Os 4 compromissos dos quais o bom repórter jamais pode abrir mão

Em 16 de fevereiro se celebra o Dia Nacional do Repórter. Dentro do jornalismo, existe um leque de funções e cargos: redator, editor, revisor, articulista, chargista, entrevistador etc. Absolutamente todas se resumem a apenas uma: ser repórter. Não se pode fazer jornalismo sem estar, a todo momento, preenchido por essa essência.

Por coincidência, a data este ano foi também a última, no calendário pessoal deste jornalista, como integrante da equipe do Jornal Opção. Uma publicação de tradição na comunicação em Goiás, referência na cobertura política e que sabe como poucos fora do Eixo Rio–São Paulo trabalhar temas interessantíssimos em história, filosofia, literatura, ensaios e cultura em geral. A despeito de suas limitações editoriais, como as tem qualquer veículo, devo a este semanário do impresso que se tornou online nestes tempos digitais muito de meu crescimento como profissional, nos quase dez anos em que compus suas fileiras, contadas as duas passagens.

Na participação final na coluna Imprensa, creio ser pertinente deixar abaixo, como relato e derradeira colaboração a colegas e demais leitores, o que considero os quatro compromissos de que nenhum repórter pode fugir. Ao contrário, são postulados aos quais todo profissional da informação deveria se atinar.

Perseguição da verdade

É algo que pode parecer óbvio no jornalismo. Afinal, a função básica do repórter é apurar fatos para deles extrair sua essência mais pura: ora, se é 100% fato, é totalmente verdade. Ocorre que, a não ser que a pauta se constitua de algo bastante objetivo, essa é uma perseguição utópica. Não há como recuperar a integridade dos fatos, já que são pessoas que os protagonizam ou, ao menos, os relatam – no caso, por exemplo, de um desastre natural.

Nem por isso, a busca por estar cada vez mais próximo (ou, ao menos, menos distante) da exatidão deve ser abandonada. E procurar a verdade em sua melhor forma significa desde fazer a pergunta mais bem elaborada para a pessoa entrevistada até pesquisar no Google ou na Wikipedia por detalhes importantes que complementem o que está na pauta.

Por último, no caso desse compromisso: a verdade está também na forma. Ou seja, a linguagem eficaz e ortograficamente perfeita também precisa ser perseguida. Nos tempos atuais, em que a velocidade da informação sequestra o tempo da boa apuração, infelizmente, sobra muito pouco ou nada para uma lapidação nos textos, produzidos em escala industrial para sair na frente e garantir mais “acessos”, “views” e “engajamento”. Nem por isso, o recado deixa de servir de alerta.

Guarda da democracia

Liberdade política e liberdade de imprensa sempre andam juntas. Por isso, não deve haver valor mais sublime para o repórter do que a guarda da democracia. Fora dela, não há mais jornalismo, mas comunicados da assessoria do governo autoritário de plantão.

O Brasil, como boa parte do mundo, passa por uma crise da democracia liberal, já descrita por Steven Levitsky e Daniel Ziblatt em Como as Democracias Morrem, o best-seller mais citado quando é esse o assunto, mas também tema trabalhado por outros tantos estudiosos.

O advento da internet universalizou o acesso à informação, mas, ao contrário do que se pensava, não a democratizou, posto que o controle do que é publicado nas redes sociais e do que chega a cada um que as usa passa pelo crivo de interesse dos algoritmos de meia dúzia de megaempresas, as chamadas “big techs”.

Lutar por democracia passou a ser sinônimo de combater as notícias falsas que assolam as plataformas de interação e os aplicativos de conversa. Um sinal incontroverso do que é a magnitude desse desafio no mundo de hoje é um brasileiro ou um estadunidense tentar convencer um tio ou amigo de extrema direita de que seu presidente favorito não perdeu as eleições por fraude e que, exatamente ao contrário do que lhe chega no WhatsApp, foi ele quem tentou dar um golpe de Estado. Infelizmente, para o jornalista, desistir dessa batalha que parece inglória não é uma opção.

Busca por justiça social

No juramento do jornalista há um trecho que, no lodo ideológico que se criou nos dias atuais, parece até coisa de militante: “Juro empenhar todos os meus atos e palavras, meus esforços e meus conhecimentos para a construção de uma nação consciente de sua história e de sua capacidade”.

Parece algo subjetivo – afinal, Jornalismo é um curso considerado da área de Ciências Humanas e há uma nuance de interpretações do texto – e é isso mesmo que tem de ser. Uma nação de cidadãos conscientes se forma com acesso de todos ao pacote básico da cidadania: moradia, alimentação, educação, saúde, segurança pública, transporte, lazer e cultura.

No fim, ser jornalista é usar do domínio da escrita de sua caneta ou de sua fala ao microfone para empurrar a sociedade rumo a preencher esse “kit” para todos. Em um país de desigualdade social e concentração de renda como o Brasil, é uma missão infelizmente heroica.

Defesa do meio ambiente

Talvez tempos atrás a defesa da pauta ambiental não fosse algo que se incluiria em compromissos inadiáveis do bom jornalismo. A verdade é que não dá mais para deixar de colocar no dia a dia de um repórter a preocupação onipresente com o aquecimento global, as mudanças climáticas e suas consequências para a vida no planeta.

A humanidade está na UTI e a maioria dos que a compomos ou não sabe disso ou finge não saber, por algum mecanismo de fuga ou porque assim lhes interessa. Voltando ainda ao trecho do juramento já citado no tópico anterior, é preciso que o repórter contemporâneo esteja empenhando esforços e conhecimentos para que essa consciência se amplie. É o que ele pode fazer, como profissional e como cidadão, na missão de reverter o cenário catastrófico.

E é possível, em todas as editorias, sugerir e encaixar pautas que alertem para o drama ambiental em curso. Na economia: qual o tamanho das perdas na safra causada pelas mudanças climáticas? Na política: por que não há cada vez mais leis que previnam tragédias em catástrofes antes que seja preciso gastar fortunas em hospitais, buscas e resgate de corpos? Na área internacional: a quantas anda o cumprimento dos acordos de emissão de gases? No esporte: quantos são os jogos e provas interrompidos ou adiados por conta de eventos extremos no clima?

Repetindo: são compromissos que deveriam permear o dia a dia de todo profissional da informação, assim como há aqueles que são imprescindíveis a qualquer carreira – medicina, segurança, engenharia, direito, pedagogia etc. Se servir para a reflexão de alguns colegas, este texto já terá dado sua contribuição.

O post Os 4 compromissos dos quais o bom repórter jamais pode abrir mão apareceu primeiro em Jornal Opção.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.