Conflito Irã x Israel: Demarcação de território ou preâmbulo de uma crise global?

Recentemente, o mundo assistiu – atônito! – o ataque deliberado do Irã contra Israel, em uma guerra que a princípio parece ser aleatória, mas que pode ir muito adiante. Esse ataque pode ser o prenúncio de uma guerra generalizada, uma vez que é possível que as maiores nações do planeta estejam a caminho da tão temida terceira guerra mundial.

Na noite do dia 13 de abril de 2024, um grande número de drones e mísseis foram lançados pelo Irã com destino a Israel. Segundo o governo iraniano, a investida foi uma retaliação a um ataque israelense a um complexo diplomático iraniano localizado na Síria. Foram mais de 300 projéteis, incluindo drones e mísseis balísticos disparados contra a nação israelita. Forçoso dizer que o evento só não foi pior porque não houveram vítimas fatais. Cerca de 99% das armas teleguiadas foram interceptadas pelos sistemas de defesa aérea de Israel e seus parceiros, entre os quais, Estados Unidos e Reino Unido, que mantém bases militares – não apenas em bases no território Israelense – como também, na Síria, Arábia Saudita, Kwait, Cisjordânia, entre outros países do mundo árabe.

Faltou dizer que essa ação, no entanto, marcou a primeira vez que a república islâmica lançou um ataque direto a Israel a partir do seu solo, representando um grave e perigoso capítulo no crescente e histórico conflito no Oriente Médio. O relacionamento entre Irã e Israel é antigo e marcado, ora por tempos de paz, ora por rivalidades e tensões. Até 1979, as relações entre os dois países eram bastante cordiais, tendo sido o próprio Irã o segundo país islâmico a reconhecer Israel após sua criação em 1948. Essa “amizade” era uma forma de combater a rejeição ao novo estado judeu, por seus vizinhos árabes.

Tudo mudou, entretanto, com a revolução islâmica ocorrida em 1979, liderada pelo Aiatolá Khomeini, quando o Irã se tornou uma república islâmica que rejeitava o imperialismo americano. Por consequência, passou a considerar Israel como um aliado dos Estados Unidos em território árabe. Segundo historiadores, o fundamentalismo iraniano passou a considerar Israel como “pequeno Satanás” enquanto os Estados Unidos eram o “grande Satanás”. Os líderes iranianos passaram a desejar que ambos, tanto americanos quanto judeus israelenses, desaparecessem da região. Por sua vez, Israel acusou o Irã de financiar grupos terroristas e de realizar ataques contra seus interesses, movidos pelo antissemitismo dos aiatolás. Essa rivalidade resultou em um grande número de mortes, muitas vezes em ações secretas, em que nenhum dos governos admite responsabilidade. Uma espécie de guerra fria regional.

A recente guerra em Gaza intensificou ainda mais as tensões entre os dois países, uma vez que o Irã apoia grupos militantes palestinos, enquanto Israel vê o Irã como uma ameaça existencial. Uma coisa é certa: viver na região é como estar vivendo sobre um barril de pólvora, no qual o povo não tem culpa de nada e, ainda assim, é quem normalmente paga o preço com a vida.

Pois bem. Em conversa telefônica com o primeiro-ministro de Israel, o presidente dos Estados Unidos Joe Biden reiterou o compromisso firme da América com a segurança de Israel. Contudo, avaliando o fato de que grande parte dos ataques iranianos foi interceptado pelas forças israelenses, restou claro a notável capacidade de defesa do país. É fato notório que o Irã apoia qualquer grupo islâmico que se oponha a Israel, entretanto, o país nega sua participação em relação à invasão do grupo terrorista Hamas, que deu origem ao conflito armado dos últimos meses.

Sem dúvidas, o mundo todo estremeceu e ainda continua amedrontado, uma vez que a conduta do atual presidente dos Estados Unidos é comedida. Apesar da declarada parceria com Israel, os EUA já decidiram que não intervirão nos ataques de forma direta. O que podem fazer – como já estão fazendo – é ajudar o país judeu na defesa do seu território. Por sua vez, a França, que já sofreu com diversos ataques terroristas e atentados que resultaram em centenas de vítimas fatais, assim como a Alemanha, Dinamarca, Noruega e outros países da União Europeia, também estão temerosos com o desfecho da batalha. Todos eles têm afirmado apoiar o direito de Israel de se defender, criticando o Irã por suas demonstrações de desrespeito pela paz e estabilidade na região. Ao mesmo tempo, conclamam a comunidade internacional a mobilizar esforços para evitar uma escalada no conflito.

É preocupante, no entanto, o silêncio dos países aliados do Irã, como China e Rússia. Em que pese esse último ter expressado extrema preocupação com escalada das tensões entre os dois países do Oriente Médio, o presidente Vladimir Putin se limitou a sugerir bastante cautela ao presidente iraniano Ebrahim Raisi, logo após os ataques israelenses ao consulado iraniano na capital Síria, Damasco, em 1° de abril de 2024. Logicamente, o Kremlin também está monitorando as medidas retaliatórias tomadas pelo Irã, no entanto, é importante notar que a Rússia não deseja uma guerra total entre Israel e o Irã. É que se a situação se deteriorar, os Estados Unidos certamente apoiariam fortemente Israel. Neste caso, a Rússia poderia ser forçada a se alinhar ao Irã. É evidente que a Rússia tem interesses regionais no Oriente Médio, mas também é fato está muito ocupada com seus próprios problemas, como a guerra na Ucrânia e a sua estabilização financeira. Segundo dados oficiais do próprio Kremlin, sua economia já está comprometida acima dos 30% com a guerra contra a Ucrânia.

Por fim, faltou dizer que para a China também não é interessante entrar nesta questão. Primeiro, porque experimenta um “boom” econômico invejável a qualquer país emergente. Desde então, tem tentado manter a seriedade nos negócios internacionais. Ela mantém relações comerciais significativas com Israel e ambos os países mantém colaboração em áreas como tecnologia ciência agricultura e infraestrutura. Os chineses importam produtos israelenses, entre os quais, equipamentos de alta tecnologia e produtos agrícolas e, ainda, investem em empresas de tecnologia israelenses. Uma eventual guerra poderia prejudicar esses laços econômicos e afetar negativamente a economia chinesa. Em caso de um conflito generalizado, o cenário pioraria para os chineses que veriam a linha de seu gráfico de crescimento cair, ao invés de se manter estável como vem ocorrendo.

Por todas essas condições, ainda não é possível dizer que, ao acender este estopim, o Irã pode provocar a terceira guerra mundial. Todas estas circunstâncias expostas são relevantes, mas talvez não sejam suficientes para culminar com uma guerra generalizada. É preciso reconhecer que os interesses econômicos entre as grandes potências mundiais sempre geraram conflitos, mas esse parece não ser o caso, pelo menos por enquanto. O custo para entrar nesse conflito seria alto e traria mais malefícios do que benefícios a todos envolvidos.

As grandes potências mundiais consideraram que o ataque do Irã, eficientemente aniquilado por Israel, tratava-se apenas de um pequeno conflito regional e fundamentalista, que não resultou em danos de grandes proporções. Preocupados com suas próprias questões, os países mais poderosos do mundo preferiram fazer “vistas grossas”, considerando, salvo melhor juízo, que essa pequena batalha no oriente médio foi apenas demarcação de território e demonstração de forças. Uma “briga de vizinhos” apenas. Insuficiente, no entanto, para envolvê-los econômica e balisticamente.

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