Confira tradução de poema de Sierguéi Bobróv, do grupo Centrífuga

Astier Basílio

Quando o Modernismo surgiu, na década de 1890, com o simbolismo, o caminho estava sendo aberto para a eclosão de uma série de outras tendências que se abrigariam sob o signo da Era de Prata. Sem dúvida alguma, a tendência de maior expressão, da vanguarda, surgida naquele período em São Petersburgo, foi o Cubo-Futurismo: o grupo teve em Vladimir Maiakóvski (1893-1930) sua voz mais retumbante e no excepcional talento inventivo de Vielimir Khlébnikov (1885-1922), seu mestre e na inquietação de David Burliuk (1882-1967) o gênio aglutinador.

Iremos falar dos futuristas de Moscou, mais precisamente do grupo Centrífuga. Como o próprio nome sugere, o “Centrífuga” propunha uma arte com base na ideia da energia, do movimento e na transformação constantes. Enquanto os cubofuturistas levaram seu experimentalismo às raias da ruptura da língua, chegando a explorar não apenas a disposição gráfica dos signos, bem como o ilogismo sonoro, os poetas do Centrífuga procuraram harmonizar o progresso tecnológico com os anseios espirituais do indivíduo.

Embora fizesse uso dos recursos experimentais, havia o sentimento de preservação do que havia de melhor na tradição poética russa. Havia, por parte dos futuristas do Centrífuga, uma atenção especial com as metáforas, com a tessitura interna e musical dos poemas. Em outras palavras, eles propunham uma busca de harmonia em meio ao caos.

Sierguéi Bobróv, Boris Pasternak e Nikolai Asséiev: poetas russos | Fotos: Reproduções

Um dos integrantes deste círculo literário tornou-se conhecido no mundo inteiro, o poeta, romancista e tradutor Boris Pasternak (1890-1960), vencedor do prêmio Nobel de Literatura em 1958 (pelo romance “Doutor Jivago”). Outro integrante, de bastante influência no período soviético, foi Nikolai Asséiev (1889-1964). Todavia, o ideólogo do grupo e poeta que gozava de maior reputação naquela época foi outro: Sierguéi Bobróv (1889-1971). É dele o poema que traduzimos a seguir — obra que é considerada uma espécie de manifesto do grupo Centrífuga.

Astier Basílio é escritor, crítico literário e tradutor. Faz doutorado na Rússia.

Turbopeã
Poema de Sierguéi Bobróv
Vai girando a CENTRÍFUGA
Foi desabrochando as rodas:
Estridentes assovios,
Mãos em loa vapor lustro!
— Deite a marreta, CENTRÍFUGA,
Os cabeçocas destrua!
No alto em giro esferas suba,
Pedra aos gritos, vaza o lume,
Doravante a alma empurre,
Primaveral fumo em chuva,
Sem que percebam se erga,
Fervente som desenfurne
Do fogo e luz construídos,
Do liberto firmamento,
O fincado BRAÇOPERNA (1):
Mas flui tentando ser pássaro,
Mirar leve em voo embarque
— Sob o mundo , à altura, aninha
Bobróv, Asséiev, Pasternak
Aperta esplêndida garatuja,
Trapamor assim tão neutro
Dê sua bênção, oh CENTRÍFUGA
Ao vai-e-vem do giraera.
(1914)
(*) Referência ao almanaque do grupo.

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