Iyalorixá denuncia que cinco homens armados ameaçaram grupo religioso na saída de um terreiro; vídeo

A iyalorixá (iIyalorisa) Marileia Lasprilla denuncia que um grupo de cinco homens abordaram ela e outras três pessoas na porta do Terreiro Ilê Asé Dan Fé Èrò, no setor Itatiaia, em Goiânia. A mãe de santo conta que se preparava para manobrar o veículo em que estava com outras três pessoas para entrar no terreiro, quando cinco homens armados a abordaram. Inicialmente, eles questionaram sobre um veículo roubado, e, na sequência, acusaram os praticantes do candomblé de sacrificar cachorros.  

No boletim de ocorrência registrado no Grupo Especializado no Atendimento às Vítimas de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Geacri), é possível ver que o fato aconteceu na noite da última segunda-feira, 23. A denúncia protocolada no documento menciona o artigo 20 da lei 7.716/1989. “Praticar discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional – Racismo consumado”, registra. O relato oficial segue dizendo que: “Após não conseguirem o que desejavam, os homens se retiraram dizendo serem policiais, mas em momento algum se identificaram e nem mostraram nenhum documento”. 

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Ao Jornal Opção, Marileia afirma sentir medo e insegurança, já que ela é uma ativista atuante há mais de dez anos no movimento contra a intolerância religiosa. A Iyalorisa participa do conselho estadual de Direitos Humanos, Igualdade Racial e Combate ao Preconceito, do Conselho Estadual da Mulher, do Conselho Municipal de Igualdade Racial de Goiânia, e é candidata a vereadora por Aparecida de Goiânia.

“Não sei se é realmente só intolerância religiosa, não sei também se é alguma coisa política, não sei se é bandido, não sei se é polícia…”, explica a mãe de santo. A Iyalorisa afirma que ataques ligados à intolerância religiosa sempre foram recorrentes, mas que dessa vez, “passaram de todos os limites”. 

Investigação 

O titular da Geacri, Delegado Joaquim Adorno, conta que as diligências ainda estão em momento inicial, portanto, seria prematuro indicar quaisquer conclusões. Entretanto, ele alerta que “a polícia nunca cumpre um mandado a noite”, desacreditando parcialmente a alegação do grupo armado de que seriam policiais. “A polícia só entra na casa de alguém fora desses horários se estiver em situação de flagrância, estado de necessidade, para salvar uma vida, num risco iminente”, resumiu. 

O primeiro passo da investigação é confirmar se os sujeitos são, de fato, policiais. Sendo verdadeira a alegação, o caso é encaminhado para a corregedoria responsável. Caso não sejam policiais, os sujeitos serão julgados pelos crimes de ameaça, posse ilegal de arma de fogo, além da intolerância religiosa estabelecida pelo artigo 20 da lei 7.716/1989. “As penas variam entre 1 a 3 anos, e somadas dão mais de 5 anos de prisão, de todos os crimes que ocorreram”, explicou. 

O delegado Adorno finaliza dizendo que “as oitivas já foram marcadas para a próxima semana, já foi instaurado inquérito policial” e reforçando que a população deve ter fé no processo investigativo da polícia e denunciar todos os casos de crimes de intolerância. 

Intolerância recorrente

O advogado da Iyalorisa, Alexandre Lasprilla, conta que “o próprio STF já deixou bem transparente que o abate de animal dentro da religião de candomblé não é crime”, reforçando o fato de que apenas galinhas são imuladas no terreiro, rechaçando quaisquer acusações de morte de animais domésticos. 

Alexandre conta ainda que os casos de intolerância contra o terreiro são recorrentes, já que “todas as vezes [em que se realizam rituais religiosos] o pessoal chamava a polícia”. O advogado relata ainda provocações vindas de casas vizinhas durante os cultos no terreiro, com músicas gospel em volumes altos e louvores iniciados após o começo dos ritos do candomblé. Apesar de nunca cederem às provocações, a presença da polícia acabava por interromper temporariamente as celebrações religiosas no Asé Dan Fé Èrò .

“Não pode interromper o culto, conforme a lei, é crime”, finalizou Alexandre.

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