Entenda por que o PCC movimenta 2 bilhões de reais no Brasil

A sofrível segurança pública do Brasil — a alta criminalidade, inclusive as dezenas de milhares de assassinatos que o país registra a cada ano — não se deve a fatores desconhecidos.

Parte se deve à impunidade que grassa no país, talvez como em nenhuma outra parte do mundo.

Mas é inegável que — e quem é do ramo sabe bem disso — deve-se ao tráfico de drogas a esmagadora maioria dos crimes cometidos dentro de fronteiras brasileiras. As autoridades responsáveis, talvez preocupadas com problemas mais comezinhos, talvez por ignorância pura e simples, não têm dado ao problema a atenção que merece.

Não poderiam essas autoridades ignorar que a atividade mais lucrativa no mundo de hoje é o tráfico de drogas; que o Brasil está cercado pelos maiores produtores; que o país é rota obrigatória da droga exportada para os Estados Unidos e a Europa; que existem grandes organizações criminosas brasileiras que dispõem de recursos abundantes e exércitos armados (uma estimativa modesta da ONU afirma que apenas o PCC movimenta 2,5 bilhões de reais por ano no Brasil). Não poderiam ignorar, mas ignoram, ou fazem que tal, e não agem no enfrentar o problema.

O resultado é a insegurança nas ruas, a dizimação da juventude mais pobre, o afugentamento dos turistas, a morte de policiais e tanta coisa mais.

Recentemente, algo assustador vem se juntar a esse quadro de infelicidades. Falo da possível aproximação do narcotráfico com os governos. Casos já existiram de uma intensa comunhão entre tráfico e altas autoridades, como ocorreu na Bolívia quando governava Evo Morales, e não foi o único caso do que se convencionou chamar de Narcoestado. Nem é preciso evidenciar a tragédia que representa isso.

Pois bem: estamos assistindo no Brasil uma série de pequenos fatos, envolvendo traficantes e autoridades, que ao menos acendem um alerta. Se uma série de pequenos acontecimentos semelhantes pode significar algo maior a caminho, é hora de tomar providências, a menos que o que se quer seja justamente que venha essa grande ocorrência.

O tráfico sonha em se aproximar do governo, qualquer governo. Cabe às autoridades, e quanto mais elevadas maior sua responsabilidade, repudiar, com todas as forças essa aproximação espúria. Mas isso está acontecendo? Examinemos uma sucessão de notícias que devem deixar o leitor atento, e muto mais que ele as autoridades, principalmente a nível federal.

1

O mistério de Marcola em Brasília

Marcos Willians Camacho, o Marcola, está condenado a 300 anos de cadeia. É, possivelmente, o mais importante chefe de facção criminosa preso no Brasil, e líder do Primeiro Comando da Capital (PCC), mais poderosa multinacional do tráfico no país, verdadeiro Estado dentro do Estado.

Marcola estava confinado em presídio de segurança máxima em Porto Velho, onde dificilmente conseguiria comandar as ações do PCC. As medidas de segurança e contato, naquele presídio, são rigorosas. Menos de um mês após a mudança de governo, em 26 de janeiro deste ano, Marcola foi transferido para a penitenciária federal de Brasília, onde as facilidades de contato são outras, e já estão sendo aproveitadas pelo bandido, como a imprensa noticiou.

Nada mais misterioso que o motivo dessa transferência, pois é pouco ou nada aceitável a desculpa do governo de que Marcola planejava uma fuga. Mas não seria mais fácil a fuga de uma penitenciária comum do que de uma de segurança máxima? Eis uma pergunta sem resposta.

2

Ministros no complexo da Maré

Por duas vezes, ministros do governo estiveram no complexo carioca da Maré, local com forte presença do tráfico e extremamente perigoso, sem aparato de segurança, e parecendo perfeitamente à vontade.

Tiveram contatos com liderança comunitárias, mas não poderiam ignorar o perigo de um atentado, a menos que tenham recebido um salvo-conduto das organizações criminosas. Aconteceu com Flavio Dino, da Justiça, em março do ano passado, e com Anielle Franco, da Igualdade Racial, em junho. Esta, aliás, desfilou de moto, sem capacete. Para ser reconhecida e não sofrer atentado? Perguntou-se. 

3

Dama do Tráfico e Tio Patinhas

Luciane Barbosa Farias, a Dama do Tráfico | Foto: Reprodução

A chamada “Dama do Tráfico”, Luciane Barbosa, é casada com Clemilson Faria, o “Tio Patinhas”, um dos líderes do Comando Vermelho no Amazonas.

Mulher e marido são condenados pela justiça a penas severas (ela a 10 anos, Clemilson a 31), por crimes ligados ao tráfico. Ele está preso e ela recorre em liberdade à terceira instância.

Luciane esteve por duas vezes, no ano passado, no Ministério da Justiça e conversou com ao menos quatro assessores do então ministro da Justiça, Flávio Dino, alegadamente reivindicando facilidades prisionais. Uma das viagens de Luciane a Brasília teria sido — pasme — paga com dinheiro do Ministério de Direitos Humanos, o que teria ocasionado até um pedido de impedimento do ministro Silvio Almeida.

4

Vai-Vai e Beto bela Vista

O mesmo ministro, Silvio Almeida, desfilou no carnaval deste ano, na escola de samba Vai-Vai.

Se já é estranho um ministro desfilar em escola de samba, o fato fica ainda mais estranho quando essa escola tem como financiador Luís Roberto Machado de Barro, o “Beto Bela Vista”, tido como um dos chefes do PCC em São Paulo.

Como se não bastasse, uma terceira estranheza: essa escola, em seu desfile, criticou as ações policiais e retratou a polícia como demoníaca, o que gerou protestos pelo Brasil afora. 

5

Prefeitura de São Paulo e PCC

Recente reportagem do jornal “Estadão” denuncia o uso de empresas de transporte ligadas à Prefeitura de São Paulo para lavagem de dinheiro pelo PCC.

6

Bens de André do Rap

André do Rap, traficante | Foto: Reprodução

Uma incrível decisão do Superior Tribunal de Justiça devolveu, no ano passado, bens apreendidos do megatraficante André Oliveira Macedo, o André do Rap (entre eles um helicóptero e uma lancha).

E o caso é mais sério: André está foragido há mais de três anos, após ser solto por decisão também incrível do STF.

7

Fuga do presídio de Mossoró

Fato nunca antes acontecido em um presídio federal de segurança máxima: Dois membros do Comando Vermelho conseguiram fugir do presídio de Mossoró (RN), no mês passado.

Rogério Mendonça (o Querubim) e Deibson Cabral (o Tatu) são pistoleiros encarregados das execuções determinadas pelo tribunal da facção. Condenados a mais de 60 anos cada um, tinham sido transferidos de outro presídio, no Acre, para Mossoró, em setembro passado.

Como conseguiram driblar a rigorosa vigilância do presídio de Mossoró é algo envolto em bruma. Ao que parece, também, uma rede de apoio fora do presídio havia sido montada. Tudo estranho e, ao que parece, planejado e com apoio de alguém do sistema prisional.

Apesar da repercussão, e da aparente ação do governo federal, os bandidos continuam foragidos. E o fato se repete, dias depois, com a fuga de dois criminosos do presídio de segurança máxima estadual de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.

Tudo muito preocupante, os fatos inusitados se sucedendo, mas aparentemente sem causar abalo nas autoridades responsáveis. Alerta, Brasil!

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