Sandro Mabel: “Em 2026, vamos investir pelo menos R$ 1 bilhão em obras por ano”

Em abril deste ano, o então pré-candidato Sandro Mabel (UB), em entrevista ao Jornal Opção, fazia uma radiografia dos problemas da cidade. Já na ocasião, ele apontava que a zeladoria, a saúde e a educação municipais tinham problemas com gastos exagerados, processos desnecessários e mal uso de seus recursos humanos. Mabel afirmou ainda que o eleitor saberia reconhecer nele a experiência em gestão, e que seria eleito para fazer a máquina municipal funcionar.

Nesta semana, Sandro Mabel (UB) retorna à redação do Jornal Opção como prefeito eleito em uma demonstração de que sabia do que estava falando. Já por dentro da Prefeitura via equipe de transição, Mabel tem evidências da ineficiência que diagnosticou no início do ano. Desta vez, além de descrever com precisão os problemas, o prefeito eleito narra o passo a passo da solução: corte de gastos, implementação de sistemas de controle e governança, zero tolerância com corrupção. 

Após sanear a Prefeitura em 2025, Sandro Mabel afirma que passará a imprimir sua marca na gestão da cidade. O prefeito eleito pretende investir na modernização da capital, fazendo com que as secretarias funcionem orientadas por resultados. Em sua visão para a Capital, em breve Goiânia se transformará em modelo para o país.

“A Comurg não pode ser infinita. Precisamos fazer cortes para que a Comurg se sustente”

Ton Paulo — O senhor disse recentemente que pretende fazer uma economia de pelo menos R$ 800 milhões com a Limpa Gyn e Comurg, que hoje custam mais de R$ 1 bilhão por ano a Goiânia. Como vai fazer isso sem deixar o município desguarnecido dos serviços de zeladoria? 

O município, para se manter limpo, precisa de R$ 300 a R$ 400 milhões por ano. Hoje gastamos R$ 1,2 bilhões. Teremos momentos difíceis para essas companhias pela frente — já avisei desde a campanha que eu iria fazer cortes, e que quem quer trabalhar vai continuar a trabalhar, mas há gente demais que não trabalha, que está no meio de rolo, e esses serão cortados. Eu disse durante as eleições a essas pessoas: “não precisa votar em mim, pois vou pôr para fora”.

Na Comurg, as pessoas que trabalham gostam desse discurso, porque sabem a razão de a companhia ser ineficiente. O fato é que a Comurg não pode ser desse tamanho, ela tem de ter fim algum dia. Nós “resolvemos resolver” esse problema. Vocês já viram o organograma da Comurg? Tem 39 páginas — é uma infinidade de superintendências, diretorias, gerências de gerências… não tem cabimento.

Uma companhia que fatura R$ 50 milhões por mês tem mais de 300 funcionários que ganham acima de R$ 15 mil por mês. Enquanto isso, o varredor não tem vassoura, o catador de lixo não tem saco. São números assustadores, feitos para não funcionar. É uma companhia dominada por sindicatos, uma coisa antiga, uma estrutura viciada, corrupção pra tudo quanto é lado. No meio, há gente que trabalha — os pequenos trabalham, e terão mais trabalho ainda no futuro. Nós temos que ir adequando, preparando, dando o uniforme, dando o carrinho certo, dando a alimentação certa, dando condições para os funcionários. 

Sandro Mabel concede entrevista aos jornalistas Italo Wolff, Fabrício Vera, Ton Paulo e Patrícia Moraes | Foto: Guilherme Alves/ Jornal Opção

Italo Wolff — O senhor mencionou cortes de gastos em outras áreas. O mesmo pensamento vai se aplicar na educação?

Sim. Nós temos mais de 6 mil servidores de educação com atestado médico. Isso não é possível, não pode ser. Existem funcionários afastados com atestado médico há mais de seis anos;  que conversa é essa? Alguma coisa está errada. Mais de 2 mil professores estão fora de sala de aula, em funções administrativas. Eles têm de voltar para as funções que foram preparados para exercer. 

Temos cerca de 80 agentes da Guarda Civil Metropolitana (GCM) em funções administrativas de outros órgãos. Enquanto o trânsito está um caos, existem 171 agentes que estão em desvio de função. Há muitos 1.170 aposentados que continuam trabalhando na Prefeitura — desde 2019, é proibido fazer isso em companhias públicas, mas eles estão lá. 

Então, as coisas têm de ir para o lugar. Não significa que vou cortar esse pessoal de um dia para o outro, não posso fazer isso. Mas vou fazer um acerto com eles e vou ajustando a coisa. Sei que é impossível economizar R$ 800 milhões na Comurg no primeiro ano, mas temos de caminhar em direção a esse objetivo a médio prazo, e vamos conseguir. 

Italo Wolff — Existe a obrigação de investir 15% do orçamento em saúde; em Goiânia se gasta 24%. Como vê os gastos em Saúde?

Estamos gastando 24%, mas o orçamento tem 34% dos gastos previstos para a saúde na Lei Orçamentária Anual (LOA). O gestor pensa que pode gastar 34% para não ter saúde; por isso um parto na maternidade chega a custar R$ 30 mil. A Unimed paga R$ 2.600 em um parto. Se perdeu completamente o controle. Não se trata de falta de recursos; a Saúde em Goiânia entrou em crise por outras razões. 

Vamos trabalhar com sistema de custos dentro de todas as unidades de saúde. As consultas em algumas unidades de saúde de Goiânia custam R$ 500, e quando olhamos o balanço no final do mês, percebemos que a unidade fez uma consulta apenas. Por que não estão cumprindo para que foram contratados? Precisa ter controle.

Vamos ter que trabalhar: quem foi contratado para ser médico da família, tem de ser médico da família. Ele vai ser monitorado, vai ter controle para verificar se foi na casa do paciente, se está cumprindo seu roteiro. As pessoas fingem que trabalham. O negócio, solto do jeito que tá, jamais vai funcionar.  

Sou especialista em gestão. A prefeitura vai ter números para apresentar. Eu estou muito animado, porque vamos implementar rapidamente um sistema que vai fazer a cidade andar. 

Patrícia Moraes — Todas essas medidas vão colocar um estresse sobre a relação da Prefeitura com os vereadores. O senhor já afirmou que vai reduzir a intervenção deles no Paço com escolhas de indicados políticos. Como pretende fazer com que a sua relação se mantenha amigável ao longo do mandato?

A verdade é que eu gosto de vereador. Fui parlamentar por 20 anos, fui por 10 anos líder de partido, eu tinha 50 deputados na bancada, estou acostumado a lidar com isso. Não tenho problema algum com o Legislativo, pretendo trabalhar com ele. Mas o vereador tem de entender que a fase atual acabou. Sem Rogério Cruz (SD), a relação voltará a ser normal.  Temos de entender que estamos atravessando essas crises, que a Prefeitura de Goiânia está do jeito que está, por conta de uma forma de trabalhar que não pode mais continuar. 

“Gosto de vereador, mas o parlamentar tem de entender que a fase atual acabou. A relação entre Paço e Câmara voltará a ser normal”

Até aqui, os vereadores tinham secretarias inteiras fechadas, de cabo a rabo, podiam fazer  tudo do jeito que queriam. Alguns vereadores têm indicações em três, quatro secretarias. Agora, queremos fazer um governo mais técnico. Isso não impede que pessoas que o vereador considera competentes sejam indicadas. Não tenho problema com o Legislativo participando do governo, mas não podemos admitir a indicação de quem não tem nem uma experiência em gestão. Não posso colocar parentes de cabos eleitorais em cargos que eles não têm a menor competência para ocupar. 

Acho que os vereadores já começaram a entender isso. Às vezes, temos alguns atritos, conversas ásperas. Mas acredito que todos os vereadores vão se convencer quando verem que a cidade está andando; quando perceberem que vão realizar muita coisa em seus mandatos. São eles que vão entregar as escrituras de casas feitas pela Prefeitura, por exemplo, não serão os meus secretários (inclusive, tentei escolher secretários sem pretensão de se candidatar).

“A LOA prevê 34% do orçamento para a saúde; por isso cada parto chegou a custar R$ 30 mil . Goiânia não entrou em crise por falta de recursos, mas por outras razões”, diz Sandro Mabel | Foto: Guilherme Alves/ Jornal Opção

Patrícia Moraes — Qual a real situação da dívida da Prefeitura? 

A situação da Prefeitura é grave. Vamos decretar no dia 1º de janeiro situação de calamidade financeira e calamidade em saúde. A dívida corrente é de R$ 1,6 bilhões. Apenas na saúde temos R$ 500 milhões de dívidas; no Instituto Municipal de Assistência à Saúde dos Servidores de Goiânia (Imas) são mais de R$ 200 milhões. Várias secretarias têm dívidas com fornecedores. Na Comurg são quase R$ 600 milhões, fora impostos. 

Italo Wolff — Como está a relação com a transição? Existe 100% de clareza da situação?

A relação é boa, gosto do secretário de Finanças Cleyton da Silva Menezes, mas não temos 100% de clareza da situação. Ainda falta uma série de dados. Uma coisa que me tranquilizou foi a declaração de Cleyton Menezes de que eles vão pagar toda a folha de 2024 e devem pagar os precatórios também. Nesse ano, é obrigatório o pagamento de R$ 180 milhões em precatórios.

Patrícia Moraes — Não existe intenção de privatizar Imas, Comurg, Zoológico?

A princípio, não. Primeiro, queremos entender esses órgãos. Até porque o zoológico custa R$ 6 milhões por ano e tem uma arrecadação de menos de R$ 120 mil — por quanto vamos vender um negócio desses? Não tem viabilidade. 

Um pessoal sugere privatização, outro quer o fechamento, outros falam em recuperação judicial, alguns querem que liquide — cada um quer uma coisa. Mas quando tomamos uma atitude dessas, nós puxamos a dívida para dentro da Prefeitura. Não posso fazer isso; tenho de limpar a Comurg e fazê-la funcionar primeiro. 

É possível e é melhor sanar as dívidas da Comurg antes de falar em liquidá-la, até porque ela tem recursos a receber. Existe a venda da pedreira que pertencia à Companhia Municipal de Pavimentação (Compav) e hoje é um ativo da Comurg, por exemplo. Farei uma série de medidas para organizá-la. Primeiro, coloquei dois coronéis lá dentro, coronel Kleber, que foi da Fundação Tiradentes e tem boa experiência em gestão, e o coronel Ricardo Mendes, que deverá ir para lá ajudar na parte organizacional, pois foi da área de logística e de relações institucionais. Temos de trazê-la para o rumo certo. 

Sandro Mabel: “Alguns querem privatização, outros recuperação judicial da Comurg. Mas, não podemos puxar essa dívida para dentro da Prefeitura. Temos de limpá-la e fazê-la funcionar” | Foto: Guilherme Alves/ Jornal Opção

Patrícia Moraes — Além do Mabel que corta e economiza, o que a população pode esperar do Mabel gestor, que coloca sua identidade na gestão? Quais serão suas características?

Vocês verão o poder da gestão nos primeiros 100 dias. O trânsito vai evoluir, o lixo vai funcionar. Em 2026, pretendo investir R$ 1 bilhão em obras por ano. Em dois anos, Goiânia vai ser a capital modelo em transporte público do país. Quem vai comandar o trânsito vai ser o transporte coletivo. 

O BRT vai deixar de parar em tudo quanto é esquina porque os sinaleiros são desajustados; ele vai sair de uma estação parar apenas na próxima, com quase nenhum cruzamento no caminho.  Isso será dirigido pelos sinaleiros inteligentes, com uso de inteligência artificial para evitar engarrafamentos. 

Patrícia Moraes — Esse R$ 1 bilhão de investimento em obras, qual será o principal direcionamento?

Em 2025, temos principalmente de arrumar a saúde. A educação tem hoje um investimento baixo, porque desperdiça muito. Quero que a educação custe 16% do orçamento e tenha mais sete por cento de investimento. Vamos informatizar escolas, construir escolas novas, tirar essas escolas de placa, colocar computadores, aulas de robótica, computação, mudar a característica da formação desses meninos.

Nos CMEIs, é preciso estimular as crianças, dar comida boa, com nutrientes certos, com cardápios controlados, porque a formação cognitiva da criança é fundamental. Se fizermos tudo certo, veremos crianças com 5, 6 anos alfabetizadas. O resultado vai aparecer quando crescerem. Recentemente, uma promotora falou que eu tinha de construir uma quantidade de CMEIs; eu disse “Eu tenho é que colocar 10 mil meninos na escola urgentemente; se a escola é particular conveniada, filantrópica, pública, pouco importa. Não vou largar os meninos em casa sem comer direito”.

Ton Paulo — Goiânia tinha sido a única Capital a não aderir ao programa do governo federal Escola em Tempo Integral. O senhor foi a Brasília, conseguiu reverter essa situação e fazer a adesão. Como é que ficou essa questão?

Nós não conseguimos tudo que Goiânia poderia ter direito, até porque a cidade não usou a verba do ano passado. Mas nós conseguimos pegar mais ou menos 60% da verba a que teríamos direito se tudo fosse feito corretamente pela atual gestão, e vamos aplicá-la. Também conseguimos autorização para aplicar a verba não utilizada do ano passado. Quero investir firme nas escolas em tempo integral.

Vou devolver para a Secretaria Estadual de Educação suas atribuições, como o Ensino de Jovens e Adultos (Eja) de nível médio. Isso é da escola estadual, por que estamos fazendo isso? Quero qualificar os alunos da educação infantil e básica, que são atribuições do município. Precisamos fazer bem feito o que diz respeito a primeira infância, a educação fundamental e básica. As séries que cabem ao município.

Vou gastar 16% do orçamento para fazer funcionar a rede municipal, vou investir 7% e usar mais 2% como estímulo aos professores, bônus por resultado. Assim, vamos condicionar o gasto às coisas certas, fazendo bom uso do orçamento. Não adianta economizar em educação, você tem que gastar melhor, atingir metas do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). 

“É preciso estimular as crianças, dar os nutrientes certos com cardápios controlados. O resultado da boa formação cognitiva vai surgir quando as crianças crescerem”, diz Sandro Mabel | Foto: Guilherme Alves/ Jornal Opção

Fabrício Vera — O senhor tem ideias para o Centraliza, proposta de requalificação e revitalização do Centro de Goiânia? Qual é sua visão para o Centro?

Buscamos em Salvador algumas ideias interessantes que foram aplicadas lá e deram certo, alguns tipos de incentivo. Já conversei com Valdivino Oliveira, futuro secretário de Fazenda, que precisamos comprar o Jóquei Clube, que praticamente deve a Prefeitura, e podemos tirar aquele equipamento horrível no meio da cidade, arrumando-o, dando-lhe uma utilidade, como um centro gastronômico.

Vamos atrair comércio e movimento para todo o Centro da cidade, com Rua 3, Rua 4, Avenida Anhanguera, Rua 6, Avenida Goiás, Praça do Trabalhador. Esses locais precisam de maior funcionalidade. Queremos tornar a Estação Ferroviária uma espécie de Palácio da Cultura. 

Vamos entrar na Praça do Trabalhador, dar uma arrumada naquelas feiras — Feira Hippie e feira da Madrugada —, mudando o sistema de telhados, de drenagem de água. Hoje, quando chove, a água passa na mercadoria do pessoal. Vamos revitalizar a 44 com os empresários. Lá não vai mais ter camelô.

Não vou fazer “rapa”, vou entrar nas feiras, anunciar um programa para requalificar o camelô e dizer bem claramente: “Em fevereiro a fiscalização vai ser forte e permanente”. Quem estiver na rua, vai embora. Eu não posso colocar o camelô na porta do gol, onde passa todo mundo, atrapalhando as calçadas, porque lá será revitalizado e porque é injusto com os empresários. 

Isso tudo será um projeto de mais de R$ 20 milhões, feito naquela área por conta deles, dos empresários que estão lá. A parte da Prefeitura é a construção infraestrutura, drenagem — essa parte mais pesada, nós faremos, mas a revitalização tem de ter participação do empresário. 

Fabrício Vera — Como se pretende atrair o comércio para o Centro?

Primeiro, o Centro precisa de gente. Sem clientes, não há loja. Por que não há grandes farmácias e supermercados no Centro? Porque é um bairro com 9 mil habitantes com capacidade para 25 mil habitantes. Ele precisa estar totalmente ocupado. Vamos atrás dos prédios velhos da União, propor uma transferência, fazer uma reforma, oferecer isenções de impostos por um período para quem morar no Centro.

O centro é bom para estudantes, é bom para moradias nível 2 do Minha Casa, Minha Vida. Temos de repensar a ocupação do Bairro. Mas, para que as pessoas queiram se mudar para lá, o Centro precisa estar bonito, seguro, iluminado. É aí onde entra a secretaria de Gestão e Negócios Municipais. 

Italo Wolff — O senhor está falando em aumentar investimentos em um cenário de calamidade financeira. Além de cortar gastos, o senhor pretende contar com recursos extraordinários e emendas?

Com tudo que pudermos, mas há espaço para garantir recursos mesmo neste cenário. O zoológico, por exemplo, tem despesas de R$ 4 milhões por ano, mais uma folha de R$ 2 milhões, totalizando custo anual de R$ 6 milhões. Sua arrecadação é de R$ 120 mil. O que podemos fazer para reduzir esse déficit de R$ 5,82 milhões? Já fomos ao zoológico olhar se há patrocínios, propagandas, naming rights? Tem de ter. Há áreas onde empresários podem pagar pela oportunidade de oferecer uma degustação de seus produtos. Podemos passar para uma arrecadação de R$ 2, 3 milhões.

Sandro Mabel:“Aos credores da Prefeitura, eu digo: “tem o ‘carimbo Sandro Mabel’, pode confiar que vou pagar. Ter credibilidade facilita as coisas” | Foto: Guilherme Alves/ Jornal Opção

Patrícia Moraes — Qual sua opinião sobre o aterro de Goiânia?

Uberlândia gasta R$ 12 milhões por mês para fazer funcionar o aterro, coleta de lixo, poda de árvores, roçagem do mato, manutenção de calçadas, pintura de meio-fio. Uberlândia tem 60% do tamanho de Goiânia. Nós gastamos R$ 100 milhões por mês. Essa conta não fecha. 

O aterro pode ser recuperado e licenciado para durar mais 20 ou 25 anos, tranquilamente. Podemos tornar o biogás do aterro uma fonte de receita, ou energia elétrica, ou combustível de ônibus. Tudo isso pode ser desenvolvido. É um absurdo deixar o aterro como está, custando milhões, sem aproveitar o biogás, sem fazer tratamento biológico do chorume. 

Ton Paulo — Estamos em plena intervenção estadual em saúde…

O povo está adorando. A saúde nunca funcionou tão bem.

Ton Paulo — Como o senhor vai pegar a saúde a partir de janeiro?

Todos os dias me reúno com o gabinete de crise e posso afirmar que a intervenção deu muito resultado. Conseguimos junto ao governo do Estado integrar as ambulâncias do SAMU e Bombeiros e colocá-las para rodar; conseguimos reverter várias emendas parlamentares que já estão começando a chegar; arrumamos dinheiro adicional. As coisas estão andando.

Vou propor na região metropolitana a criação de uma central de ambulâncias do SAMU. Hoje, cada município tem as suas, mas a regulação é uma só, e é preciso melhor integração. As ambulâncias sabem onde são os pontos onde acontecem as chamadas diariamente, temos estatística disso. Não faz sentido levar as ambulâncias para uma central onde ficam aguardando serem chamadas até o outro lado da cidade. 

Outro ponto importante é que as ambulâncias chegam ao hospital hoje e ficam quatro, cinco horas esperando desocupar a maca, porque não têm onde pôr o doente. Já estamos estudando uma central de macas, isso já até começou. A ambulância vai chegar ao hospital, descarregar o doente, carregar a maca limpa e vai para outra chamada. Eu não posso ficar com a equipe inteira esperando eles arrumarem um lugar pra colocar o doente. Hoje, se a unidade de saúde não tem leito, eles seguram a maca. Nós precisamos deixar algumas ambulâncias para movimentar algum paciente que precisar.

Ton Paulo — Como está lidando com a questão das faltas de pagamento aos fornecedores e empresas gestoras?

Você já ficou devendo? O que se faz nessa situação é pagar o que se pode, prometer o pagamento futuro do que não é possível pagar agora, negociar o parcelamento, entrar em acordo para evitar multas e processos — é isso o que nós estamos fazendo. Eu estou fazendo isso pessoalmente. 

Os fornecedores e empresas gestoras estão abertos, porque enxergam que trabalhar com uma Prefeitura séria pode ser bom. Pessoalmente, garanto àqueles que o município ficou devendo que nós vamos pagar. Em geral, eles dizem “se você vai pagar, nós retomamos o serviço”. 

Resolvemos o problema de UTI negociando: o Hospital Ruy Azeredo abriu 20 leitos, a Santa Casa abriu mais 10, o Hospital das Clínicas abriu mais 16. Foi assim com a Santa Casa, que conseguiu fazer funcionar as cirurgias cardíacas em novembro. 

Tínhamos uma compra emergencial de remédios, conseguimos que Rogério Cruz autorizasse a compra, mas o fornecedor não queria vender para ele. Tive de ir atrás e dizer o que eu disse na campanha eleitoral, “tem o ‘carimbo Sandro Mabel’, pode confiar que vou pagar”. Ter credibilidade facilita as coisas.  

Fabrício Vera — O senhor pretende adotar um modelo de administrações regionais. O senhor pretende colocar vereadores ou ex-vereadores nessas administrações?

Não. Serão sete administradores regionais comandados por bons gestores, que gostem de atender os vereadores daquela região, que saibam lidar com as lideranças políticas — para isso, não podem ser vereadores. A pessoa tem de ser gestora. Se está faltando professor na escola, a responsabilidade é dele; esse administrador tem de saber o problema e solucioná-lo com o secretário de educação. Se falta médico em um posto de saúde, a mesma coisa. 

Isso funciona em São Paulo e em Brasília muito bem. A ideia é descentralizar alguns serviços. Você pega os problemas cotidianos — de buracos no asfalto à lâmpadas queimadas — e compara as administrações regionais. Por que uma é melhor do que a outra? É uma forma de identificar problemas. 

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