Assembleia da Adufg decide se aceita proposta do governo aos docentes. Confira os prós e contras sobre a greve das universidades federais

O Adufg-Sindicato (Sindicato dos Docentes das Universidades Federais de Goiás) promove nesta terça-feira, 21, assembleias extraordinárias para avaliar a nova proposta apresentada pelo Governo Federal na última reunião da Mesa Específica e Temporária da Educação do Magistério Federal. Na ocasião, também será reaberto um plebiscito para manutenção ou não da greve da Universidade Federal de Goiás (UFG).

Na última votação, 657 docentes (49,62%) votaram a favor da paralisação, enquanto 652 (49,24%) foram contrários. Para entender os lados favoráveis e contrários a greve, o Jornal Opção conversou com docentes da UFG. Tadeus Arrais (IESA-UFG) é um deles e se posiciona contra a greve geral dos docentes, enquanto Humberto Clímaco (IME-UFG) defende a paralisação geral.

Calendário

A primeira assembleia ocorre com docentes da UFG, às 9h30. Para os docentes da Universidade Federal de Catalão (UFCat) e da Universidade Federal de Jataí (UFJ), a assembleia, de forma conjunta, começa às 15h30. O resultado do plebiscito sai na quinta-feira, 23.

Os professores que defendem que a greve deve continuar não acham que a greve é até que todas as reivindicações sejam atendidas. “O que nós entendemos é que a proposta atual, em particular com os 0% para 2024, é absolutamente insuficiente, no que diz respeito ao reajuste salarial. Assim como é insuficiente a recomposição de 347 milhões anunciadas pelo governo”, explica Humberto Clímaco.

A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) defende o valor de 2,5 bilhões para que as universidades não fechem com um déficit em 2024. Também há reivindicações relacionadas a carreira, aposentadoria e revogação de medidas educacionais de Temer e Bolsonaro que não foram contempladas.

Pelo fim da greve

Por sua vez, Tadeu Arrais defende que a nova proposta do Governo Federal, anunciada no dia 15 de maio, é melhor do que a primeira. O professor não vê motivos para continuar o movimento e a greve. “Cada um de nós, como funcionários públicos, devemos avaliar os motivos pelos quais as salas não estavam lotadas de alunas e alunos sedentos por conhecimentos próprios dos discursos, perdoem o romantismo, mais iluministas”, afirma.

Das 9.443.575 matrículas no ano de 2022, no ensino superior brasileiro, 7.367.080 foram privadas e 2.076.517 foram públicas. Para Tadeu Arrais, apenas o conhecimento que o total de matrículas não presenciais da rede privada totalizou 4.148.677 já é motivo de muita angústia. Ele elenca duas interrogações:

  • Será, de fato, que os problemas de infraestrutura e subfinanciamento são suficientes para afastar os jovens da Universidade Pública?
  • Será, de fato, que o afastamento dos jovens da Universidade Pública não compromete nossa carreira e, também, o reconhecimento de sua importância para a sociedade brasileira?

Já outra docente, que optou por não se identificar, acredita que a greve deve ser mantida. “As demandas são justas e é nítido que vivemos um sucateamento do ensino público superior que já vem se arrastando por anos, sobretudo desde o golpe sofrido pela presidenta Dilma, seguido pelos diversos cortes no governo Temer e no descaso visível do governo Bolsonaro – onde o Ministério da Educação sofreu inúmeros ataques, inclusive ficando sem gestor ou gestora (ministro/ministra)”, pontuou ela.

Reinvindicações dos grevistas

De acordo com o Sindicato Nacional dos Servidores da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe), os grevistas reivindicam uma recomposição salarial que varia de 22,71% a 34,32%, dependendo da categoria, reestruturação das carreiras, recomposição do orçamento e o reajuste imediato dos auxílios e bolsas dos estudantes. Os servidores cobram ainda a revogação de “todas as normas que prejudicam a educação federal aprovadas nos governos Temer e Bolsonaro”.

Humberto Clímaco explica que a eleição de Lula trouxe esperanças de uma vida melhor em todas as esferas; em particular, trouxe o sentimento de que era necessário repor as enormes perdas que tivemos nos governos anteriores. “Eu ouvi muito na UFG de colegas que ‘a hora é agora, no próximo governo não sabemos’. Professores universitários não são imunes ao sentimento geral da população, que votou no Lula com esperanças de dias melhores. Mas não é uma esperança passiva, existe um sentimento de ‘vamos à luta, precisamos conquistar, a melhoria nos nossos salários não virá de graça, serão necessários sacrifícios’”, diz o professor do Instituto de Matemática e Estatística.

Outra demanda é a equiparação de benefícios, como o auxílio-alimentação, aos lotados no Judiciário e no Legislativo. Pela correção aplicada no ano passado, a quantia passou de R$ 458 para R$ 658, e o governo federal estuda uma proposta para aumentar o valor para R$ 1 mil. A medida é criticada por entidades, dado que favorece apenas os servidores da ativa, já que não se trata de valor incorporado no salário.

 Síntese das propostas do Governo Federal, entre 2023 e 2026 |
Fonte: Fonte: GOV.BR (2023, 2024, 2024b)

No Judiciário, porém, o auxílio-alimentação chega a R$ 1.182,74 por mês. Já no Legislativo, a quantia chega a R$ 982,20 aos servidores.O Ministério da Educação informou em nota que vem se esforçando para “buscar alternativas de valorização dos servidores da educação, atento ao diálogo franco e respeitoso com as categorias”, e que concedeu um reajuste de 9% para “todos os servidores” no ano passado (veja a nota completa ao final).

Divergências Proifes x Andes

No Brasil, o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes) é quem determina as diretrizes da greve dos servidores administrativos e docentes do Ensino Superior. Em Goiás, no entanto, há algumas universidades desvinculadas do Andes e que seguem as instruções do Proifes-Federação, como é o caso da UFG.

Algumas universidades aderiram à Proifes, enquanto a maioria permaneceu com o Andes. Em determinadas regiões, como Goiás, Rio Grande do Norte e Santa Catarina, as filiações variavam. As negociações ocorriam conforme as possibilidades, embora o Andes tenha anunciado uma greve, enquanto a Proifes discordava dessa abordagem.

Muitos se mantiveram calados durante o governo Bolsonaro, mas agora, diante da gestão de Lula, surgiram expectativas de reajustes salariais. A posição dos membros da Proifes, predominantemente da UFG, é contrária à greve, embora o anúncio do Andes tenha gerado apoio em alguns professores. O sindicato busca evitar a paralisação, questionando se este é o momento adequado, enquanto outros professores seguem a linha do Andes e defendem a greve. Por isso, o imbróglio na decisão final.

Histórico de impasses

“Os impasses nas mesas de negociações entre o Governo Federal e as entidades sindicais, representadas especialmente pelo Andes e Proifes, são históricos. São impasses positivos que compreendem concepções distintas de carreira e, portanto, de universidade”, pontua Tadeu Arrais.

A UFG conta com um pouco mais de 3 mil docentes, so­mando os aposentados. “Desconfio, no entanto, que uma parcela significativa dos 121.155 docentes em exercício em instituições federais de ensino (INEP, 2022), estejam, infelizmente, afastados desse debate”, destaca o professor do Instituto de Estudos Socioambientais.

Já Humberto Clímaco se posiciona contra a gestão do Adufg-Sindicato. “Diretorias anteriores, ligadas a atual, fizeram aprovar um estatuto absolutamente reacionário, que obriga a plebiscitar assuntos relacionados à greve, tirando, assim, a autonomia da Assembleia. É o único sindicato cutista de Goiás que tem esse mecanismo que separa a discussão da avaliação, que só pode ser feita de maneira coletiva na assembleia, da ação”, critica o professor.

Nos bastidores, uma professora explica que “todo movimento trabalhista, sobretudo sindical, é feito de tensionamentos”. Não há ciência sem síntese, antítese e tese. Não só no cenário goiano, mas nacionalmente, a greve não é uma unanimidade – e na visão dela, isso mostra a saúde democrática que nosso regime político deve desenvolver. “Não há luta sem diálogo. Dialogando e entendo as divergências, o Sindicato estará fazendo o seu papel nessa trincheira”, pontua a docente.

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