Ditadura, 1968: cerco à Catedral de Goiânia resultou em jovens feridos

A jovem Lúcia Jayme fazia suas orações na Catedral Metropolitana de Goiânia naquela manhã de 2 de abril de 1968. Filha do procurador do Estado, José Sizenando Jayme, Lúcia Jayme talvez estivesse rezando pela alma do estudante Edson Luís, assassinado pela Polícia Militar carioca no Restaurante Calabouço dias antes. A morte daquele estudante abalou o país e seu velório foi o mais comovente que o Rio de Janeiro já viu desde a morte de Getúlio Vargas em 1954. As avenidas da antiga capital federal ficaram lotadas de gente protestando contra o assassinato de um menino inocente.

Na edição vespertina do jornal “Última Hora” do dia 4 de abril de 1968, a foto de Lúcia Jayme deitada em uma cama com um tornozelo enfaixado apareceu na primeira página. Ela estava na Catedral quando a Polícia Militar invadiu a nave da igreja dispostos a prender os estudantes que ali se reuniam. Nem mesmo a autoridade de Dom Fernando Gomes dos Santos, arcebispo de Goiânia, foi respeitada. Policiais à paisana, que estavam disfarçados juntos aos estudantes, usaram de violência contra os manifestantes. Teve policial que atirou em quem estava dentro do templo. Os tiros acertaram dois jovens. Telmo Faria foi atingido nas costas e Lúcia Jayme num tornozelo. Monsenhor Nelson Rafael viu toda aquela violência e tentou ligar para as autoridades no intuito de cessar o conflito.

Dom Fernando escreveu um telegrama para o presidente Arthur da Costa e Silva relatando o ocorrido. Os jovens estavam reunidos do lado de fora da Catedral e o arcebispo os reuniu dentro do templo para convencê-los a voltar para casa dentro da ordem. Mas qual jovem queria voltar para casa enquanto a revolução estava nas ruas e a missa de sétimo dia de Edson Luís se aproximava. Como se não bastasse a violência contra os jovens, jornalistas que cobriram a repressão militar também foram alvos da violência. Fotógrafos tiveram suas máquinas apreendidas. Boa parte da imprensa que aplaudiu o golpe de 1964, quatro anos depois estava sofrendo as represálias dos governos militares.

Era só o começo do ano de 1968. A violência contra os jovens, o cerco à oposição e as igrejas, culminaria no Ato Institucional número 5. Quando a ditadura ficou escancarada, rezar, como fez a jovem Lúcia Jayme, era um ato perigoso.

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