Evento evangélico realizado no Parque dos Pireneus degrada área de preservação ambiental

A realização do evento evangélico “Legendários – Track Outdoor of Potential” no Parque Estadual dos Pireneus (PEP), em Pirenópolis, tem gerado preocupações por parte de ambientalistas, membros do Conselho Estadual do Parque e especialistas da área. De acordo com denúncias realizadas em anonimato ao Jornal Opção, o evento, que reuniu um grande número de participantes, foi realizado sem a devida autorização das autoridades responsáveis pela gestão da área, o que pode ter gerado impactos significativos ao meio ambiente.

O evento evangélico “Legendários”, que tem como objetivo promover uma transformação religiosa pessoal nos participantes, foi realizado em uma Área de Proteção Ambiental (APA). O Parque dos Pireneus é reconhecido pela sua biodiversidade, com áreas de cerrado rupestre, formações rochosas e nascentes que alimentam bacias hidrográficas vitais, como o Rio das Almas e o Rio Corumbá. Especialistas apontam que a realização de um evento de grande porte em locais tão sensíveis pode ter causado danos irreparáveis à flora e fauna locais.

Foto: Reprodução / Redes Sociais

Qualquer ação dentro da unidade de conservação precisa ser previamente aprovada, uma vez que o Parque ainda não possui um Plano de Uso Público aprovado. O evento foi realizado sem o devido procedimento legal, o que coloca em risco a conservação da área e fere os princípios de preservação ambiental da região.

As denúncias apontam que o evento ocorreu em áreas proibidas para visitação, como locais próximos a nascentes e outras zonas de sensibilidade ambiental, que exigem maior proteção. O evento utilizou espaços do Parque que não estão autorizados para esse tipo de atividade, o que viola o Plano de Manejo da unidade de conservação. Especialistas alertam que a abertura de trilhas e a presença massiva de participantes em áreas não autorizadas podem ter causado um impacto significativo nas nascentes e na biodiversidade local.

O Parque dos Pireneus é um divisor de águas entre as bacias do Tocantins e do Prata, o que torna a preservação das suas nascentes ainda mais crucial. As atividades realizadas na área precisam considerar sua função ecológica e os serviços ambientais que o Parque oferece. No entanto, segundo as denúncias, não houve uma gestão adequada do uso do espaço, o que gerou uma preocupação adicional sobre os impactos a longo prazo.

Em relação ao evento “Legendários”, a crítica também se estende à falta de controle e fiscalização por parte das autoridades competentes. Com a grande quantidade de pessoas envolvidas, o impacto no ecossistema é inevitável. Além disso, a ausência de ações de educação ambiental deixa os visitantes sem informações sobre a importância da preservação do cerrado e das nascentes.

Outro ponto de crítica envolveu a autorização para a realização do evento. A denúncia é de que o responsável pela cedência do uso do Parque não seguiu os trâmites administrativos necessários. A arrecadação do evento, envolve o pagamento de R$ 1.200,00 por participante, também foi apontada como um indicativo de que a atividade possuía caráter comercial.

Segundo os denunciantes, somente em um dos eventos foi arrecadado mais de R$ 600.000,00. Os últimos eventos do grupo foram realizados no dia 17 de dezembro e, posteriormente, 3 a 6 de fevereiro. Outro agravante, segundo as denúncias, foi que o gestor do Parque, Fernando Morato, deu uma autorização para realização de outro evento para ser realizado mês de março de 2025, mesmo após uso de áreas impróprias e impactos causados no primeiro evento e novamente sem consultar o Conselho.

O impacto na fauna e flora do Parque dos Pireneus também é motivo de preocupação. A presença massiva de participantes pode ter afastado as espécies nativas do cerrado e prejudicado o equilíbrio ecológico da área. “O número de pessoas envolvidas no evento, somado à abertura de trilhas não autorizadas, certamente afugentou as espécies locais e comprometeu o ecossistema”, afirmou um especialista ambiental

Autoridades responsáveis

Em resposta ao Jornal Opção, a prefeitura de Pirenópolis informou que não foi procurada pela organização do evento.

A reportagem procurou a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD) para comentar sobre o caso, mas até o fechamento desta matéria não obteve retorno. O espaço permanece aberto para qualquer manifestação da Secretaria sobre a autorização para o evento e os impactos ambientais que possam ter ocorrido no Parque dos Pireneus.

O gestor do Parque, Fernando Morato, também foi procurado, mas disse que a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável iria se posicionar sobre o assunto.

Associação dos Romeiros

A Associação dos Romeiros cobra maior transparência nos processos de autorização de eventos e demais atividades no parque. A principal reivindicação é que todas as decisões sejam discutidas previamente, garantindo que os conselhos e conselheiros tenham a oportunidade de avaliar e deliberar sobre a viabilidade dessas ações.

Além disso, a entidade reforça a necessidade da elaboração e implementação de um plano de uso, que deve ser construído de forma verdadeiramente participativa. Outro ponto destacado é a criação de um canal de comunicação mais transparente, permitindo que os conselheiros tenham voz ativa, uma vez que, atualmente, o acesso às informações é controlado de forma unilateral, sem abertura para o contraditório ou o diálogo.

Gestão Inadequada do Parque Estadual dos Pireneus

De acordo com as “Diretrizes para Visitação em Unidades de Conservação” (MMA 2006), com o “Roteiro Metodológico para Manejo dos Impactos da Visitação” (ICMBio, 2011), alguns dos princípios que devem ser observados no planejamento e na gestão da visitação em unidades de conservação são:

  • o planejamento e a gestão da visitação deverão estar de acordo com os objetivos de manejo da UC;
  • a visitação é instrumento essencial para aproximar a sociedade da natureza e despertar a consciência da importância da conservação dos ambientes e dos processos naturais, independente da atividade que se está praticando na unidade de conservação…”

Ou seja, se determinada atividade de visitação estiver focada simplesmente numa competição esportiva e não promover uma consciência ambientalista, não contribuir com a conservação da unidade de conservação e ao contrário, desrespeitar normas e causar impactos ambientais expressivos na unidade de conservação, ela não deve ocorrer dentro de uma unidade de conservação da natureza de proteção integral, como os parques. Ela pode acontecer em muitos outros lugares do território.

A categoria “parque” faz parte do grupo de unidades de conservação de “proteção integral”, conforme o SNUC – Sistema Nacional de Unidade de Conservação. Os principais objetivos de manejo dos parques são a conservação da biodiversidade, das paisagens naturais e dos recursos hídricos.

Danos ao meio ambiente

No mês de dezembro de 2024 houve um evento de um grupo denominado Legendários e este evento causou vários danos na unidade de conservação. Este evento abriu nova trilha em áreas que estavam bem preservadas, pisotearam campos úmidos, inclusive do lado da nascente do principal rio da região, o Rio das Almas que passa por Pirenópolis. A área onde se encontra esta nascente está dentro do zoneamento do plano de manejo como zona de preservação. O evento teve centenas de participantes, passaram onde não devia ter uso intenso, abrindo nova trilha por mata, cerrado preservado e campo úmido. Realizaram o evento em horário noturno o que não é permitido para outros usuários do Parque.

Em 2024 ocorreram dois incêndios na unidade de conservação, queimando mais de 60 % da área do Parque. Esses incêndios ocorreram na realização de aceiros negros que foram feitos em horário e período não recomendado, no final de julho e início de setembro e com equipe sem experiência em queimas prescritas. O fogo utilizado no aceiro negro saiu do controle e incendiou áreas preservadas, incluindo matas e nascentes.

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