Cruzada de Trump contra a imprensa pode inspirar políticos brasileiros 

Nos dias que antecedem sua posse, Donald Trump, está realizando o que os jornais americanos apelidaram de Revenge Tour (turnê da vingança) contra a imprensa. Como uma porção dos políticos brasileiros se orienta pelas tendências lançadas nos Estados Unidos, vale a pena observar o comportamento do presidente eleito e aguardar o aumento do enfrentamento aos jornalistas também no Brasil. 

Trump está processando o Des Moines Register, principal jornal do estado de Iowa, por “interferência eleitoral descarada”. O jornal publicou pesquisa dias antes da eleição presidencial de 2024 que mostrava a candidata democrata Kamala Harris vencendo no estado, que é predominantemente republicano. No pleito, Trump venceu em Iowa por 13 pontos. 

O presidente eleito também entrou em acordo com a ABC News no valor de US$ 15 milhões (R$ 93 milhões). Ele processou o canal por difamação após sua vitória, pois um âncora disse falsamente que Trump foi condenado por estupro no ano passado (ele foi considerado responsável por abuso sexual, um crime diferente na lei estadual de Nova York).

“[O processo] Deveria ser movido pelo departamento de justiça, mas eu tenho que fazer isso”, o presidente eleito declarou na última segunda-feira, 23. “Custa muito dinheiro fazer isso, mas temos que endireitar a imprensa. Nossa imprensa é muito corrupta; quase tão corrupta quanto nossas eleições.”

A mensagem para a imprensa é clara: os detratores serão perseguidos, os convertidos serão perdoados. Trump perdoou, por exemplo, “Morning Joe” Scarborough e Mika Brzezinski, ao conceder ao casal de apresentadores uma entrevista dias após a eleição, em Mar-a-Lago. Em 2017, Trump havia chamado Scarborough de “psicopata” e Brzezinski de “Mika louca de baixo QI”. O tempo parece ter curado as mágoas. 

Trump também entrou com uma ação de US$ 10 bilhões contra a CBS por supostamente adulterar sua entrevista do programa 60 Minutes com Kamala Harris. Pendente em um tribunal federal no Texas, esse processo também se baseia em suposta violação de uma lei estadual de fraude ao consumidor. No início deste mês, a CBS moveu uma ação para rejeitar o caso.

Seth Stern, diretor da Fundação Americana pela Liberdade de Imprensa disse em seu perfil no X que os processos criam um ambiente em que “os jornalistas não conseguem deixar de se afligir, sabendo que o novo governo está à procura de qualquer pretexto ou desculpa para persegui-los.”

No Brasil, também há um grupo político que se vê perseguido pela imprensa. O caminho do conflito judicial está mais distante para esses (eles também se veem perseguidos pela Justiça), mas o cenário pode mudar caso, como Trump, assumam o poder. Pressentindo o risco, parte da imprensa brasileira se opõe à sua agressividade, fabricando assim uma profecia autorrealizável. Por temer a perseguição, jornalistas se opõem a candidatos que podem ameaçá-los; por sofrer a oposição, esses candidatos prometem perseguir jornalistas caso eleitos.

O post Cruzada de Trump contra a imprensa pode inspirar políticos brasileiros  apareceu primeiro em Jornal Opção.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.