Alunos cegos em Goiás ‘voltam a enxergar’ com tecnologia de Israel; entenda

Alunos cegos ou com baixa visão, da rede pública de ensino em Goiás, foram beneficiados com um dispositivo que permite os estudantes a ler textos, reconhecer rostos, entre outras propriedades.

Trata-se do OrCam MyEye, trazido para Goiás em 2019 para atender estudantes cegos ou com baixa visão. De acordo com a Secretaria Estadual de Educação de Goiás (Seduc-GO), ao todo são 157 pessoas beneficiadas.

Medindo cerca de quatro centímetros, o dispositivo fica acoplado a uma haste dos óculos. Com uma câmera de alta resolução, ele faz um scanner do objeto que está à frente, conforme explicou Weberson de Oliveira Morais, gerente de Educação Especial da Seduc, em entrevista ao Jornal Opção.

“Esse scanner identifica se é um texto, uma imagem, se é cor. Então, uma vez que ele está de frente a um texto, se for em português, inglês ou espanhol, ele faz a leitura e, com um alto-falante bem pequeno, que fica bem exatamente posicionado na haste próximo ao ouvido, ele faz a leitura parecido com a voz do GPS. São duas opções de voz e a pessoa com deficiência pode fazer essa troca”, exemplifica.

O OrCam MyEye ainda tem o recurso para reconhecimento de cédulas, tanto do dinheiro real, quanto o dólar. Weberson afirma que o dispositivo é programado de acordo com o país onde a pessoa está.

“Ele faz o reconhecimento de rótulos, de embalagens, produtos de comercialização global. O que é regional não tem cadastro. Um fator importantíssimo é o reconhecimento da face da pessoa. Tem uma programação, que a gente faz o treinamento e faz o scanner da face da pessoa, e quando a gente dá o comando, ele fala o nome da pessoa”, destaca.

Outras funcionalidades

A pessoa cega, ou com deficiência visual, que utilizar a tecnologia ainda consegue descobrir o horário do exato momento em que pedir. Para isso, basta levantar o braço como se estivesse olhando para o pulso, independente se tem um relógio ou não.

“Você faz um movimento que uma pessoa faz para olhar a hora, ele percebe que você fez o movimento do braço e fala a hora. Nós temos muitos estudantes que já estão na universidade, e fazem uso desse dispositivo. Receberam quando estavam no ensino médio, hoje está na universidade”, completa Weberson.

No entanto, o estudante precisa atender a um requisito para ser contemplado com o OrCam MyEye: já ter aprendido o braille, que é o sistema que possibilita pessoas com deficiência visual, parcial ou total, terem acesso à leitura.

“O nosso entendimento pedagógico dos professores da área tem muito receio que o dispositivo, por ser eletrônico e ofertado na facilidade da leitura, o aluno pode querer não aprender o braille. É como se pensassem aquele estudante que só brinca com tela ou celular e não quer aprender a ler, nem escrever. A tecnologia facilita nesse sentido, mas há um critério e uma investigação para saber se o estudante já tem condições de receber esse dispositivo”, pontua.

Acionamento do dispositivo

O OrCam MyEye é ativado de duas formas: ele pode ser programado para ser automático, ou seja, escanear qualquer coisa que entre em contato; ou a opção utilizada para o estudante, em que a pessoa aponta para o que quer que o dispositivo lê ou um botão touch em alto relevo que fica nele.

“A pessoa que tem deficiência visual não tem, obviamente, o entendimento ou experiência de deixar apenas um texto na frente. De repente você está com dois textos, e ele posiciona ambos e o dispositivo começa a ler um, depois o outro. A gente configura ele para atender o comando. Apontar o dedo indicador na direção que você quer que ele veja é uma opção mais avançada, porque nem sempre a pessoa está sabendo a direção certa”, explica.

“O mais simples que a gente usa é o comando analógico, com um touch nele mesmo. A gente faz as configurações, e nesse botão basta dar um toque que ele vai fazer a leitura. É mais produtivo e eficiente no caso do estudante. Agora, uma pessoa adulta, que já tem um treinamento, ele consegue deixar no aleatório”, continua.

Nesse mesmo botão, a pessoa consegue controlar o volume do alto-falante, deslizando para cima para aumentar o volume, e na direção contrária para abaixar.

Por falar em estudantes que utilizam a tecnologia e adultos, Weberson revela que a Seduc preferiu não configurar o OrCam MyEye para o automático no caso dos alunos.

“Por se tratar de um dispositivo para adolescente e para criança, a gente toma muito cuidado com isso. No treinamento, a gente sempre configura para ele obedecer o comando, porque se eu deixo no automático, ele pode começar a fotografar e escanear aleatoriamente o que passa na frente. Isso perde o sentido”, diz.

Autonomia e visual

O dispositivo foi projetado para ter uma autonomia de duas horas em sua bateria. Mas, é facilmente recarregável para voltar a utilizar a tecnologia.

“O dispositivo foi pensado de modo a ser mais viável em termos de estética, operacionalidade e conforto. Por que uma bateria programada para duas horas? Se você pensar uma pessoa fazendo uma leitura ininterrupta, a gente consegue ler, em média, 40 ou 50 minutos sem parar. Na escola, você lê 10 ou 15 minutos e para”, explica.

Além disso, Weberson pontua que o objetivo foi deixar o dispositivo mais leve, para não incomodar a pessoa que for usar e pesar em seus óculos.

“Se fosse para durar mais, seria uma bateria pesada. Ela não ficaria confortável para ficar na alça dos óculos e exerceria um peso que poderia fazer os óculos cair”, disse.

Idealização

De acordo com o gerente, o OrCam MyEye foi apresentado pela primeira vez ao governador Ronaldo Caiado (UB), durante um evento em Brasília.

“O pessoal da empresa de São Paulo, a Mais Autonomia, apresentou o dispositivo para governadores em um evento em Brasília. Ele [Caiado] conheceu e achou muito bom, apresentou, passou o contato para nossa secretária Fátima Gavioli, que entrou em contato com o presidente e realizou a aquisição”, conta.

“O governador é um padrinho desse dispositivo. Ele cobra da gente sempre quando vem à secretaria, como está o dispositivo que os meninos estão usando”, completa.

Não existe nenhum tipo de manutenção preventiva para se fazer no dispositivo. Weberson revela que, caso ocorra algum acidente, é feito o reparo. Além disso, caso desconfigure, a Seduc realiza a reconfiguração para o estudante.

“Acidentalmente, às vezes, pode ter uma questão que tem que ser feita, mas é muito raro acontecer. Já recebi aqui uma situação de acidentalmente o dispositivo cair na água e passou um tempo parou de funcionar. Mas, ele tem um cordãozinho que a pessoa coloca no pescoço e fica amarrado no dispositivo. Agora, se uma presilha soltou da haste, no kit já tem outras substitutas, vem tesoura imantada, vem encaixe do carregador da bateria, exatamente para poder garantir essa manutenção necessária. Se ele desconfigurar, nós temos aqui a equipe que faz essa manutenção”, destaca.

Leia também:

O post Alunos cegos em Goiás ‘voltam a enxergar’ com tecnologia de Israel; entenda apareceu primeiro em Jornal Opção.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.