Segunda ilha com a maior densidade de cobras do mundo fica no Brasil: “Elas te olham nos olhos”

Localizada a 35 quilômetros da costa paulista, entre Itanhaém e Peruíbe, a Ilha da Queimada Grande, popularmente conhecida como Ilha das Cobras, abriga a segunda maior densidade populacional de cobras do mundo. Com aproximadamente 430 mil metros quadrados de solo rochoso, a ilha é um verdadeiro ecossistema único, onde apenas pesquisadores e profissionais ambientais têm permissão para desembarcar. 

O biólogo Eric Comin, que já visitou o local diversas vezes, compartilha ao G1 suas experiências e ressalta os desafios enfrentados pelos cientistas que se aventuram por esse habitat repleto de serpentes.

A Ilha da Queimada Grande é famosa por sua população de serpentes, com cerca de 2.500 cobras, a maioria pertencente à jararaca-ilhoa (Bothrops insularis), uma espécie endêmica e altamente venenosa. De acordo com Comin, o acesso à ilha é restrito devido ao risco que essas cobras representam. Durante a visita, um especialista que acompanhou a expedição foi abrindo o caminho, tirando as cobras do chão para que os pesquisadores consigam caminhar. “Ele espanta do chão, vai tirando elas para a galera passar”.

Ilha da Queimada Grande | Foto: Marinha do Brasil

O biólogo destaca que as cobras não são agressivas e geralmente observam os humanos com curiosidade. “Elas só te olham, aquela coisa de te olhar nos olhos, é bem interessante”, afirma Comin. Apesar de sua aparência fascinante, ele admite que desembarcar na ilha pode ser uma experiência intimidadora. “Criei coragem, desembarquei. Hoje desembarcaria? Não sei, eu já desembarquei, acho que hoje eu não tenho mais a necessidade […], mas ir para lá para mergulhar, é só me convidar que eu vou”, revela.

A Vida Marinha ao Redor

Embora o acesso à ilha seja restrito, o mergulho nas águas ao redor é permitido e oferece uma oportunidade única de explorar a rica biodiversidade marinha da região. Comin observa que “essa serpente não vai para a água”, o que significa que os mergulhadores podem desfrutar do ambiente sem se preocupar com encontros indesejados.

O biólogo descreve o mar em torno da ilha como “um verdadeiro hotspot de conservação”, repleto de espécies migratórias e uma variedade de peixes e corais.

Entre as espécies marinhas encontradas nas proximidades estão raia-manta, raia-chita e até mesmo tartarugas. “Temos mergulhos para todos os níveis, temos naufrágios, que acho que é um grande atrativo para o turismo de mergulho”, acrescenta Comin. Ele enfatiza que as condições das águas são geralmente limpas durante quase todo o ano, tornando a região um destino ideal para mergulhadores.

A Jararaca-Ilhoa: Uma espécie endêmica

A jararaca-ilhoa é uma das principais atrações da Ilha da Queimada Grande e possui características únicas que a diferenciam de outras cobras. Comin explica que essa espécie se adaptou ao seu ambiente isolado devido à falta de predadores naturais e à necessidade de caçar aves que visitam a ilha. Ela se adaptou na ilha devido a um isolamento geográfico da glaciação. Essa adaptação resultou em um veneno extremamente potente, capaz de incapacitar rapidamente suas presas.

Com cerca de um metro de comprimento, a jararaca-ilhoa não cresce muito, mas sua picada é equivalente à de quatro jararacas comuns. “É muito forte”, alerta Comin. Ele também menciona experimentos realizados em conjunto com pesquisadores do Instituto Butantan, onde observou o comportamento da cobra durante suas caçadas. “Era assim: você soltava o camundongo, ele passava perto dela, ela dava o bote e ele já estava morto. Eu nunca [tinha visto] coisa dessa”, conta ele.

História

A história da Ilha da Queimada Grande remonta ao século XVI, quando foi avistada pela primeira vez por exploradores portugueses. O nome “Queimada Grande” deriva das queimadas realizadas por pescadores na tentativa de afastar as cobras do local. No entanto, essas práticas prejudicaram ainda mais o ecossistema da ilha.

Durante o século XIX, um farol foi instalado na ilha pela Marinha do Brasil e mantido por faroleiros até 1925. Desde então, a ilha tornou-se um refúgio para as serpentes e um importante local para pesquisas científicas.

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