O que melhora a vida do cidadão é menos governo no seu dia a dia

A sabedoria popular consegue o prodígio de captar em um adágio uma filosofia de vida. Ao dizer que “em cada cabeça uma sentença” enfatiza uma verdade muito presente no nosso dia a dia. A verdade absoluta é que somos essencialmente desiguais e que mereceríamos assim ser tratados. A padronização é uma política humanamente indesejável. Por isto nunca deveríamos conceder a terceiros o direito de impedir que sejamos felizes à nossa maneira.

Um indivíduo místico, um franciscano por exemplo, que faça um voto de pobreza, tem o direito de abster-se dos confortos da modernidade. Uma política de igualdade que os obrigasse a usufruir dos “luxos” da vida moderna seria uma violência ao seu direito de fazer da abstinência a razão da sua felicidade. Assim como são violências, aos que prezam a liberdade individual, inúmeras obrigações impostas pelas autoridades governamentais. Os governos excedem os limites de tentar escolher o que faz o cidadão feliz, privando-o do direito de escolha.

O incrível é não existir, pelo que se saiba, um só franciscano pedindo leis que os privem de uma vida miserável, da castidade, mas, ao contrário, abundam cidadãos pedindo a interferência governamental em suas vidas. Pedem sempre mais governo sem levarem em conta estar alienando a sua autonomia.

Pedir mais governo é um vício que pede castigo. Deixar ao governo o direito de cuidar da nossa vida, nas coisas que deveriam ser resolvidas por cada um, é acreditar que ele sabe melhor do que nós o que nos faz feliz. E quando somos atormentados com tantas leis e regulamentos, que infernizam o nosso dia a dia, não lembramos que fomos nós que pedimos mais governo.

Será um avanço civilizatório o dia em que recusarmos o nosso apoio aos governos que se intrometem nas nossas vidas e que não se limitam às externalidades — as grandes questões que ultrapassam o nosso poder de ação.

O jurista e historiador Alexis de Tocqueville, na sua viagem à América, ficou impressionado como lá a sociedade organizava-se em associações para enfrentar os problemas comuns. A escritora Ayn Rand viu no individualismo dos americanos a causa da sua prosperidade.

No Brasil, em passado não muito distante, a sociedade acudia os menos favorecidos pela sorte com as Santas Casas de Misericórdia e os seus asilos, que eram administrados por religiosos. Entidades que foram sacrificadas pela política social dos governos, que em vez de dar verbas a essas entidades, as exploram com pagamentos ridículos, inferiores aos custos dos serviços prestados aos carentes. Os governos com os seus programas sociais estatizaram a caridade.

Ninguém nega a necessidade de uma rede de proteção aos desprivilegiados. Um SUS privatizado e uma política de preços justos às Casas de Caridade, pagas com vouchers, devolveriam aos usuários o direito de escolher.

 A história do nordestino Severino

Um caso que merece destaque, para mostrar como a felicidade é um bem relativo é a história do Severino. Ele, recém-chegado do Nordeste, vivia de esmolas nas esquinas até que uma alma caridosa lhe deu um emprego. Tinha mulher e três filhos pequenos. Era um tipo raquítico, nos seus 30 anos que aparentava muito mais idade pela falta de dentes e acentuada calvície. Era visível que Severino passava fome.

O emprego deu-lhe uma carteira de trabalho, salário fixo e direitos trabalhistas. Para enfrentar o primeiro mês, conseguiu o adiantamento para ser descontado no pagamento mensal.

A vida corria bem para o Severino, menos o apelido de “Careca”, que o incomodava muito. Trabalhava com a dedicação de quem valorizava o emprego. Foi bem no trabalho para surpresa dos colegas que não acreditavam que uma pessoa acostumada à esmola fosse submeter-se à disciplina de uma empresa. Mas a surpresa foi geral até o dia do pagamento.

Severino recebeu o saldo do salário e pediu carona para o comércio a um amigo que tinha uma moto. No dia seguinte, surpreendeu a todos quando chegou para bater o ponto de chapéu.

Os companheiros perceberam que algo de estranho tinha acontecido. Um dos mais íntimos o interpelou: “Oi, Careca. Você está estranho. O que aconteceu?” 

Severino, com um grande sorriso nos lábios, tirou o chapéu para exibir uma peruca novinha em folha. Estupefação geral. E a pergunta inevitável: “Quanto custou essa peruca?” Severino de peito cheio respondeu: “Comprei em 10 prestações e dei de entrada o salário que recebi, ontem. Realizei o sonho da minha vida — agora ninguém mais vai me chamar de Careca”.

A comida para a família era menos importante para ele do que a peruca. O monge passa fome, o careca compra uma peruca e, assim, cada um decide a sua maneira de ser feliz.

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