COP29 começa nesta segunda-feira, 11, em Baku, Azerbaijão

A 29ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP29) começou nesta segunda-feira, 11, em Baku, Azerbaijão, em um cenário global marcado por conflitos e instabilidade política. O evento, que ocorre em uma região impactada por guerras, enfrenta o desafio de avançar na definição de um novo plano de financiamento climático enquanto lida com questões como a guerra na Ucrânia, o conflito em Gaza e a reeleição do ex-presidente Donald Trump, que pode dificultar o compromisso dos Estados Unidos com o combate às mudanças climáticas. Ao longo de 12 dias, a COP29 busca soluções para manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C, limite estipulado pelo Acordo de Paris.

Este ano, a COP29 foi apelidada de “COP do Financiamento” devido à importância de estabelecer uma Nova Meta Quantificada Global de Finanças (NCQG, na sigla em inglês). A proposta é substituir o compromisso anterior de US$ 100 bilhões anuais, firmado em 2009 e válido até 2025, com um novo valor que reflita a gravidade da crise climática atual. O diretor de clima da ONU, Simon Stiell, ressaltou a urgência de um financiamento climático mais ambicioso, afirmando que ele não deve ser tratado como caridade, mas como um investimento essencial para a segurança de todas as nações.

“Uma nova meta ambiciosa de financiamento climático é inteiramente do interesse próprio de cada nação, incluindo as maiores e mais ricas,” afirmou Stiell, destacando que um compromisso global sólido é necessário para a transição climática. Especialistas apontam que o novo valor deve ser próximo de US$ 1 trilhão por ano, com a metade desse montante vindo de fontes públicas e a outra metade de recursos privados. A meta é que os países mais desenvolvidos contribuam substancialmente para apoiar os menos desenvolvidos, especialmente na adaptação e mitigação de impactos climáticos.

Impacto da política internacional na COP29

A COP29 ocorre em um contexto de instabilidade internacional que interfere nas discussões sobre mudanças climáticas. A reeleição de Donald Trump, conhecido por seu ceticismo em relação às questões climáticas, preocupa os ambientalistas e especialistas que temem um retrocesso nos compromissos dos EUA. Durante seu primeiro mandato, Trump retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris, e há receios de que ele adote uma postura semelhante, dificultando a liderança dos EUA no financiamento climático.

A ausência do presidente Joe Biden também é um sinal negativo, substituído pelo enviado John Podesta para representar a delegação norte-americana. A cúpula em Baku é um momento crítico para estabelecer as expectativas de qual vai ser a próxima geração de NDCs, quais devem ser as aspirações”, pontuou Aniruddha Dasgupta, presidente do World Resources Institute (WRI). Para ele, a transição climática global depende diretamente do apoio financeiro das maiores economias.

Definição das Contribuições Nacionalmente Determinadas

Além da meta financeira, a COP29 também marca a fase de revisão das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, em inglês), que são as metas de cada país para redução de emissões de gases de efeito estufa. As NDCs são fundamentais para que a ONU calcule o progresso global e o cumprimento do Acordo de Paris. O prazo final para a atualização dessas metas é fevereiro de 2025, antes da COP30, que será realizada em Belém, no Brasil.

Atualmente, o planeta já esquentou mais de 1,1°C acima dos níveis pré-industriais, aproximando-se rapidamente do limite de 1,5°C. Segundo Dasgupta, os países em desenvolvimento precisam de recursos externos para cumprir suas NDCs e, sem isso, o impacto será sentido por todos. “Os países em desenvolvimento não conseguem atender à meta de transição se não receberem financiamento externo. Isso é crítico. E, se esses países não fizerem essa transição, há um impacto direto para todos no mundo, não somente para esses países”, destacou.

Uma demanda de US$ 1 trilhão anual

Especialistas em clima, como os representantes do WRI, apontam que a demanda por financiamento deve alcançar US$ 1 trilhão por ano. Para Dasgupta, esse valor pode parecer alto, mas representa menos de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) global. Além disso, ele enfatiza que não se trata de caridade, mas de uma necessidade global. “Na verdade, os países do Sul Global gastaram US$ 1,4 trilhão em mudanças climáticas de recursos próprios”, afirmou.

Para atender à necessidade de financiamento, Melanie Robinson, diretora de Clima, Economia e Finanças do WRI, sugere um plano escalonado que prevê US$ 200 bilhões até 2030 e US$ 400 bilhões até 2035. No entanto, Robinson alerta que o comprometimento dos países precisa ser sólido, e uma parte desses recursos deve ter condições atrativas, com taxas reduzidas, para incentivar ações efetivas.

Segundo Robinson, alcançar o financiamento necessário depende de “maior vontade política e disposição para ações concretas”. Ela acrescenta que o cumprimento das metas climáticas globais requer um ciclo contínuo de investimentos, que só será possível com a colaboração entre governos, setor privado e organizações multilaterais.

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