O recado de Gusttavo Lima para Bolsonaro

O anúncio na última semana da pré-candidatura do cantor Gusttavo Lima à presidência da República, em 2026, sacudiu tanto universo político quanto o sertanejo. De um lado, artistas amigos de Lima se adiantaram a manifestar apoio ao artista. Wesley Safadão, por exemplo, publicou um print de uma videochamada com Gusttavo Lima e escreveu: “Falando com meu presidente!! Feliz Ano Novo, BB”. Do outro lado, agentes políticos ligados à direita ficaram ligeiramente surpresos – e alguns, bem irritados.

É o caso do ex-presidente Jair Bolsonaro e seu entorno. Gusttavo Lima e Bolsonaro são amigos – o artista, inclusive, declarou apoio abertamente à reeleição do então presidente, em 2022 – e a declaração do cantor, de que pode disputar o Palácio do Planalto, teria deixado o ex-chefe do Executivo federal ligeiramente desconcertado.

A uma revista de circulação nacional, um dos aliados do ex-presidente revelou que, na noite anterior à entrevista ao portal Metrópoles na qual colocou seu nome à disposição para a corrida presidencial em 2026, Gusttavo Lima teria ligado para Bolsonaro para dizer que seria candidato ao Senado Federal. O que fazia total sentido. O Jornal Opção já havia adiantado que o cantor sertanejo era sondado pelo próprio governador Ronaldo Caiado para uma das duas vagas de senador que serão disputadas por Goiás em 2026.

Mas mais do que a mudança de rumo anunciada, fez o sangue de Bolsonaro subir inflamar as têmporas o fato de Lima ter, simplesmente, dispensado qualquer tipo de bênção do ex-presidente. Na mesma entrevista dada ao Metrópoles, ao ser questionado sobre Bolsonaro, o músico disse: “Chega dessa história de direita e de esquerda. Não é sobre isso, é sobre fazer um gesto para o país, no sentido de colocar o meu conhecimento em benefício de um projeto para unir a população”, afirmou.

Alguns sinais podem ser lidos nas entrelinhas tanto do anúncio de Gusttavo Lima de que ele deve ser candidato, quanto na declaração em que esnoba o aval bolsonarista para isso. O primeiro é o de que a classe artística ligada à direita, e que esteve tradicionalmente sob o jugo de Bolsonaro nas últimas eleições, pode ter declarado, agora, sua independência. Não será surpresa se mais cantores sertanejos, antes declarados apoiadores do ex-presidente do Brasil, também divulgarem seus apoios a Gusttavo Lima a partir de agora, mesmo passando por cima de Bolsonaro e a claque.

O outro possível sinal é o de que, com a pré-candidatura, o cantor sertanejo pode estar muito mais próximo de entrar de vez na política pela base do governador Ronaldo Caiado do que pela base de Jair Bolsonaro. Esse sinal, inclusive, teria sido captado pelo próprio entorno do ex-presidente (um aliado, na entrevista em que revelou a ligação de Lima para Bolsonaro, disparou: “Isso é coisa do Caiado”).

Pensa este articulista que vos fala que não: o anúncio de Gusttavo Lima não partiu de uma articulação do cantor com o chefe do Executivo goiano, mas pode, sim, abrir de vez a porta de entrada do artista no mundo político. É quando se desenha o outro recado do cantor sertanejo: é sabido que, na política, tudo deve ser tratado como “conversas iniciais” e incertas até o soar do gongo – leia-se, até o último minutos das convenções partidárias. Lima, que já era sondado para concorrer a um mandato, finalmente deu o pontapé que faltava, a mensagem explícita que diz “Sim, estou disposto’.

É improvável que o cantor persista com a pré-candidatura ao Planalto. Gusttavo Lima, apesar de inteligente para os negócios (além de cantor, Lima é empresário de sucesso) e ter um forte apelo popular, tem absolutamente zero da astúcia e experiência necessárias para um cargo tal qual o de presidente. Mas é provável, sim, que agora que seu nome passou a ser debatido amplamente no meio político, as conversas com Caiado tomem formas mais sólidas.

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