Praia isolada no Brasil se transforma em depósito de lixo asiático

A praia do Segredo fica em Natal (RN) e chama atenção por dois pontos: sua beleza natural e a quantidade de lixo asiático em suas orlas. A BBC News Brasil produziu material sobre o local e, durante a visita, encontrou um “cemitério” de embalagens oriundas de países como China, Indonésia, Coreia do Sul e Malásia. 

Garrafas de bebidas não alcoólicas, produtos de limpeza e recipientes de óleo para motor ocupam as areias da praia, que fica em região central da capital potiguar. A maioria das embalagens estão quase intactas e foram produzidas em anos recentes. Apesar da maior parte do material vir de países asiáticos, existem recipientes dos Estados Unidos e de países africanos.

À BBC, o professor Alexander Turra, do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP), explica que a origem mais provável é o descarte de lixo dos navios. 

De acordo com o Banco Mundial, o transporte marítimo movimenta cerca de 90% do comércio global, com a Ásia concentrando 20 dos 30 portos de maior fluxo no mundo.

A rota entre Brasil e Ásia é uma das mais ativas, impulsionada pela importação de produtos industrializados e pela exportação de matérias-primas brasileiras para o mercado asiático. “E aí vem tudo o que estava na embarcação e que foi comprado no porto de origem, que pode ser em Singapura, Vietnã, China, onde for”, explicou Turra.

Uma vez próximas ao porto, as embarcações descartam o material que é levado pelas correntes marítimas. O pesquisador explicou à BBC que o fenômeno é mais visível em praias remotas e em municípios nas rotas portuárias, mas acontece em todo o litoral brasileiro. 

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Problemas 

“Quem vai querer visitar uma praia cheia de lixo?”, o pesquisador afirma que o turismo é um dos pontos afetados pelo descarte desses resíduos. Além disso, os danos ambientais também são consideráveis. Os animais, por exemplo, “tem a possibilidade de morrerem asfixiados ou de terem uma falsa sensação de saciedade, definhando ao longo do tempo”, explicou Turra à BBC. 

“Sem contar os prejuízos para a navegação, porque esses produtos danificam motores, hélices e sistemas de refrigeração”, o especialista complementou. Um outro ponto que se soma é o risco à saúde humana, já que micropartículas de plástico entram no organismo dos peixes que serão consumidos por nós.  

Apesar de existir tratados internacionais proibindo o descarte de lixo não orgânico no oceano, vários pontos favorecem essa situação. O pesquisador apontou à BBC que muitos navios não separam resíduos orgânicos dos não orgânicos e acabam descartando no oceano para evitar o mau cheiro, em casos de viagens prolongadas. Outra questão é que os portos cobram taxas para receber os resíduos das embarcações a depender do peso do material a ser descartado. 

Algumas soluções apresentadas são a cobrança de uma taxa fixa para receber os resíduos dos navios e a fiscalização daqueles que separam ou não os materiais orgânicos dos inorgânicos. 

Respostas

Associação de Donos de Navios Asiáticos (ASA, na sigla em inglês) disse à BBC que considera  “altamente deplorável” o descarte do lixo na costa do Brasil. Ao defender práticas ecológicas de transporte, a organização, que representa 52% da frota de navios mercantes do mundo, afirma que “nossos membros operam suas embarcações estritamente de acordo com os regulamentos internacionais sobre despejo de resíduos”. 

A organização lembra ainda que não necessariamente navios asiáticos descartam o lixo, já que embarcações de todo o mundo se abastecem em portos da Ásia. 

À BBC, o Ministério de Portos e Aeroportos reforçou sua confiança nas políticas de gestão de resíduos dos portos e, sobre a adoção de tarifas únicas para recebimento desse lixo, afirmou que mantém “diálogo com agentes do setor para identificar oportunidades de aprimoramento dentro do marco regulatório existente”.

Por sua vez, o Ibama afirmou que “a competência para efetuar a limpeza rotineira das praias é municipal”, direcionando a responsabilidade para a Prefeitura de Natal. O órgão competente não respondeu a BBC e direcionou a responsabilidade para a companhia responsável pela limpeza pública da cidade. Esta, por sua vez, não se pronunciou.  

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