Formação de Sargentos: uma comparação entre Brasil e Estados Unidos

*Antônio Caiado

A comparação entre a formação de sargentos no Exército Brasileiro e nos Estados Unidos revela diferenças significativas e semelhanças fundamentais em suas abordagens para o desenvolvimento de lideranças não comissionadas. Ambos os sistemas buscam preparar seus graduados para lidar com as complexidades do ambiente operacional moderno, enfatizando a liderança, a competência técnica e o desenvolvimento profissional contínuo.

No Brasil, a formação de sargentos é conduzida principalmente pela Escola de Sargentos das Armas (ESA), com um curso dividido em três fases que incluem adaptação à vida castrense, aprofundamento em áreas específicas e um estágio profissional supervisionado. A ESA enfatiza a assimilação de valores militares, a liderança e a capacitação técnica específica da arma, com benefícios durante a formação que incluem ajuda de custo, moradia, alimentação e assistência médica​​​​.

Nos Estados Unidos, a educação e o treinamento dos Noncommissioned Officers (NCOs) passam por um sistema profissional de educação militar (PME) que inclui cursos tanto presenciais quanto à distância. O sistema é estruturado em vários níveis, começando com o Basic Leader Course (BLC) e avançando através do Advanced Leader Course (ALC), Senior Leader Course (SLC), Master Leader Course (MLC), até o Sergeant Major Course (SMC), cada um projetado para preparar NCOs para liderança em diferentes níveis da organização. Essa estrutura é complementada pelo Nominative Leader Course (NLC) para preparação em liderança estratégica​​.

Ambos os sistemas refletem a importância da educação contínua e do desenvolvimento de liderança, com o sistema americano apresentando uma abordagem mais estratificada e formalizada para o desenvolvimento de carreira dos NCOs. Nos EUA, o foco está em alinhar o treinamento e a educação às necessidades de liderança em todos os níveis, integrando aprendizado institucional, auto-desenvolvimento e experiência operacional. Este enfoque é evidente na reestruturação do sistema de PME para NCOs, visando uma educação mais eficiente e alinhada com as demandas de liderança atuais​​.

Uma diferença notável é a adaptação às mudanças tecnológicas e operacionais do ambiente de segurança, com os EUA implementando o NCOPDS (Noncommissioned Officer Professional Development System) para integrar de maneira mais eficaz o treinamento, a educação e a experiência dos NCOs. Este sistema visa fornecer um continuum de aprendizado que prepara os NCOs para desafios complexos, promovendo um desenvolvimento profissional abrangente desde o início até os níveis mais altos de liderança estratégica​​.

Apesar das diferenças estruturais e de foco em certos aspectos do treinamento e educação, ambos os países compartilham o objetivo comum de desenvolver líderes não comissionados altamente competentes, capazes de liderar com eficácia em um ambiente operacional dinâmico e desafiador. A ênfase na liderança, desenvolvimento profissional contínuo e a integração de conhecimentos técnicos e táticos são fundamentais em ambos os sistemas, refletindo a importância global da função dos sargentos como líderes cruciais dentro de suas respectivas forças armadas.

Nos Estados Unidos, a evolução da formação de NCOs reflete uma adaptação às demandas de um ambiente operacional cada vez mais complexo e tecnologicamente avançado. O sistema de PME (Professional Military Education) para NCOs, particularmente através do Noncommissioned Officer Professional Development System (NCOPDS), tem enfatizado o desenvolvimento de competências que transcendem o domínio técnico e tático tradicional, incluindo habilidades de liderança adaptativa, capacidade de tomar decisões complexas e competências interpessoais avançadas​​​​. A inclusão do curso de Master Leader e a possibilidade de obtenção de graus acadêmicos através de programas como o oferecido pelo U.S. Army Sergeant Major Academy (USASMA) ilustram a busca por uma formação que prepare os NCOs não apenas para desafios militares, mas também para uma liderança efetiva em um contexto amplo e variado​​.

No Brasil, a formação de sargentos pela ESA e outras instituições militares tem sido tradicionalmente focada na excelência técnica e física, com grande ênfase nos valores militares e na disciplina. No entanto, recentes desenvolvimentos indicam uma expansão desse enfoque para incluir habilidades de liderança mais sofisticadas, gestão de recursos e entendimento estratégico. A importância da formação contínua, evidenciada pela possibilidade de cursos de especialização e atualização, ressalta o reconhecimento das Forças Armadas Brasileiras da necessidade de seus líderes não comissionados possuírem uma visão abrangente e adaptabilidade, em adição às competências tradicionais​​​​.

A comparação entre os sistemas de formação dos dois países revela uma tendência global na evolução da formação militar: a transição de um modelo focado quase exclusivamente em competências físicas e técnicas para um que abrange uma gama mais ampla de habilidades, incluindo liderança adaptativa, pensamento crítico e capacidade de gestão. Essa mudança reflete os desafios impostos por conflitos modernos, que exigem dos militares não apenas excelência física e técnica, mas também a habilidade de liderar em ambientes complexos e incertos.

Além disso, ambos os países reconhecem a importância da saúde mental e do bem-estar de seus militares, integrando programas de suporte psicológico e de desenvolvimento pessoal em suas estruturas de formação. A conscientização sobre a saúde mental e a resiliência tem se tornado uma parte crucial da preparação dos NCOs, equipando-os não apenas para liderar com eficácia, mas também para cuidar de suas equipes em todos os aspectos.

Em conclusão, a formação de sargentos no Brasil e nos Estados Unidos continua a evoluir em resposta às demandas contemporâneas. Ambos os sistemas estão se adaptando para fornecer uma educação que prepara os NCOs para serem líderes efetivos em um espectro amplo de desafios militares e não militares, enfatizando a importância de uma abordagem holística que inclui desenvolvimento técnico, físico, intelectual e emocional.

Antônio Caiado | Foto: Acervo Pessoal

*Antônio Caiado é brasileiro e atua nas forças armadas dos Estados Unidos desde 2009. Atualmente serve no 136º Maneuver Enhancement Brigade (MEB) senior advisor, analisando informações para proteger tropas americanas em solo estrangeiro.

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