TV Globo, William Bonner, enchentes do Rio Grande do Sul e choro prêt-à-porter

A TV Globo — assim como outras redes — está cobrindo mal as enchentes do Rio Grande do Sul? Na verdade, não. Está cobrindo de maneira competente.

Há quem observe certo pieguismo na cobertura da Globo. Há mesmo certa exploração sentimental dos casos trágicos, com a finalidade de obter mais audiência? Percebo as coisas a partir de outro ângulo.

Uma cobertura humanística, menos fria, é bem-vinda. A ida de William Bonner para apresentar o “Jornal Nacional” a partir do Sul, como uma espécie de âncora-de-rua — na verdade, como repórter —, foi positiva. Porque reforçou a gravidade da tragédia, contribuindo tanto para a mobilização do governo federal quanto para a mobilização da população.

A solidariedade nacional, promovida pelas redes sociais e emissoras de televisão, é importante por dois motivos. Primeiro, porque é uma ajuda necessária, e sem custos para quem a recebe. Segundo, porque mostra que, apesar da tragédia, as vítimas percebem que não estão sozinhas.

Se a audiência subiu talvez tenha sido pela cobertura competente e abrangente do que aconteceu e está acontecendo. Os telejornais souberam canalizar, digamos assim, uma espécie de “energia” dirigida ao Sul. Portanto, houve uma sincronia entre sociedade e jornalismo — o que resultou em mais solidariedade; portanto, ajuda.

Há como não se emocionar quando se está cobrindo histórias trágicas? Muito difícil não ficar triste e mesmo, ante certos casos, conter algumas lágrimas. (Apreciei a cobertura do resgate de animais. Ficou evidente que a centralidade do ser humano está sendo reduzida, ainda que em pequena escala, diga-se.)

Mas a comoção prêt-à-porter — aquele choro artificial para conquistar o público — é mesmo condenável. Apreciei quando a repórter Graziela Azevedo abraçou uma das vítimas das enchentes e a chamou pelo nome. Não vejo nada de mal neste tipo de comportamento. Porque, em certos casos, o distanciamento jornalístico é contraproducente e, até, desumano.

No caso específico de William Bonner é necessário sugerir duas cousas. Primeiro, sua emoção refletiu a do país. Aquele jornalista altão — quase sempre glacial ao apresentar o “Jornal Nacional” — e meio desengonçado mostrou, com sua ida ao Sul, que não é apenas um leitor de notícias. É um repórter que, por opção profissional, se tornou apresentador.

Segundo, talvez por ter ficado tanto tempo dentro de uma redação, com escasso contato com pessoas “comuns”, “gente do povo”, William Bonner me pareceu, por vezes, desconfortável. Mas, no geral, se saiu muito bem.

Deveria ir às ruas algumas vezes durante o ano e não apenas nos momentos trágicos. Fiquei a pensar: William Bonner poderia apresentar o “Jornal Nacional” direto de uma aldeia yanomami — ao menos durante dois dias. Com sua imagem de galã de novela, de ícone nacional, chamaria a atenção do país — e das autoridades — para a tragédia diária dos indígenas do país. Depois, quem sabe, o presidente Lula da Silva poderia despachar de lá a cada três meses.  

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