Uma crônica sobre a saúde pública que não deveria ser escrita

Que me perdoe o leitor se falo, em época de Natal, em algo tão triste e deprimente. E se repito o que já bradei em outras ocasiões. Mas não podemos nos calar frente aos absurdos, principalmente se atingem tão duramente, de maneira tão injusta, os de menos recursos e que não têm voz na imprensa ou nas tribunas.

Já se tornaram corriqueiras as mortes de trabalhadores brasileiros por falta de leitos em Unidades de Terapia Intensiva, as UTIs. No mês passado, apenas em Goiânia, e no curto espaço de duas semanas, seis mortes ocorreram nessas circunstâncias: pessoas aguardando o tratamento intensivo em corredores de hospitais ou unidades  de saúde morreram à míngua. No dia 25 de novembro passado, reportagem de Thauany Melo no portal g1 Goiás relatava com detalhe essas seis ocorrências trágicas. Pode-se imaginar o que ocorre no Brasil todo. Aliás, nem é preciso imaginar.

Uma reportagem do jornal El País, em 2020 denunciava que, em apenas seis estados, mais de 4 mil pacientes com COVID haviam morrido por falta de leitos de UTI. É uma tragédia anunciada: Um estudo feito pela revista Exame, durante a pandemia, mostrava que em tempos normais, pela Organização Mundial da Saúde, a OMS, deveriam existir no país cerca de 60 mil leitos de UTI. Existiam menos de 40 mil, com um agravante:  distribuídos por apenas 10% dos municípios brasileiros. Em tempos de pandemia, talvez três vezes isso seriam necessários.

Digamos que, para um mínimo de tranquilidade no atendimento em tempos normais, deveríamos implantar mais 40 mil leitos de UTI, principalmente pelo SUS e nos municípios menos assistidos. É fato que não bastam os leitos – são necessários os atendentes de saúde especializados. Mas é fato também que sem os leitos, não há que se falar em novos atendentes ou atendentes existentes sendo treinados. O que surge primeiro: o ovo ou a galinha? É necessário que se comece urgentemente a atacar tão grave problema, que tantas vidas – humildes principalmente – rouba por esse Brasil afora.

Mas faltam recursos – dirá com certo enfado o petista acomodado nos altos escalões do ministério da Saúde, com seu bom salário e que é atendido nos melhores hospitais. O próprio ministro da Saúde vai fazer essa afirmação, e talvez também o presidente da República. Mas repito aqui o que já disse há uma década, sobre esse mesmo problema, provando que ele não é novo, e que é o descaso e não a falta de dinheiro que o faz tão grave.

Faltou dinheiro ou sobraram desmandos da gestão petista?

Perdoe o leitor que já leu o que eu disse na época dos mandatos de Dilma Roussef, quando a “Presidenta” resolveu brincar mais uma vez de comunista e fazer cortesia em Cuba com o chapéu do trabalhador brasileiro, aquele mais pobre, que tira da mesa e da educação dos filhos o dinheiro com que paga os escorchantes impostos nacionais: Em 2012, Dilma esteve em Cuba, anunciando ao ditador Raúl Castro que o Brasil financiaria as obras do porto de Mariel, a 40 km de Havana.

As obras seriam feitas pela Odebrecht (sem concorrência, é claro, e a preços compostos pela empreiteira, como de praxe). Custariam no final, cerca de 1 bilhão de dólares e seriam financiadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o BNDES. Era o financiamento, curiosamente, garantido não pelo financiado, mas pelo financiador, o próprio governo brasileiro, através do Fundo de Amparo ao Trabalhador. Nesta coluna foi dito, então, que não receberíamos um tostão desse financiamento, pois Cuba não tinha como garantí-lo e nem pagá-lo, pois era uma ditadura miserável, que sofria falta até de alimentos.

Em 2014, uma Dilma risonha e um sisudo Raúl Castro inauguravam as obras, na presença de outros ditadores, como Maduro e Evo Morales, e repetíamos que o empréstimo era na verdade uma doação, pois Cuba não tinha como pagá-lo, como nunca pagou um tostão (e lá se vão dez anos de parcelas vencidas). Dilma fazia cortesia comunista com o chapéu de palha (esfarrapado) do trabalhador brasileiro. Isso sem falar da corrupção embutida no negócio.

Duas boas perguntas, leitor, que já vão com as respostas: Primeira: Quanto custaria ao Estado brasileiro a implantação de 40 mil leitos de UTI para evitar que nossos trabalhadores continuassem a morrer por desassitência? Cerca de 1 bilhão de dólares, dizem os entendidos (ou menos, pois parte poderia ser financiada para a rede privada de hospitais, que honraria por certo o financiamento). Segunda pergunta: Quanto o mesmo Estado brasileiro doou a Cuba (pois não vai receber nunca) para construção do malfadado Porto de Mariel? Isso mesmo, 1 bilhão de dólares, justamente aqueles que os petistas diriam faltar para implantar as UTIs.

Como podemos ver, ao menos nesse caso das UTIs, tão importante para a saúde do brasileiro, o que faltou não foi o dinheiro. O que faltou foi atenção, foi interesse, foi competência. Faltou responsabilidade, faltou vergonha e talvez honestidade.

E para terminar, provando em definitivo que não é por falta de dinheiro que faltam UTIs, o que faz a saúde de trabalhador brasileiro tão ruim: Em fevereiro de 2021, nesta mesma coluna, contávamos a feia história de como o PT (leia-se Dilma e Lula) havia, em 2011, tentado salvar o mandato do presidente paraguaio, o bispo Fernando Lugo, ameaçado de impeachment.

Montaram um esquema político para dar, indevida e extemporaneamente, um aumento na tarifa de energia de Itaipu que o Brasil pagava ao Paraguai. Esse aumento custa ao Brasil mais de 200 mil dólares/ano, desde 2012, ou seja, até hoje, mais de 2 bilhões de dólares que o brasileiro pobre pagou a mais, nas contas de energia ou nos impostos, para tentar (apenas tentar, pois acabou “impichado”) manter no cargo o bispo “companheiro” paraguaio. Não me falem pois, em falta de dinheiro. Me falem em falta de vergonha e em impunidade.

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