A banalização do que é repugnante, absusdo e violento

O filme Zona de Interesse, com cinco indicações ao Oscar 2024 – incluindo de melhor filme – mostra quando o grotesco, o mal e o perverso é banalizado em um espaço ou lugar onde do ponto de vista de humanidade isso não seria aceito. A obra retrata a rotina de uma família nazista, um casal e quatro filhos, que moram ao lado do campo de concentração de Auschwitz. O pai, Rudolf Höss, é o diretor do campo, um empregão aos olhos da esposa, Hedwig Höss. 

O filme, que estreou nos cinemas esta semana, é um convite para fazer o próprio julgamento moral e traz uma relfexão muito atual diante da normalização de tantos absurdos vistos nos últimos quatro anos no Brasil e no mundo. 

Vivemos uma pandemia onde líderes mundiais ignoraram avidamente a existêcnia de um vírus, conseguiram enfiar na cabeça da população que aquilo foi uma conspiração global. 

Veja só. No início deste mês eu peguei um Uber para cobrir um evento no centro de Goiânia e conversando com a motorista sobre política e direita (as vezes caio nesses assuntos um tanto desagradáveis, mas é porque a cabeça do bolsonarista me intriga) ela me diz que “ o virus da Covid-19 foi implantado no Brasil para boicotar e prejudicar Bolsonaro e esse vírus não veio da China. Tudo partiu daqui”.

Depois de todo o sofrimento em quase três anos de pandemia, aquilo não é nada para algumas pessoas. Banalizaram o horror que todo um país e o mundo viveram. A veceralidade política em torno do assunto ignora o primordial, até este sábado, 17, foram 709.765 pessoas mortas no Brasil.. 

O descortinamento de um golpe de Estado no Brasil em pleno 2022/23 para impedir que um presidente eleito legítimamente tomasse posse foi banalizado. Agora se organiza uma manifestação (com todo o direito e garantia e a liberdade de expressão) para dar “apoio e voz” ao suposto líder de uma organização criminosa que tentou derrubar a República. 

Lideranças políticas eleitas pelo voto e que ao final das eleições de 2022 defenderam o resultados das urnas estão indo “dar apoio” ao ex-presidente. Banalizaram o inaceitável absurdo. 

Em Goiás, terra estranha, a cidade de Iporá completa o cenário abominável desta semana. Tristemente apelidada de Faixa de Gaza do Brasil, porque fica entre Israelânida e Palestina de Goiás, o prefeito da cidade (pasmem que ainda é prefeito) tentou matar a ex-mulher e o namorado dela com ao menos 15 tiros. Naçoitan Leite invadiu a casa dela com uma camionete e atirou contra o quarto do casal. O caso ganhou repercussão nacional. 

Na última sexta-feira, 16, Leite foi solto provisóriamente e vai poder reassumir a Prefeitura monitorado por uma tornozeleira eletrônica. Na chegada em casa ele foi recebido com festa, música alta e aplausos. Homens e mulheres estavam presentes na recepção. 

Se todo esse roteiro escancara a banalização do horror, da dor, da violência e da repugnância, o que mais seria. Tudo isso passou longe do conservadorismo e pisoteia a humanidade das pessoas, a legitimidade dos governos e a vulnerabilidade das minorias.

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