Cérebro acumula até 30 vezes mais microplásticos que outros órgãos, diz estudo

Pesquisadores vêm demonstrando crescente preocupação com os impactos dos microplásticos na saúde humana. Nos últimos anos, estudos já identificaram a presença dessas partículas minúsculas em órgãos vitais, como o fígado e os rins, mas uma nova descoberta trouxe um alerta ainda maior: o cérebro pode estar acumulando microplásticos em níveis muito mais altos do que qualquer outro órgão.

De acordo com uma pesquisa publicada na revista “Nature Medicine”, amostras de tecido cerebral coletadas em 2024 apresentaram concentrações de micro e nanopartículas plásticas até 30 vezes maiores do que as encontradas no fígado ou nos rins. Os cientistas também verificaram que o acúmulo dessas partículas vem aumentando progressivamente ao longo das últimas décadas, acompanhando o crescimento exponencial do uso do plástico no planeta.

Microplásticos e sua presença no cérebro

A pesquisa analisou 52 amostras de tecido cerebral e detectou microplásticos em todas elas. Além disso, os cientistas observaram que os níveis de contaminação aumentaram de forma expressiva ao longo dos anos. Em comparação com dados coletados entre 1997 e 2013, as concentrações encontradas nas amostras de 2024 foram até 3,9 vezes maiores. O problema se intensifica ainda mais quando os pesquisadores avaliam a região do córtex frontal, área essencial para funções cognitivas, onde a concentração de partículas plásticas foi ainda mais elevada.

Outro achado preocupante do estudo foi que as amostras de pessoas diagnosticadas com demência apresentaram ainda mais microplásticos do que aquelas sem o diagnóstico. No entanto, os cientistas alertam que ainda não é possível afirmar que essas partículas sejam a causa direta de doenças neurológicas, embora a hipótese mereça investigação aprofundada.

Como os microplásticos chegam ao cérebro?

Os microplásticos podem entrar no corpo humano por diversas vias, como pela alimentação, pela água ou pelo ar. Estudos anteriores já identificaram essas partículas em frutas, legumes, carnes, cervejas, leite e até na água engarrafada. Uma vez no organismo, esses fragmentos minúsculos podem viajar pela corrente sanguínea e atingir diferentes órgãos, incluindo o cérebro.

A barreira hematoencefálica, que funciona como um filtro natural para impedir que substâncias tóxicas alcancem o cérebro, não parece ser eficiente para bloquear os microplásticos, segundo os pesquisadores. Além disso, um estudo conduzido na Universidade de São Paulo (USP), na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP), a patologista Thais Mauad, o engenheiro ambiental Luís Fernando Amato Lourenço e a bióloga Regiani Carvalho de Oliveira identificaram que o bulbo olfatório pode ser uma porta de entrada dessas partículas no sistema nervoso central.

A pesquisa da USP, que analisou cérebros de oito pessoas que viveram por pelo menos cinco anos na cidade de São Paulo, identificou microplásticos em todas as amostras. A maioria das partículas detectadas era de polipropileno (PP), um plástico amplamente utilizado na fabricação de embalagens, utensílios descartáveis e fraldas. Esse achado sugere que a inalação de partículas plásticas suspensas no ar pode ser uma rota importante de contaminação, principalmente em grandes centros urbanos.

Os impactos dos microplásticos na saúde humana

Embora os efeitos diretos dos microplásticos no cérebro ainda não sejam totalmente compreendidos, estudos em animais indicam potenciais danos neurológicos. Em experimentos com camundongos, pesquisadores observaram que a exposição prolongada a microplásticos pode causar lesões celulares, alterações no comportamento e danos em neurotransmissores essenciais para o funcionamento do sistema nervoso.

Além dos impactos no cérebro, os microplásticos já foram associados a diversas outras doenças, incluindo:

  • Doenças cardiovasculares: Um estudo recente revelou que pessoas com microplásticos no coração têm um risco quatro vezes maior de desenvolver problemas cardíacos graves.
  • Distúrbios hormonais: Os produtos químicos presentes nos plásticos podem interferir no sistema endócrino, afetando a produção e o equilíbrio dos hormônios.
  • Redução da fertilidade: Pesquisas indicam que a exposição prolongada a microplásticos pode estar relacionada à queda na qualidade dos espermatozoides e dificuldades na reprodução.

A necessidade de ação global 

Atualmente, mais de 500 milhões de toneladas de plástico são produzidas por ano no mundo, e cerca de 4 mil substâncias químicas presentes nesses materiais são consideradas prejudiciais à saúde e ao meio ambiente, segundo o Greenpeace. Mesmo com os avanços na reciclagem, grande parte do plástico não é reaproveitável e acaba se acumulando em ecossistemas terrestres e marinhos.

No Brasil, pesquisadores alertam para a necessidade de conscientização. Segundo entrevista da médica Thais Mauad, ao Jornal USP: “Acho que, primeiro, é necessário conscientizar a sociedade, incluindo a própria Universidade, que ainda tem práticas frágeis nesse sentido”,. Ela enfatiza que a responsabilidade não pode ser jogada apenas nos consumidores, pois grande parte do plástico produzido não é reciclável e permanece no meio ambiente por centenas de anos.

A descoberta de microplásticos no cérebro humano abre um novo campo de estudos sobre os impactos dessa contaminação invisível. Embora os riscos para a saúde ainda não estejam totalmente esclarecidos, os indícios sugerem que a exposição prolongada pode representar uma ameaça, principalmente para o sistema nervoso.

Leia também:

Entenda como a Minerva Foods lucra com lavagem de gado e desmatamento ilegal

Candidatos do Concurso Unificado têm novos critérios de avaliação após retificação, confira

O post Cérebro acumula até 30 vezes mais microplásticos que outros órgãos, diz estudo apareceu primeiro em Jornal Opção.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.