Meu amigo Pinguim: estamos próximos de superar o vale da estranheza?

Assisti nesse domingo, 15, o filme ‘Meu amigo pinguim’ e, durante muitos momentos me perguntei: estamos próximos de ultrapassar o vale da estranheza? O longa conta a improvável amizade entre um pescador da Ilha Grande, no Rio de Janeiro, e um pinguim-de-Magalhães que viaja solitário o Oceano Atlântico pela costa argentina.

A direção fica por conta do brasileiro David Schürmann, roteiro de Kristen Lazarian e Paulina Lagudi e distribuição da Paris Filmes. O ator francês Jean Reno, de “O profissional”, interpreta João Pereira de Souza, 79 anos, que resgatou Dindim e se tornou protagonista de uma história real.

O filme usa, na maior parte das cenas, pinguins reais resgatadores da região litorânea de São Paulo. Foi difícil, em muitos momentos, distinguir o uso de CGI ou animatrônicos para retratar Dindim. Em cenas mais dinâmicas, como quando o pinguim se movimenta com rapidez, o uso da tecnologia é evidente, mas a transição entre os pinguins reais e os efeitos digitais foi tão bem executada que, fora em situações de maior perigo, a linha entre o que é real e o que é criado digitalmente quase desaparece.

Brincadeira à parte, o conceito de “vale da estranheza” (ou “uncanny valley”, em inglês) foi proposto pelo professor e robótico japonês Masahiro Mori em 1970. O terno traduz aquele sentimento de desconforto e antipatia quando assistimos representações digitais que se aproximam muito da aparência humana, mas não de maneira perfeita. À medida que a tecnologia avança junto com a semelhança dos personagens, o sentimento de familiaridade com a obra também aumenta, no entanto, ela tem uma limitação.

Apesar de obras extremamente realistas, sempre há um ponto onde o olho e a mente humana consegue identificar que aquilo não é “real”, e é nesse ponto que as estranhezas saltam os olhos. Algumas teorias sugerem que esse desconforto poderia ter origens evolutivas, possivelmente relacionada à nossa habilidade de identificar perigos ou indivíduos que não são normais, em termos biológicos.

Ainda que meus olhos se enganassem em algumas cenas, meu cérebro sempre alertava que aquilo, por mais que se parecesse, não era exatamente o que eu estava assistindo. Confesso que fora as cenas em que o animal corria perigo, não consegui distinguir com facilidade o que era pinguim, CGI ou um robô animado. Aliás, na maior parte do filme eu deduzi que a história tinha sido toda contada por meio de computação gráfica.

No geral, ‘Meu Amigo Pinguim’ nos leva a refletir sobre os avanços do CGI e o equilíbrio entre o uso de animais reais e efeitos digitais. O filme consegue nos enganar em muitos momentos, o que é um feito impressionante da produção, mas ainda há um caminho a percorrer até que a tecnologia ultrapasse o ‘vale da estranheza’. No entanto, a história tocante entre João e Dindim transcende esses desafios técnicos, entregando uma mensagem de amizade e resiliência que fala diretamente ao coração.

Em outros filmes

Outros exemplos de filmes que geram a “estranheza” são ‘O Expresso Polar’, dirigido por Robert Zemeckise que utiliza captura de movimento para criar personagens animados que têm uma aparência quase humana, mas não conseguem reproduzir de maneira convincente expressões faciais e movimentos corporais naturais. Os olhos dos personagens, em particular, foram amplamente criticados por parecerem vazios e sem vida, provocando a sensação do “vale da estranheza”.

A versão em CGI de O Rei Leão recria os animais de forma extremamente realista. No entanto, o realismo das representações dos animais foi criticado por criar uma sensação de desconforto, já que as expressões faciais e a falta de emotividade dos animais pareciam desajustadas ao conteúdo emocional do filme. A tentativa de capturar a aparência realista dos leões e outros animais, sem a capacidade de transmitir emoções humanas claras, gerou uma sensação de estranheza para alguns espectadores.

No filme Tron: O Legado, o personagem Clu, uma versão digitalizada e mais jovem do personagem de Jeff Bridges, foi criado utilizando CGI. Embora visualmente impressionante, o Clu gerou uma sensação de “vale da estranheza”, principalmente porque os movimentos faciais e expressões do personagem pareciam artificiais, apesar da semelhança física com o ator real.

Sinopse

O filme é um conto de amizade entre um pai solitário e um pequeno pinguim perdido, que recarrega seu espírito e cura a sua família com uma lealdade inabalável que atravessa o oceano. O humilde pescador João (interpretado pelo ator francês Jean Reno) se afastou do mundo após uma tragédia, mas, quando ele descobre um pinguim à deriva sozinho no oceano, encharcado de óleo de um vazamento, seu primeiro instinto é ajudar. Para desespero de sua esposa (Adriana Barraza, atriz mexicana indicada ao Oscar), ele não apenas resgata a criatura marinha, mas cuida do pássaro o colocando sob suas asas e o apelida de DinDim.

Além de Jean Reno e Adriana Barraza, o longa conta ainda com Alexia Moyano, Nicolás Francella, Rócio Hernandez, Juan José Garnica, Duda Galvão e Ravel Cabral no elenco com talentos brasileiros e de diversas nacionalidades e tem roteiro assinado por Kristen Lazarian e Paulina Lagudi. A direção de fotografia é assinada pelo inglês Anthony Dod Mantle, vencedor do Oscar de Melhor Fotografia por “Quem Quer Ser um Milionário?”; a edição fica com a mesma montadora de Pedro Almodóvar, a espanhola Tereza Font; e os efeitos especiais são liderados pelos também espanhóis Ferran Piquer e Francisco Porras, ganhadores de dois prêmios Goya. A produção é da City Hall Arts, Schurmann Filmes e Content Studios com distribuição nacional da Paris Filmes.

As filmagens contaram com a participação de pinguins do Aquário de Ubatuba (SP) e do Oceanic Aquarium, em Balneário Camboriú (SC), além do apoio do Instituto Argonauta para a Conservação Costeira e Marinha – que treinou os animais antes das filmagens.

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