Polarização direita x esquerda se estende à tragédia no Sul e atrapalha ajudas efetivas

Em um cenário de calamidade de proporções imensas, um ministro entra em contato com o prefeito de uma cidade devastada e ambos decidem filmar a conversa, que ocorre via viva-voz. No entanto, o propósito não é puramente humanitário. Cada um busca capitalizar politicamente a situação, transmitindo frases impactantes para suas bases nas redes sociais.

O prefeito de Farroupilha, Fabiano Feltrin, conhecido empresário e cover de Elvis Presley, recentemente filiado ao PL em um evento com Jair Bolsonaro, recebe a ligação do ministro Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicação Social, agora também encarregado do Ministério Extraordinário de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul, escolhido por Lula.

Enquanto publicamente o presidente Lula (PT) e o governador Eduardo Leite (PSDB) mantêm uma postura cooperativa para lidar com a tragédia, nos bastidores a máquina de manipulação de opinião opera implacavelmente, atacando políticos, jornalistas, e até mesmo voluntários.

Uma pesquisa recente da Quaest destaca a polarização da sociedade brasileira, refletida também na crise no Rio Grande do Sul. Enquanto a população expressa desconfiança em relação aos principais nomes políticos, há uma considerável parcela disposta a votar em candidatos que rejeitam.

A divisão da sociedade brasileira se fez evidente na tragédia do Rio Grande do Sul, desde a procura por culpados pelos alagamentos – desencadeados, em grande parte, pelo volume de chuvas que atingiu 40% da média anual em apenas 17 dias – até a análise crítica sobre os motivos que levaram simpatizantes de diferentes espectros políticos a se engajarem no auxílio às vítimas.

O papel de coordenador da ajuda federal na tragédia força Pimenta a abandonar sua postura combativa e adotar uma abordagem mais diplomática, tendo que lidar com prefeitos de diferentes espectros políticos na reconstrução.

A disputa por visibilidade também se manifesta no resgate dramático do cavalo Caramelo, em Canoas, como bem lembrou Paulo Celso Pereira do Globo. As primeiras aparições do animal surgiram na tarde da última quarta-feira, 8. No dia seguinte, ao amanhecer, a primeira-dama Janja Lula da Silva anunciava entusiasticamente nas redes sociais a mobilização do Exército para resgatá-lo.

Nas horas seguintes, as Forças Armadas transmitiram ao vivo a movimentação dos militares, caminhões e helicópteros para a operação. Contudo, momentos após o início da missão, a TV começou a exibir um pequeno grupo de bombeiros se aproximando do cavalo. Eles o colocaram em um dos botes e navegaram até a terra firme.

Na corrida para salvar Caramelo, o Corpo de Bombeiros de São Paulo chegou primeiro. O secretário de Segurança paulista, Guilherme Derrite, conhecido por suas posições extremistas e por se vangloriar de “tirar vagabundos de circulação”, foi quem ergueu o troféu nas redes sociais.

Não muito longe do local onde o cavalo foi resgatado, dois outros equinos, que ainda não tinham sido batizados por influenciadores, lutavam para sobreviver dentro de uma casa inundada, com a água alcançando seus pescoços.

Quando a equipe de resgate finalmente chegou ao local, horas depois do salvamento de Caramelo, os dois já estavam sem vida. Nas redes sociais de Janja e Derrite, nenhum sinal de reconhecimento.

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