Livro do islandês Jón Kalman Stefánsson sugere que, sem pecado, não há vida

Carlos Willian Leite

Vigésimo (20º) livro lido em 2024: “Paraíso e Inferno” (Companhia das Letras, 200 páginas), do islandês Jón Kalman Stefánsson.

“As horas são numerosas, e o relógio quase nunca mede o tempo que passa dentro de nós, a verdadeira duração da vida. Por causa disso, muitos dias podem caber em poucas horas, e vice-versa; muitos anos podem ser uma medida incerta da vida de um homem. Aquele que morre com quarenta anos talvez tenha, na verdade, vivido muito mais do que aquele que morre aos noventa.”

Em um lugar praticamente esquecido pelo mundo, dois amigos, um jovem pescador chamado apenas de “o menino” e seu amigo Bárður, embarcam em uma expedição de pesca ao bacalhau a bordo de um pequeno barco. O que inicialmente parece um dia comum de trabalho rapidamente se transforma em uma luta desesperada pela sobrevivência. Enfrentando a fúria do mar, os membros da embarcação são postos à prova, transformando um rotineiro dia de mar em um angustiante combate pela vida.

Jón Kalman Stefánsson: escritor islandês | Foto: Reprodução

Absorto na leitura de “Paraíso Perdido”, do poeta britânico John Milton, livro que pegou emprestado de um velho capitão, Bárður esquece sua capa de chuva. Essa desatenção acaba custando sua vida. A perda de Bárður afeta profundamente o menino, principalmente ao constatar a apatia dos outros marinheiros frente à morte de seu único amigo.

Consumido pelo luto e pela culpa, o menino decide deixar sua aldeia e parte em uma jornada solitária pelas montanhas geladas da Islândia, determinado a entregar o livro de Milton ao antigo capitão, a quem culpa pela morte de Bárður.

Consciente dos perigos, o menino está resoluto em encarar um destino que poderia espelhar a trágica sorte de seu amigo. No entanto, ao se integrar à vida da distante e fria comunidade, ele experimenta uma mudança profunda: percebe que existe vida além do sofrimento.

“O que é bom, o que é branco e completamente reto fica cansativo depois de algum tempo. Sem pecado, não há vida.”

Nota: 9,5

Carlos Willian Leite, poeta, jornalista e crítico literário, é editor da “Revista Bula”.

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