Albert Hirschman explica porque tentativas de transformação social não foram bem-sucedidas

É uma regra sem exceções o fato “de que a natureza não dá saltos”.

Ao longo da história, inexoravelmente , ela segue uma ordem natural. Sem interferência exógena, não se desvia do seu curso.

Não só a natureza tem leis de vida. A sociedade, como convivência entre os homens, e a economia, como administração das limitações de recursos, também têm as suas próprias leis.

Nem a ordem social e nem a economia dão saltos. É essa natureza, que deve ser respeitada, que Albert Hirschman (1915-2012) trata em seu livro “A Retórica da Intransigência” (Companhia das Letras, 192 páginas, tradução de Tomás Rosa Bueno). Um ensaio brilhante e atual sobre os argumentos que têm dominado o debate entre reacionários e progressistas desde o final do século XVIII.

Desde os episódios dramáticos da Revolução Francesa — entre 1789 e 1793) —, toda vez que sentiram a ordem social novamente ameaçada, conservadores e reacionários de diferentes matizes mobilizaram um formidável arsenal discursivo para protegê-la. É a partir desse variado repertório que Albert Hirschman compõe, com erudição incomum, este magnífico “A Retórica da Intransigência”.

As três teses de Albert O. Hirschman

Albert Hirschman demonstra em três teses ― perversidade, futilidade e ameaça ― o que há duzentos anos se repetem compulsivamente nas retóricas de conservadores e reacionários, todas destinadas a provar que qualquer tentativa de mudar a sociedade é desastrada, tola ou prejudicial.

As três teses coincidem no seu final — não atendem às boas intenções dos seus formuladores.

A tese da perversidade sugere que qualquer ideia de melhora das condições políticas, sociais ou da ordem econômica resulta piora das condições existentes. Os congelamentos de preços sempre resultaram em aumento deles.

A tese da futilidade atenta para o fato de que as tentativas de transformação social são incapazes de serem bem-sucedidas. A Revolução Francesa, a par da perversidade, simplesmente adotou ideias já em gestação na Monarquia — como a lei dos direitos humanos.

A tese da ameaça considera que os ônus (custo) da proposta de mudança ou reforma são tão altos que invalidam possíveis resultados. Os diversos investimentos governamentais em empreendimentos do governo que faliram ou atingiram cifras astronômicas — Coperg, Sete Brasil, Zona Franca de Manaus.

Certamente, alguém pode pertinentemente arguir que os resultados da ação e da inação não sempre previamente conhecidos. Mas sabe-se de antemão que, como regra geral, a natureza não dá saltos. Assim, ecologicamente falando, quanto menos ativismo humano, melhores são os resultados.

Robespierre, chefão da Revolução Francesa de 1789: guilhotinou e foi guilhotinado | Foto: Reprodução

Albert Hirschman planejou matar Hitler

Albert Otto Hirschman, (judeu-alemão) foi um economista influente, autor de vários livros sobre economia e ideologia política.

Hirschman foi professor nas universidades Yale, Columbia e Harvard. Depois da publicação do “Strategy of Economic Development”, em 1958, recebeu oferta de uma cátedra em Columbia, posteriormente em Harvard e, por fim, no Institute for Advanced Study de Princeton.

A par da sua contribuição intelectual, Hirschman atuou politicamente. Uma vez planejando matar Hitler e depois como militante de um grupo de franceses dedicados a retirar judeus da França sob jugo nazista para a Espanha.

A ação de Hirschman mereceu um filme “Transatlantic”, disponível na Netflix, que, com personagens reais, romanceia a luta liderada por uma milionária americana Mary J. Gold para salvar judeus das garras do nazismo.

Ninguém que assistir na Netflix a história de Albert Otto Hirschman deixará de ler os seus livros. Assim como todos os que lerem, com mente aberta, o que escreveu deixarão de pensar duas vezes nas três teses do livro “A Retórica da Intransigência”, que lembram que natureza não dá saltos… e quando a ação do homem interfere na sua trajetória os resultados não correspondem às suas boas intenções.

O post Albert Hirschman explica porque tentativas de transformação social não foram bem-sucedidas apareceu primeiro em Jornal Opção.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.