Livro infantil de Adélia Prado mostra como as memórias revelam quem somos

Soninha Santos

Especial para o Jornal Opção

A poeta mineira Adélia Prado, 88 anos, uma das maiores expressões da literatura brasileira, consagrada nacional e internacionalmente (ganhadora do Prêmio Camões de Literatura, em 2024), tem um belo trabalho, também na Literatura Infantil. Isso se deu em 2006 quando publicou o livro “Quando Eu Era Pequena” (Record, 32 páginas), primeira história com “Carmela”, a personagem em destaque.

“Carmela Vai à Escola” (Galerinha Record, 32 páginas, ilustrado por Elisabeth Teixeira) nos chega como um sopro de nostalgia e sensibilidade. Faz lembrar a música “Meus tempos de criança “, de Ataulfo Alves. A saudade que o compositor e cantor sente da escola e da “professorinha que me ensinou o beabá”, como afirma esse trecho da música é um verso carregado de sentimentos e saudosismo poéticos, por assim dizer.

Carmela, a personagem da história, nos leva a um tempo em que a escola era bem diferente de hoje em dia porque os tempos eram outros, assim como a relação professor/aluno/escola também se encontrava em outro patamar.

Já no início percebe-se que a personagem está lembrando e sentindo saudades da escola. Ela retorna a esse período, iniciando a narrativa com o momento em que vai para a escola pela primeira vez, quando tinha 7 anos, o primeiro livro, as recomendações da mãe… ela diz que as lembranças se misturam, não fazem fila na mente. Lembra que não tinha noção da real pobreza da família, pois o pai fazia graça de tudo e a vida, pela percepção dessas lembranças, se fazia bonita, colorida e alegre.

Adélia Prado volta a esse tempo no coração de Carmela, e é difícil separar as duas, a poeta e a personagem, e o sentimento que despertam no leitor é o de que as memórias nos fazem bem, nos levam ao encontro de nós mesmos, ao nosso desejo de pertencimento, ou seja, nos fazem ver quem realmente somos.

O livro é capaz de fazer muitos adultos suspirarem, relembrarem e se reconectarem com o passado. Se assim for, o que dirá das crianças que o descobrirem?

Lembrar é bom, faz bem, e criança que aprende isso com a família ou com a escola, pode querer tecer uma história bonita, diferente da mesmice para, também, ser recordada e recordar no futuro. Lembrar humaniza, isso não deve ser esquecido jamais.

Soninha Santos, crítica literária, é colaboradora do Jornal Opção. É especialista em literatura infanto-juvenil.

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