Um acidente de trânsito e a sensibilidade de Fábio Nasser

*Carlos César Higa

Fabio Nasser era jornalista do Diário da Manhã e, na manhã do dia 15 de abril de 1991, ele estava no cruzamento da Avenida Assis Chateaubriand com a Rua 9, no Setor Oeste, perto da Praça Tamandaré. Quando o sinal abriu, uma moto e uma bicicleta se chocaram com violência. Na moto, o condutor e o garupa. Na bicicleta, apenas o condutor. As três vítimas estavam no chão. Como todo acidente, não demorou para ajuntar gente e ver o que aconteceu. Nasser parou para registrar aquele momento. As fotos que saíram na edição seguinte do DM eram de sua autoria e o relato do ocorrido também. Mas o jornalista não registrou apenas um outro acidente de trânsito. Fez uma crônica que saiu junto com as fotos em toda página 5 do jornal.

O acidente perto da Praça Tamandaré virou uma análise sobre a sociedade. Nasser viu as pessoas ao redor das vítimas e refletiu sobre a omissão daqueles que poderiam ajudar e não o fizeram, dos motoristas que não pararam o carro para oferecer alguma ajuda. Infelizmente, Fábio Nasser não viveu para ver a era dos celulares trinta anos depois. Sua crônica seria mais crítica. Ele veria as pessoas preferindo filmar e fotografar do que oferecer ajuda. Um acidente de trânsito com vítimas estiradas no chão chama a atenção de quem passa. Ainda há espectadores do derramamento de sangue igual na Roma Antiga.

Eu já passei muito pelo cruzamento onde aconteceu o acidente que comoveu Fábio Nasser. Outras batidas já aconteceram ali. Outras pessoas perderam suas vidas igual o garupa da moto em 1991 naquele mesmo lugar. Lembro em 2006, uma moça estava em uma biz esperando o sinal abrir e um ônibus do transporte coletivo bateu na traseira da moto e ela morreu esmagada no poste. Naquele mesmo cruzamento. Hoje, ninguém mais se lembra do que aconteceu ali quase vinte anos atrás.

A sensibilidade de Fábio Nasser perante o acidente, a sua percepção, a sua revolta pela insensibilidade das pessoas mexeram comigo trinta e três anos depois do texto escrito em página inteira do Diário da Manhã. São raríssimos os jornalistas com essa percepção. Ainda bem que nossa imprensa teve um Fábio Nasser, que não deixou virar notinha de página local o acidente na Assis Chateaubriand com a Rua 9.

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