O que é importante para o Brasil?

As manchetes dos principais jornais do dia em que escrevo estas linhas apontam para os mais diversos assuntos, muitos deles com declarações das autoridades mais graúdas, outros levantados pelas próprias redações. Exemplos:

– Possível ida de Aloisio Mercadante para a presidência da Petrobrás (imposição petista)

– Provável Cassação de Sergio Moro

– Convocação de Bolsonaro para nova concentração (no Rio de Janeiro, a 21 deste mês)

– Invasão da Embaixada Mexicana pela polícia do Equador

– Duelo Elon Musk versus Alexandre de Morais

– Morte do cartunista Ziraldo

– Presença do ministro Luís Roberto Barroso em encontro na Universidade de Harvard

Uma pergunta pertinente: esses assuntos são importantes para a sociedade brasileira agora? A resposta negativa salta aos olhos se atentarmos para o que nos aflige mais, no momento, como cidadãos brasileiros. Nas manchetes, esses assuntos aflitivos não estão presentes, e não surgem como provocação da imprensa ou preocupação das autoridades maiores. São um não-assunto, mas não deveria ser assim.

Quais os assuntos que deveriam estar em discussão nacional? – Perguntará o leitor. Os que mais afetam o cidadão comum, é a resposta. Aquele cidadão que não tem os confortos, às vezes até luxuosos, de que desfrutam as elites à custa do erário. Os assuntos que deveriam levar a providências para atenuar carências de quem trabalha duro e paga em dia seus impostos, de quem cumpre as leis e aspira um país evoluindo para melhor qualidade de vida. Assuntos de Educação, Saúde e Segurança. Exemplos:

O ensino brasileiro está hoje entre os piores do mundo, nos três níveis, dizem os organismos internacionais de avaliação. Já falamos mais de uma vez, neste espaço, do desempenho brasileiro nas avaliações do PISA – Programa Internacional de Avaliação de Alunos, criado pela OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que avalia ensino básico e médio. Algo de causar vergonha, indesculpável mesmo. E que se reflete no ensino superior, com graves consequências para nossa sociedade: por exemplo, no ensino médico deficiente, levando ao mau atendimento, erros médicos e mortes. Um levantamento feito no ano passado sobre as universidades do mundo todo, deveria ser um dos assuntos a levar imprensa e autoridades brasileiras a um debate. The Times Higher Education World University Ranking usa critérios como qualidade de pessoal docente, qualidade de pesquisa, conceito no mercado de trabalho, procura por alunos do exterior, relação docente/aluno e outros para qualificar uma universidade. A última avaliação, de 2023, lista as 100 melhores universidades do Globo. Quantas brasileiras surgem na lista? Nenhuma. Mas só estão ali universidades do Primeiro Mundo, poderia alguém alegar. Nada disso! A Argentina, nossa vizinha submersa em dificuldades tem uma universidade na lista. China, Rússia e Malásia, países de renda per capita equivalente à nossa têm universidades entre as 100 melhores. Hong Kong e Taiwan, nações insulares asiáticas, de população bem inferior à nossa, também têm. Hong Kong, que tem 7 milhões de habitantes, trinta vezes menos que o Brasil, tem 5 universidades nesse conjunto das 100 melhores. A Austrália tem 6 universidades e a Coréia do Sul tem 5, entre as 100. E a Coreia do Sul, na década de 1970, tinha renda per capita inferior à nossa. O que fizeram os coreanos para desenvolver seu país? O que não fizemos: investir seriamente na Educação. Esse, um assunto que deveria estar nas discussões nacionais, provocado principalmente por nossas autoridades educacionais, inteiramente omissas. O ministro da Educação sabe disso? Não parece. Aliás, como é mesmo o nome dele?

Entre uma dezena de deficiências na Saúde, facilmente identificáveis, uma é particularmente grave: a falta de UTIs – Unidades de Terapia Intensiva em nossos hospitais. Todos conhecemos, ou temos alguém próximo que quase pereceu ou mesmo morreu por falta de UTI. Acontece todos os dias. É dado pelos estudiosos que deve existir um mínimo de três UTIs para cada mil habitantes. O ideal seria cinco. Fiquemos em quatro. Para atingir essa média desejável, deveríamos ter 85 mil leitos. Temos a metade. Para instalarmos mais 30 ou 40 mil leitos de terapia intensiva, o dispêndio seria próximo de 1 bilhão de dólares, o que Lula e Dilma – eu já disse isso aqui – deram de presente à ditadura cubana para construção do Porto de Mariel. Mas o problema não é só a montagem dos leitos. Faz-se necessário o pessoal médico adequado para operá-los, o que se consegue de maneira deficiente com o ensino superior que temos aqui – e tudo corre de volta para o problema educacional. Nenhuma autoridade parece se preocupar com isso – nem mesmo a ministra da Saúde.

O Brasil é um dos países mais inseguros do Mundo. Muitos assassinatos, destaque mundial em feminicídios, organizações criminosas poderosíssimas, posição geográfica desfavorável (cercado de produtores de drogas). Além disso, muita impunidade por parte de uma justiça leniente e de uma imprensa de baixa qualidade, tomada pela ideologia. Na madrugada deste mesmo dia em que escrevo, dois caminhões fortes e um caminhão de armas foram assaltados no interior de São Paulo, o que mostra nossa insegurança e a força do crime organizado. Mas a Segurança não está nas preocupações de nossas autoridades, muito mais preocupadas com as armas dos atletas do Tiro Esportivo. O ministro da Justiça, um petista raiz desde os tempos de juiz, parece não atentar para a seriedade da questão. Ou não consegue lidar com ela. Afinal, enredou-se todo com um problema pontual, a fuga de dois presos de uma prisão federal, como vimos dias atrás. Se o Governo quisesse mesmo combater o crime organizado, teria um nome para fazer a diferença: o promotor paulista Lincoln Gakiya, a pessoa que mais conhece do assunto no Brasil. Mas nunca seria convidado – não é “cumpanhêro”. Quem dera pudéssemos manter o povo brasileiro tal como é, trabalhador e ordeiro, e trocar a elite dos três poderes!

Irapuan Costa Junior                                18 de abril de 2024

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