como a gênese do terrorismo de Estado vinculado à Guerra Fria.

Entre as consequências da descoberta estão a ratificação do Pacto de Direitos Humanos de San José de Costa Rica e a lei de indenização às vítimas, entre outras. Esses milhares de documentos contribuíram para a criação da Comissão de Verdade, Justiça e Reparação, anos mais tarde.

Esse trabalho rendeu a Martín o prêmio Right Livelihood, entregue no ano de 2002.

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