Cientistas descobrem que cobra mais pesada do mundo pode ser dividida em duas espécies

A cobra mais pesada do mundo, sucuri verde da América do Sul, é catalogada pela Ciência como uma única espécie, a Eunectes murinus. Uma pesquisa recente, no entanto, revelou que, na verdade, há dois tipos desta cobra, também conhecida como “anaconda”, dependendo da região geográfica. O estudo foi publicado na última sexta-feira,16, na revista científica MDPI Diversity.

A sucuri verde é nativa da América do Sul, principalmente das regiões tropicais da Amazônia e do Pantanal. As anacondas podem atingir comprimentos impressionantes e, embora geralmente não sejam tão longas quanto as pítons, são muito mais robustas e pesadas. O peso médio de uma anaconda adulta varia, mas pode chegar a mais de 200 quilos, sendo considerada a cobra mais pesada do mundo em termos de massa corporal.

Apesar de serem semelhantes ao ponto de os especialistas terem dificuldade para diferenciá-las, ambas são geneticamente bastante distintas. Isto levou os cientistas responsáveis pela descoberta a proporem renomear as encontradas no norte como Eunectes akayima, enquanto as do sul continuariam sendo Eunectes murinus.

“Geneticamente, as diferenças são enormes. Elas são 5,5% diferentes, geneticamente. Agora, para colocar isso em contexto, somos cerca de 2% diferentes dos chimpanzés.””, afirmou Bryan Fry, coautor do trabalho, explorador da National Geographic e biólogo da Universidade de Queensland, na Austrália.

O estudo representa a maior pesquisa já feita sobre sucuris, levantando questões importantes sobre suas diferentes linhagens, história geológica e conservação. Fatores como eventos históricos e geográficos podem ter moldado onde essas cobras vivem hoje em dia.

Apesar de parecer que as sucuris podem ser encontradas em toda a bacia Amazônica, a descoberta de uma nova espécie no norte e a presença da sucuri verde no sul mostram que ainda há muito a aprender sobre essas cobras gigantes. A ideia de que pode haver uma população de uma espécie de sucuri vivendo na Amazônia sem ser detectada por ter uma cor parecida com a sucuri verde destaca a importância de mais pesquisas para que se haja uma maior compreensão da diversidade desses animais.

“Apresentamos também uma hipótese filogeográfica que traça a diversificação das sucuris no Mioceno no oeste da América do Sul. Além de seu significado acadêmico, este estudo tem implicações vitais para a conservação dessas espécies icônicas de répteis, destacando nossa falta de conhecimento sobre a diversidade da fauna sul-americana e a necessidade de estratégias revisadas para conservar as espécies recentemente identificadas e reclassificadas”, conclui o estudo.

Apesar das descobertas, trabalhos mais amplos podem ser necessários para compreender como as sucuris verdes do norte e do sul embarcaram em caminhos evolutivos separados. Fry explicou que, em uma próxima etapa buscaria estudar se existem diferenças nos seus órgãos genitais.

Saiba mais sobre a pesquisa

Os dados genéticos foram analisados e os pesquisadores encontraram uma divisão clara entre as cobras da parte norte e as da parte sul. “Eu não esperava esse nível de divergência”, disse o biólogo australiano ao portal Um Só Planeta.

Local de amostragem das amostras utilizadas neste estudo. A área verde é a distribuição conhecida da Anaconda Verde ( 
Eunectes murinus ). | Fonte: MDPI

A reclassificação proposta pela pesquisa baseia-se em análises genéticas e filogeográficas abrangentes, sugerindo relações mais próximas do que anteriormente reconhecidas. Para os cientistas, a constatação é de que a nossa compreensão das suas áreas de distribuição geográfica é insuficiente para justificar a sua utilização como critério de separação.

De acordo com a National Geographic, a União Internacional para a Conservação da Natureza classifica a anaconda verde como uma espécie de “menor preocupação” em termos de risco de extinção. No entanto, essa classificação leva em consideração, em parte, a ampla distribuição geográfica da espécie.

O desmatamento da bacia amazônica devido à expansão agrícola resultou em uma perda estimada de habitat de 20 a 31%, o que pode impactar até 40% de suas florestas até 2050. As espécies de anaconda provavelmente serão ameaçadas por processos de desmatamento impulsionados pela agricultura, incêndios florestais, mudanças climáticas e secas. Esses fenômenos afetam sua base de presas e habitat em geral. Isto enfatiza a necessidade de delinear melhor a distribuição das espécies de Eunectes e as tendências populacionais.

Além de estudar as anacondas verdes, os cientistas também examinaram as anacondas amarelas e concluíram que os três tipos conhecidos (Eunectes notaeus, Eunectes deschauenseei e Eunectes beniensis) deveriam ser agrupados em uma única espécie (Eunectes notaeus).

A sucuri-amarela ou sucuri-do-pantanal apresenta corpo com coloração de fundo amarelada. | Foto: Divulgação

Utilizando métodos genéticos semelhantes, os cientistas argumentaram que as diferenças genéticas entre as anacondas amarelas atuais não são significativas o suficiente para justificar a classificação como espécies separadas.

As sucuris amarelas têm uma coloração que varia de amarelo a verde-oliva, com manchas escuras ao longo do corpo. Elas são encontradas principalmente em habitats aquáticos, como rios, lagos e pântanos, na região da bacia Amazônica e do Pantanal.

América do Sul e biodiversidade

Vista a´rea de parte da Floresta Amazônica. | Foto: Nelson Antoine – Shutterstock

A América do Sul é reconhecida como o continente com a maior diversidade biológica do mundo, abrigando uma variedade excepcional de espécies em comparação com qualquer outro lugar. Isso a torna um ambiente privilegiado para o estudo da diversidade e especiação, além de ser crucial para esforços de conservação.

O continente possui uma vasta variedade de ecossistemas, que incluem florestas tropicais, savanas, desertos, montanhas, rios e oceanos, entre outros. Essa diversidade de habitats oferece condições favoráveis para uma grande variedade de espécies vegetais e animais, muitas das quais são endêmicas, ou seja, encontradas apenas naquela região específica.

A Amazônia, por exemplo, é a maior floresta tropical do mundo e abriga uma quantidade impressionante de biodiversidade, contribuindo significativamente para a reputação da América do Sul como o continente mais diverso do planeta.

No entanto, determinar o número exato de espécies em uma área pode ser desafiador. Além das dificuldades logísticas de amostragem e trabalho de campo em diferentes países, a presença de espécies crípticas (que parecem iguais mas são geneticamente diferentes) e de populações que aparentam ser diferentes sem divergência genética confunde ainda mais nossa compreensão.

Apesar de ter densidades populacionais relativamente baixas, muitos países sul-americanos dependem fortemente de indústrias extrativas em suas economias.

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