PM do DF escondeu documento sobre 8 de janeiro do STF

Um documento de 11 páginas, elaborado pela Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) logo após os eventos de 8 de janeiro de 2023, não foi enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), contrariando uma solicitação direta do ministro Alexandre de Moraes.

O relatório, produzido pelo major Flávio Silvestre de Alencar, então comandante interino do 6° Batalhão da PMDF, descrevia o planejamento e as ações da corporação durante os ataques à sede dos Três Poderes, mas foi mantido em sigilo dentro da própria corporação.

O material, que detalha os acontecimentos com precisão, foi entregado apenas à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), após a prisão de membros da alta cúpula da PMDF, mas nunca chegou ao STF.

Em resposta ao pedido formal de Moraes, feito em junho de 2023, a PMDF informou que não havia documentos adicionais sobre os eventos de 8 de janeiro, além do Protocolo de Ações Integradas (PAI), um documento anteriormente solicitado. No entanto, o relatório de Alencar, que deveria ter sido enviado, foi ignorado.

A omissão foi notada pelas autoridades, especialmente considerando que o documento foi considerado obrigatório pela própria estrutura interna da corporação, e sua produção foi realizada devido à ausência da comandante titular Kelly Cezário, que estava de férias.

O conteúdo do relatório de Alencar lança uma luz sobre questões delicadas dentro da PMDF. O documento refuta declarações feitas pelo coronel Marcelo Casimiro Vasconcelos Rodrigues, então comandante-geral da corporação, que afirmou, em audiência ao juiz de Moraes, que o PAI só havia chegado a ele no dia 9 de janeiro, um dia após os atos.

Uma análise de comunicação interceptada, no entanto, revelou que o PAI foi repassado ao major Alencar no dia 6 de janeiro, contradizendo a versão apresentada por Casimiro.

Em outubro de 2023, Moraes deu um ultimato à PMDF, exigindo o envio de todos os documentos relacionados aos acontecimentos de 8 de janeiro. Apesar disso, a PMDF encaminhou apenas o Protocolo de Ações Integradas de junho de 2023, não incluindo o relatório de Alencar, como solicitado pelo ministro.

Além da ocultação do relatório, novas informações surgiram em torno de um possível esquema de alinhamento entre membros da PMDF para fortalecer defesas jurídicas no contexto das investigações.

Áudios divulgados recentemente indicam que a tenente-coronel Kelly Cezário teria buscado alinhar as defesas do major Alencar, do ex-comandante-geral Fábio Augusto Vieira e de outros envolvidos. A gravação, obtida pela coluna, mostra Kelly sugerindo uma estratégia comum de defesa para os acusados, uma atitude que, segundo os investigadores, levanta suspeitas de tentativa de obstrução das investigações.

Novos desdobramentos

A Polícia Federal, já envolvida na apuração das responsabilidades sobre os atos de 8 de janeiro, está analisando essas novas informações, que incluem mensagens interceptadas no celular de Alencar.

Em uma dessas mensagens, o major fez duras críticas a Kelly, acusando-a de pressão psicológica sobre sua esposa para alinhar depoimentos. A situação foi descrita por Alencar como uma tentativa de manipulação das investigações e de enfraquecer sua posição na corporação.

Diante desses novos desdobramentos, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) entrou em ação e solicitou a abertura de um Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar a conduta de Kelly Cezário.

A promotoria, por meio do promotor Flávio Milhomem, exigiu que a corregedoria da PMDF esclarecesse as alegações de interferência na defesa dos militares investigados. A corporação tem agora um prazo de cinco dias para responder ao requerimento.

A omissão do relatório de Alencar e as novas revelações sobre possíveis interferências nas investigações têm ampliado as tensões em torno da PMDF, especialmente em um momento em que as investigações sobre os atos de 8 de janeiro continuam a revelar irregularidades e contradições no comportamento da corporação. Até o fechamento desta edição, a PMDF não havia se manifestado sobre os novos fatos.

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