Imunização contra HPV em Goiás esteve abaixo de 30% por nove anos; nova dose única pode elevar cobertura

No estado de Goiás, a taxa de cobertura vacinal contra o papilomavírus humano (HPV) em meninas pré-adolescentes se manteve entre 12,3% e 30% de 2014 a 2022. Mesmo no ano de mais meninas vacinadas com a segunda dose da vacina, em 2015, a taxa de manteve muito abaixo da meta de 80% estabelecida pelo Ministério da Saúde (MS). É o que revela estudo de pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG) publicado na revista científica “Epidemiologia e Serviços de Saúde”.

De 2014 a 2022 foram aplicadas 407.217 segundas doses da vacina quadrivalente contra HPV na população feminina entre 10 e 14 anos em Goiás. As maiores taxas de cobertura vacinal são dos anos de 2015 e 2014, com 30% e 29,8%, enquanto a menor taxa é de 2019, de 12,3%. Em 2022, ano mais recente do levantamento, a taxa de cobertura foi de 13,2%.

A pesquisa coletou dados de segundas doses de vacinas contra HPV aplicadas em meninas de 10 a 14 anos do estado de Goiás no período de 2014 a 2022 do Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do DataSUS. A taxa de cobertura vacinal foi calculada a partir do número de vacinados em relação à população desse público-alvo no estado, com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A baixa cobertura vacinal contra o HPV é uma realidade global, principalmente nos países subdesenvolvidos. Assim, os pesquisadores já esperavam encontrar índices de vacinação abaixo da meta nacional de 80% também no estado de Goiás. “Embora tenhamos avaliado apenas a segunda dose, ficamos surpresos ao encontrar taxas de cobertura tão baixas, sobretudo pelo estudo ter sido realizado na população feminina, que normalmente apresenta melhor adesão à vacina contra HPV”, comenta Iana Mundim de Oliveira, pesquisadora da UFG e coautora do estudo.

Os dados mostram uma tendência de queda nas taxas de aplicação da vacina a partir de 2016, dois anos após sua inserção no calendário de imunização brasileiro. Segundo Oliveira, existem alguns fatores que podem estar relacionados a esta baixa cobertura vacinal, como dificuldade de acesso, fatores culturais e abandono vacinal após a primeira dose. Entretanto, não é possível afirmar as causas a partir da metodologia utilizada neste trabalho.

No início de abril de 2024, a Secretaria de Estado de Saúde (SES) de Goiás iniciou o novo esquema vacinal contra o HPV, que passou a ser administrado em dose única. A mudança levou em consideração as recomendações de entidades, como a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), que trouxeram a público diversos estudos que comprovam a proteção eficaz com apenas uma dose do imunizante. Dados parciais da cobertura vacinal contra HPV em meninas, em 2024, em Goiás, são de 62,92% para primeira dose e 46,77% para a segunda.

“É possível que a adoção do esquema em dose única traga uma melhora real na disponibilidade de doses e na adesão da população brasileira à vacina, tendo em vista que sua oferta será ampliada até a faixa etária de 19 anos em jovens que não receberam uma ou duas doses do imunizante no período recomendado, de 9 a 14 anos”, comenta Oliveira, citando os bons resultados da adoção desse esquema vacinal em outros países.

Ainda assim, a pesquisadora pontua que “é preciso investir em paralelo em ações que conscientizem e sensibilizem a população sobre a importância da vacinação, além de facilitar o acesso a doses em regiões periféricas do Brasil.”

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