Índices de alfabetização melhoram em Goiás, mas desigualdades precisam ser corrigidas

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou na última semana um levantamento que traz os índices de alfabetização no Brasil e em Goiás. Informações do Censo Demográfico de 2022 revelam que, no Brasil, 93% das pessoas com 15 anos de idade ou mais conseguem “ler e escrever um bilhete simples”, o que indicaria níveis mínimos de alfabetização. Isso indica que 7% desse grupo é considerado como analfabeto, o que representa 11,5 milhões de pessoas. 

Em Goiás, o cenário é mais promissor. O levantamento do IBGE indica que 94,5% da população com 15 anos de idade ou mais consegue ler e escrever minimamente, enquanto 5,5% está na taxa de analfabetismo. Em números absolutos isso representa 5,3 milhões de pessoas alfabetizadas e 308,7 mil que não sabem “sequer ler ou escrever um bilhete simples”. 

Quando comparados com outras unidades da federação, Goiás é o 8° estado brasileiro que mais alfabetiza sua população. Figuram na frente do estado goiano: Santa Catarina (com 97,3% de sua população alfabetizada), Distrito Federal (97,2%),  Rio Grande do Sul (96,9%), São Paulo (96,9%), Rio de Janeiro (96,7%), Paraná (95,7%) e Mato Grosso do Sul (94,6%).

Em entrevista ao Jornal Opção, a professora de Língua Portuguesa, Adriana Campos, que ensina tanto em escola da rede estadual quanto da rede municipal, reforça os avanços de Goiás na alfabetização de suas crianças. “O governo estadual criou mecanismos para fiscalizar a educação básica”, afirmou ao mencionar sistemas de monitoramento do ensino e de incentivo financeiro a fim de evitar evasão escolar. “A criança vai sair da terceira série alfabetizada”, garante. 

Entretanto, Adriana questiona o critério adotado pelo IBGE. Para além do “bilhete simples”, a professora destaca a importância da capacidade de interpretação dos alunos.  “Se ela [a criança] escreve um bilhete e não consegue interpretar o que ela escreveu, ela continua sendo uma analfabeta funcional”, explica. Para a educadora, critérios mais profundos de avaliação deveriam ser aplicados a fim de melhor compreender o cenário da educação no país. 

A professora da rede estadual e também da municipal destaca a importância dos programas de monitoramentos e financiamento do ensino vindos do estado, e das bolsas permanência e incentivos fiscais vindos dos municípios. “Se ele [estudante] falta e tira três notas baixas ele perde a bolsa”, explica o funcionamento dessas bolsas.  

Por fim, a educadora diz que, a fim de garantir a melhoria nas taxas de educação do estado, é preciso mais investimento nas escolas. Questões ligadas ao acesso à internet e contratação de professores de apoio para crianças PCD, por exemplo, são essenciais para a melhoria do ensino. Em alguns casos, lamenta a professora, “tem escolas que não têm refeitório, sem quadras…”.  

Desigualdades regionais 

Quando pensamos na distribuição dos índices de alfabetização dentro do próprio estado, é possível perceber desigualdades entre grandes centros urbanos e municípios menores. Municípios goianos com mais de 500 mil habitantes têm taxa de analfabetismo em 2,8%, enquanto em municípios com população entre 10 e 20 mil pessoas esse número salta para 8,3%. Em cidades com menos de 5 mil habitantes, esse valor pode chegar aos 10,5% da população com mais de 15 anos sem saber ler ou escrever. 

Fonte: Censo Demográfico 2022, IBGE.

Apesar de ainda estar melhor do que a média nacional para municípios das proporções acima mencionadas, as desigualdades entre centros urbanos e zonas rurais chamam a atenção. Enquanto Goiânia e Aparecida de Goiânia apresentam, respectivamente, 97,5% e 96,3% de sua população com mais de 15 anos alfabetizada, em cidades como Buritinópolis e Castelândia esses números chegam a 81,2% e 81,7%. 

Sobre o assunto, Adriana conta que a verba vinda dos municípios é fundamental para garantir elementos básicos de ensino. Do uniforme, passando pelo material didático, até a merenda: cada um desses fatores é decisivo para garantir a permanência dos alunos na rede pública de ensino. “Quanto maior é a cidade, mais verba vem,  e aí a educação fica melhor, até a merenda escolar fica melhor”, explicou.

Desigualdades sociais

Os índices de analfabetismo também retratam outros tipos de desigualdades sociais. Entre as disparidades destacadas pela pesquisa do IBGE, estão aquelas ligadas a raça e idade. 

O levantamento mostra que, mesmo com as crescentes taxas de alfabetização ao longo das décadas, um em cada cinco idosos em Goiás não sabe ler ou escrever. Dados de 2022 indicam que apenas 1% da população goiana de 15 a 19 anos está analfabeta, enquanto que na população de 65 anos ou mais esse número chega a 21,2%. A série histórica indica queda no índice de analfabetismo em idosos (em 2000, 45,5% das pessoas nessa faixa etária eram analfabetas), mas o número atual ainda preocupa. Em municípios menores, os valores se agravam. 

Fonte: Censo demográfico 2022, IBGE.

“Mesmo que gerações mais novas apresentem percentuais maiores de pessoas alfabetizadas em média, é possível verificar que a expansão educacional não beneficiou todos os grupos populacionais no mesmo ritmo”, destacou a pesquisa do IBGE ao comparar dados de alfabetização entre pessoas negras e brancas. 

Dados de 2022 revelam que as taxas de analfabetismo em pessoas de raça branca e amarela, em Goiás, eram de 4,3% e 3,4%, respectivamente. Enquanto isso, para pessoas pretas, pardas e indígenas essas porcentagens eram, respectivamente, 8,7%, 5,7% e 8,8%. Isso representa que pessoas pretas e indígenas possuem taxa de analfabetismo praticamente duas vezes mais alta do que a de pessoas brancas. 

Adriana confirma que essa realidade existe nas escolas da rede estadual e municipal, com um novo agravante, as questões ligadas à sexualidade. Questões ligadas à ansiedade, depressão e bullying acabam por aumentar a evasão escolar de crianças com sexualidade não normativa. 

Pensando nas dificuldades que pessoas negras, idosas e também LGBT enfrentam no processo de aprendizagem na rede pública, a educadora desabafa: “a educação sozinha não dá conta desse suporte social”. A professora reafirma a importância de uma rede de apoio social que ultrapasse os limites da escola a fim de garantir ensino de qualidade para toda população.

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