Relembre acertos e erros das gestões dos últimos cinco prefeitos de Goiânia

Em outubro deste ano, eleitores irão às urnas para eleger prefeitos e vereadores dos próximos quatro anos. Olhar para o passado e relembrar acertos e erros é fundamental para planejar o futuro. Pensando nisso, o Jornal Opção ouviu dois cientistas políticos, Pedro Célio e Tadeu Arrais, que falaram sobre os acertos das gestões dos últimos cinco prefeitos de Goiânia: Nion Albernaz (1989-1992 e 1997-2000), Darci Accorsi (1993-1996), Pedro Wilson (2001-2004), Íris Rezende (2005-2010 e 2017-2020) e Paulo Garcia (2010-2016).

“Foram gestões transcorridas em situações administrativas distintas. Além disso, pesou também o estilo de cada prefeito na convivência com as suas bases de sustentação, com a imprensa e com os vereadores”, afirma Pedro Célio.

Depois de recordar o passado, qual deve ser o salto qualitativo que Goiânia precisa dar no futuro, seja no curto ou a longo prazo? Esse questionamento também foi analisado pelos especialistas, que apontaram as principais áreas que a capital precisa com mais urgência de melhorias.

Nion Albernaz (1989-1992 e 1997-2000)

Nion Albernaz | Foto: Reprodução

Nion Albernaz foi eleito pelo PMDB, hoje MDB, e em sua segunda gestão pelo PSDB. Para Pedro Célio, o principal legado de Nion foi “cuidar dos detalhes”. “Sem supor comparação, e com muitas falhas de memória, eu posso mencionar que Nion gostava mesmo era da ornamentação e limpeza das ruas e praças da cidade. Ele foi o arquétipo do prefeito-síndico em Goiânia”, relembra.

Já para Tadeu Arrais, Nion Albernaz pode ser lembrado pelo administrativo da prefeitura, além de uma aproximação com a população mais jovem.

“O Nion Albernaz criou estruturas na prefeitura que resistem até hoje. Ele fez muitas interferências nas vias estruturais de Goiânia. Teve um programa para jovens e crianças”, diz.

Entre as ações de Nion Albernaz à frente da Prefeitura de Goiânia, destacam-se: criação de dez Cooperativas de Produção em bairros considerados carentes, em parceria com o Sebrae e o Governo do Estado; urbanização de Goiânia; criação do programa Trabalhando com as Mãos; construção das Marginais Botafogo e Cascavel, posterior ampliação da primeira; informatização da prefeitura com a Comdata; iniciou a construção do Paço Municipal; implantação do projeto do Contorno Norte, alternativa de saída para as GOs e BRs que circundam a cidade; implantação da Avenida Cora Coralina, com foco na melhoria do tráfego da Avenida 85; implantação da Assessoria Especial da Mulher para atendimento nas áreas relativas à Justiça, cartoriais, psicológica, médica e laboratoriais; implantação do Clube do Povo, na região Noroeste de Goiânia; criação da Assessoria Especial para Políticas Públicas da Juventude; criação do Programa Amigos do Meio Ambiente; criação do Programa de Assistência do Idoso para atendimento médico, psicológico e social; criação do Programa de Atenção às Pessoas Portadoras de Deficiências; e criação dos Centros de Alimentação (Cepal).

Darci Accorsi (1993-1996)

Darcy Ribeiro entrevistado, na redação do Jornal Opção em 1994, por Euler de França Belém e José Maria e Silva | Foto: José Afonso/Jornal Opção

Depois da gestão de Nion Albernaz, Darci Accorsi foi eleito pelo PT em 1992, e foi prefeito de 1993 a 1996. Um de seus projetos como Chefe do Executivo, foi a criação do programa Cidadão 2000, acoplado ao Trabalhando com as Mãos, que foi uma iniciativa da então primeira-dama, Lucide Sauthier Accorsi, logo no início da gestão.

O programa funcionava em parceria entre o município e a Sociedade Cidadão 2000, uma organização não-governamental que foi criada com o objetivo de dar agilidade e efetividade à proteção de crianças e adolescentes.

O Cidadão 2000, que contava com diversos profissionais, entre psicólogos, pedagogos e assistentes profissionais, atuava em três frentes: no atendimento preventivo, na proteção integral e na inserção ao mercado de trabalho.

Tadeu Arrais relembra também que uma virtude de Darci Accorsi era a forma como o ex-prefeito tratava os professores da rede municipal de ensino. “Além disso, o processo de urbanização, com a idealização do Residencial Goiânia Viva”, afirma.

Já Pedro Célio preferiu destacar o tema ambiental de Darci, com parques e urbanização das áreas verdes.

“Posso mencionar de Darci Accorsi talvez a concentração estratégica nos temas ambientais da cidade. Foi na gestão dele as negociações e a construção do Parque Vaca Brava”, apontou.

Pedro Wilson (2001-2004)

Pedro Wilson em entrevista ao Jornal Opção na sede do Iphan | Foto: LeoIran | Jornal Opção

Com o fim da gestão de Darci Accorsi, Nion Albernaz retornou à prefeitura, desta vez pelo PSDB. Em seguida, o PT teria o seu segundo prefeito em Goiânia: Pedro Wilson, que venceu as eleições municipais de 2000. A área da Educação é algo que o cientista político Tadeu Arrais destaca da gestão de Pedro Wilson como prefeito de Goiânia.

“Pedro teve muito diálogo com a educação, foi uma característica. Falo como ex-professor da rede, então tinha uma ampla capacidade de diálogo. A pessoa se sentia valorizada, me lembro disso”, disse. Outra lembrança de Arrais é em relação à moradia. “O problema de déficit habitacional, de regularização fundiária, o Pedro Wilson fez um dos mais bonitos projetos na Marginal Botafogo”, relembra.

Pedro Célio preferiu ressaltar o perfil articulador e negociador de Pedro Wilson à frente da Prefeitura de Goiânia. “De Pedro Wilson, eu recordo, de um lado, a enorme capacidade de negociação e articulação com as forças políticas e os interesses diversos na capital, inclusive as de oposição, que dominavam a Câmara Municipal. Em momentos decisivos, ele conseguiu reverter a rígida hostilidade dos vereadores que a princípio se postavam contra a sua administração. Por causa dessa habilidade na condução política ele viabilizou obras de difícil execução como a Avenida Leste-Oeste”, afirma.

Além disso, outro acerto de Pedro Wilson, na opinião de Pedro Célio, foi a condução do problema com vendedores ambulantes no Centro. “De outro lado, ele alcançou, sem qualquer violência, o feito de negociar a saída dos vendedores ambulantes do centro da cidade. Esta era um antigo drama de comerciantes do centro e dos urbanistas, alguns chegando a cobrar repressão por parte do prefeito”, declara.

Para Tadeu Arrais, a atmosfera antigamente era “mais feliz”, já que os problemas que Nion Albernaz, Darci Accorsi e Pedro Wilson enfrentavam eram de política de moradia, urbanização de áreas verdes com pistas, parques e canteiros. “Foram prefeitos que administraram com muita tranquilidade. Diferente de hoje, quando o prefeito vai à Câmara é um clima tenso”, diz.

Nos dois primeiros anos do mandato de Pedro Wilson, especialistas destacam o impacto significativo do gestor, caracterizado pela ampliação da participação popular e pela eficiente resposta às demandas sociais. Durante sua administração em Goiânia, o prefeito petista não apenas supervisionou a revitalização da Avenida Goiás, preservando a arquitetura original da cidade, mas também liderou a construção do Mercado Aberto na Avenida Paranaíba.

Íris Rezende (2005-2010 e 2017-2020)

Iris Rezende em sua Fazenda | Foto: Foto: Jackson Rodrigues

Com a saída de Pedro Wilson, Íris Rezende voltou à prefeitura em 2005 após vencer as eleições em 2004. Em seguida, foi reeleito em 2008 e saiu em 2010 para se candidatar a governador de Goiás.

Considerado por muitos como o sucessor de Pedro Ludovico Teixeira, Iris Rezende (MDB) concebeu a visão de uma Goiânia constantemente em movimento. Sua simplicidade o destaca, sendo, após Venerando, o prefeito mais memorável para a população.

Além disso, Íris é reconhecido como um executor de projetos significativos, incluindo a criação do Parque Mutirama, o Centro de Convenções de Goiânia, a Rodoviária, além da pavimentação e construção de diversos conjuntos habitacionais.

“O Iris era aquele prefeito que conhecia a cidade como a palma da mão, mas ainda tinha o estilo de administrar antigo, dos mutirões, da cidade ser um canteiro de obras, o estigma do homem que acorda cedo. Lembro que ele tomava café com entregadores de jornal. Era um populismo diferente, porque quando veio o marketing da construção da Vila Mutirão, aquilo foi muito bem pensado”, reforça Tadeu.

Obras e ações de Íris: Parque Mutirama, um espaço verde e de entretenimento que surgiu numa época em que o poder público não dava a devida atenção à importância do lazer e do bem-estar como direitos sociais fundamentais; Programa Mutirão da Moradia – Construção de moradias no Brasil, estabelecendo um recorde histórico que perdura até hoje; liderou intervenções complexas, incluindo obras, centros de eventos, hospitais e bairros inteiros. Além disso, criou eventos culturais clássicos como o “Chorinho” e edições de “Prosa e Verso”, revitalizando a música sinfônica da capital.

Além disso, fez o Centro de Convenções de Goiânia, Fórum de Goiânia, conjuntos habitacionais pelo interior como o mutirão de três mil casas em um dia, asfalto em mais de cem bairros na capital, viadutos da praça do Ratinho e da praça do Chafariz; 35 parques em Goiânia.

“Quanto a Iris Rezende, o último mandato dele fica um tanto obscurecido se comparado aos anteriores, quando ele deixa obras marcantes. O Mutirama, nos anos 1960 e a construção de viadutos na Avenida 85 são marcas de Iris”, destaca Pedro Célio.

Paulo Garcia (2010-2016)

Paulo Garcia em entrevista ao Jornal Opção em 2013 | Renan Accioly / Jornal Opção

“Paulo Garcia é um divisor de águas. Nunca se vendeu tanto as áreas públicas a partir dele. Isso compromete a cidade”, critica Tadeu.

Tanto Tadeu Arrais, quanto Pedro Célio, não conseguiram destacar grandes acertos de Paulo Garcia na prefeitura.

“De Paulo Garcia, eu não tenho referência de maior positividade. Quem sabe o Hospital da Mulher, na Vila Redenção?”, afirma Pedro Célio.

Paulo Garcia assumiu a prefeitura em 1º de abril de 2010, sucedendo a renúncia de Iris Rezende para concorrer ao governo de Goiás. Ele foi reeleito em 2012, permanecendo no cargo até o final de 2016.

Durante seu mandato, destacam-se realizações como a construção do Parque Macambira-Anicuns, a implementação de ciclovias e ciclofaixas conectando ruas e parques da cidade, além do estabelecimento do sistema de bicicletas compartilhadas.

Uma das últimas participações de Paulo Garcia como prefeito de Goiânia foi na inauguração da ponte da Rua 1018, conectando o Setor Pedro Ludovico ao Jardim Goiás, ocorrida em 29 de dezembro de 2016.

Salto qualitativo

O olhar para o passado permite projetar o futuro. Sendo assim, a reportagem questionou Tadeu Arrais e Pedro Célio qual salto qualitativo a cidade precisa dar?

“Para ser objetivo, Goiânia não deu nenhum salto qualitativo nas últimas gestões [desde Paulo Garcia]. Eu desafio alguém para apontar o que melhorou”, Tadeu.

Segundo Arrais, a grande pergunta é o que ocorre de lá pra cá, como que cada prefeito lidou com os problemas que a cidade colocava.

“Você não tinha debates de acusações. Você tinha uma cidade limpa. Poderão argumentar que a cidade era menor, mas o orçamento também era. A questão é que os problemas foram acumulados e têm especificidades”, argumenta Tadeu.

Ainda conforme o cientista político, Goiânia é a cidade brasileira com o menor passivo administrativo. “É a melhor cidade para se administrar. Goiânia não tinha grandes problemas de mobilidade, de déficit habitacional, e o que vira? Essa cidade irreconhecível”, critica Tadeu.

“O futuro é um futuro de dor. Eu sou extremamente pessimista. Se eu pensar que os problemas estão acumulados e olhar para essa lista de pré-candidatos é desesperador. A única característica que a gente tem de irrevogável é que o próximo prefeito sempre vai ser pior do que o anterior”, dispara o especialista.

Na opinião de Arrais, uma das demandas para um salto qualitativo significativo em Goiânia é a Comurg.

“A gente tem que salvar essa cidade, e salvá-la passa por salvar a Comurg. Digo mais: acho que temos que pagar por isso. Se tem que ter mais R$ 100 ou R$ 200 milhões, não importa. Temos que pagar o preço pelo lixo que produzimos. Aqueles que ganham mais, e moram em lugares melhores, têm que pagar mais. Não é privatizando, porque em nenhum lugar deu certo, porque aqui vai dar?”, questiona Tadeu.

“A outra coisa é educação. Os pais não querem saber se o uniforme é rosa ou azul, querem saber de estrutura em tempo integral, para deixar o filho com tranquilidade. Então, tem que pagar bem os professores, dar estrutura”, conclui.

Para Pedro Célio, esse é um bom exercício de projeção. De início, ele ressalta duas grandes urgências afligindo a população da cidade.

“O serviço de transporte coletivo está horrível, praticamente insuportável para os usuários. Chega ser desumano ver as pessoas gastarem de uma hora e meia a duas horas no percurso rotineiro entre a casa e o trabalho. Na ida e na volta. Isso quando não há quebras nos ônibus. Esse drama completa-se com as demais questões de mobilidade urbana. Nas várias regiões, o trânsito na cidade está um caos. É inacreditável ver a obra do BRT inteirar dez anos sem previsão para ser concluída”, aponta.

Em seguida, Pedro Célio destaca que outra urgência é o serviço de atendimento público à saúde.

“Os postos precisam de melhorias nos equipamentos, de mais profissionais qualificados e de ampliar as especialidades para o primeiro atendimento. Por fim, cabe dizer que os problemas no trânsito/transporte coletivo e na saúde são hoje questões metropolitanas. Os gestores precisam entender e assumir que eles não serão solucionados se a ação da prefeitura acontecer isolada das ações das prefeituras vizinhas. De resto, cabe agora recuperar a gestão de Goiânia como um todo”, finaliza.

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