Apenas 20% dos pré-candidatos nas capitais são mulheres

Nas eleições de 2024, as mulheres são apenas 1 em cada 5 pré-candidatos às prefeituras das capitais. Ao menos 172 pré-candidatos são cotados para concorrer à prefeitura nas capitais dos 26 estados, segundo apontou levantamento da Folha. Destes, apenas 37 são mulheres, o equivalente a 20% do total. Mesmo com os incentivos da Justiça Eleitoral por mais diversidade de gênero, o avanço das candidaturas femininas tem como entraves as máquinas partidárias, pressão por anistias, disputas internas e negociações de alianças.

O PT é o partido com mais pré-candidaturas femininas nas capitais. Dez mulheres se apresentaram para a disputa, sendo 5 com os nomes já definidos: Adriana Accorsi (Goiânia), Camila Jara (Campo Grande), Natália Bonavides (Natal) e Candisse Matos (Aracaju) e Maria do Rosário (Porto Alegre). Em Goiás, as mulheres ocupam 35,3% das cadeiras na Câmara dos Deputados, porém nas Câmaras de Vereadores o número cai para apenas 14,3%, segundo dados do IBGE. Em relação às prefeitas eleitas em 2020, os dados do TSE mostram que dos 246 prefeitos no estado, apenas 34 são mulheres, representando 13,8%.

Uma das 5 vereadoras eleitas na Câmara Municipal de Goiânia, Aava Santiago (PSDB) explica sobre os principais obstáculos enfrentados por uma mulher hoje na política goiana. “O poder é predominantemente masculino em sua hegemonia. Não me refiro apenas ao poder político, mas também ao poder simbólico, social e econômico”, afirma. Para a vereadora, a política é uma manifestação do poder, e assim como o poder é predominantemente pensado de maneira masculina, a política também o é.

“O poder não é algo compartilhado; sua estrutura é projetada para ser mantida. Portanto, aqueles que detêm o poder trabalham para permanecer nele, para perpetuar sua posição e garantir que seus sucessores também permaneçam no poder”, analisa Aava Santiago.

Sendo assim, a entrada das mulheres na política, ocupando cargos eletivos, inevitavelmente enfrenta resistência e desafia a manutenção da estrutura de poder estabelecida. Quando uma mulher ameaça o poder estabelecido, a resposta geralmente é uma reação que pode variar de uma abordagem amigável a uma mais incisiva. Como o poder é predominantemente estruturado, mantido e exercido por homens, a presença de mulheres pode ser vista como uma ameaça à ordem estabelecida.

Segundo a vereadora, quando mulheres decidem ingressar nesse espaço dominado por homens e disputar o poder, enfrentam diversos tipos de reações. “Essas reações podem incluir desde tentativas de marginalização e desqualificação até formas mais sutis de discriminação e exclusão. Em alguns casos, as mulheres podem receber feedbacks positivos ou encorajadores superficialmente, mas que mascaram uma resistência subjacente”, pontua Aava.

Para ela, o processo de tomada de poder é central quando se fala em empoderamento, especialmente no contexto das mulheres. “O termo ’empoderamento’ ganhou destaque na última década, mas o que ele realmente significa? Empoderamento não se resume a simplesmente sentir-se poderoso; trata-se de tomar ativamente o poder. Essa busca por poder, no entanto, enfrenta uma forte reação por parte das estruturas de poder estabelecidas, que são predominantemente masculinas”, continua a vereadora. Como parlamentar, ela conta que já sofreu diversas formas de violência política de gênero, inclusive de colegas vereadores.

Essa reação virulenta do poder estabelecido tem raízes profundas na engenharia social que historicamente manteve as mulheres subjugadas e desfavorecidas. Essa engenharia social inclui uma variedade de mecanismos, desde normas culturais e expectativas de gênero até instituições e práticas que reforçam a desigualdade de gênero.

Mulheres são frequentemente submetidas a uma carga desproporcional de trabalho não remunerado, enfrentam discriminação no mercado de trabalho e são subrepresentadas em cargos de liderança e poder. “Existe um plano de fundo muito brutal que alcança a exaustão das mulheres. Todas as mulheres estão exaustas”, explica a vereadora.

“Todas as mulheres estão exaustas”

“As mulheres estão exaustas porque nós somos ensinadas a sobreviver em um mundo que nos odeia. Então, você ouve da sua mãe, quando você tem três anos de idade, que você precisa botar uma blusa porque o amigo do seu pai está indo na sua casa. Aí, com quatro, cinco anos, você já começa a ajudar a sua mãe a servir seu pai e seu irmão mais velho. Em seguida, começa a ajudar a sua mãe, que também está cansada, nas funções de casa, e assim por diante”, exemplifica a vereadora.

Enquanto isso, os homens continuam conquistando o mundo. Eles prosperam porque geralmente não enfrentam os mesmos obstáculos ou embaraços em suas jornadas. Praticamente todas as mulheres, em algum momento, receberam conselhos de suas mães e aprenderam táticas básicas de sobrevivência. “Em uma sociedade que mantém mulheres exaustas, essas mulheres não têm condições, não têm musculatura, não têm saúde física e mental para disputar o poder”.

Ela explica que além de termos poucas mulheres na política, a maioria das mulheres atuantes na política goiana ainda representam legados masculinos. Isto é, simbolizam pautas e demandas de seus pais, maridos ou respectivos companheiros. “É simples, na verdade. Em 2018, se eu não tivesse me candidatado a deputada estadual, provavelmente estaria agora fazendo campanha para um homem. Mas eu fui em frente, recebi 3 mil votos em 2020 e fui eleita. Se não tivesse sido candidata em 2018, não teria sido em 2020, pois naquela época meu filho tinha 1 ano e meio”, explica Aava.

Então, ela conta que ouviu novamente: ‘Meu Deus, que loucura! Você vai pedir votos com uma criança de 1 ano e meio no colo?’. “Sempre é uma loucura, nunca é o tempo certo. Isso faz com que as mulheres desistam antes mesmo de se candidatarem. Por isso, digo que a candidatura de mulheres nunca é o ponto de partida, é sempre o resultado. Se uma mulher decide ser candidata, já é o resultado de uma jornada de negações, privações e violência, dentro e fora dos partidos políticos, tanto de direita quanto de esquerda”.

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