O demolidor de presidentes que virou aliado de ex-presidentes

No YouTube tem um vídeo com uma entrevista de Carlos Lacerda para a TV Tupi de São Paulo, em 1967. Ele tinha acabado de chegar do Uruguai onde se encontrou com o ex-presidente João Goulart para formar a Frente Ampla. O repórter perguntou se Lacerda ganhou mais ou perdeu mais no encontro com Jango. “Não sei se ganhei mais ou se perdi mais, só sei que o Brasil ganhou. O meu encontro com o Dr. João Goulart vem trazer novas forças, milhares de trabalhadores passam a compreender aquilo que, para o nosso lado, nós compreendemos”.

Políticos e militares ficaram atônitos com a nova movimentação que Lacerda fazia. Rompido com o governo, ele decidiu apostar tudo em uma aliança com seus antigos adversários. Um ano antes do encontro com Jango, Lacerda se encontrou com Juscelino Kubitschek. Quem diria o demolidor de presidentes construindo pontes com os ex-presidentes. Muita gente não gostou dessa postura. Um jornalista do Última Hora lembrou de Getúlio Vargas e dos ataques de Lacerda ao velho ditador e a Jango. Jânio Quadros também foi convidado para integrar a Frente Ampla, mas não demonstrou interesse. Vale destacar a atuação de Renato Acher na articulação entre Lacerda e os ex-presidentes.

Eu não sei se Lacerda e Jango se tornaram amigos como aconteceu com Juscelino Kubitschek. Acredito que o exílio do presidente deposto fosse um empecilho para uma aproximação mais duradoura. Após os encontros com Jango e JK, Lacerda concedeu uma entrevista e leu dois manifestos em favor da democracia e em defesa das lideranças civis. A Frente Ampla foi fechada pelo Ministério da Justiça em abril de 1968.

Os três não viram a redemocratização, mas há quem diga que a ampla aliança costurada por Tancredo Neves na década de 1980 e que acabou com a ditadura foi um fruto da Frente Ampla.

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