Mauro Cid diz que é tratado como leproso enquanto Bolsonaro recebia PIX, veja o teor da delação do ex-ajudante de ordens

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, derrubou o sigilo da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid. Cid era ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A derrubada ocorreu após Bolsonaro e Cid serem denunciados pela Procuradoria Geral da República (PGR) por planejar um golpe de Estado.

Além de Cid e Bolsonaro, outras 32 pessoas foram denunciadas pelo planejamento do golpe para impedir a posse do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“Ocorre que, no presente momento processual, uma vez oferecida a denúncia pelo procurador-geral da República, para garantia do contraditório e da ampla defesa […] não há mais necessidade da manutenção desse sigilo, devendo ser garantido aos denunciados e aos seus advogados total e amplo acesso a todos os termos da colaboração premiada“, diz Moraes, que é relator do caso.

Além disso, Moraes deu prazo de 15 dias para que denunciados apresentem suas defesas na investigação.

Primeiro depoimento

Mauro Cid prestou seu primeiro depoimento em agosto de 2023. A íntegra da delação foi divulgada em janeiro deste ano. Na oitiva, Cid afirmou que Bolsonaro se encontrava com 3 grupos distintos depois que perdeu a disputa para Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Eram os:

  • “conservadores” – teriam uma “linha bem política”. A intenção do grupo era transformar Bolsonaro em um “grande líder da oposição”. Alguns dos integrantes seriam o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e Bruno Bianco, ex-advogado-geral da União;
  • “moderados” – diriam concordar com “as injustiças” do Brasil, mas não eram a favor de uma intervenção radical. “Entendiam que nada poderia ser feito diante do resultado das eleições, qualquer coisa em outro sentido seria um golpe armado”, afirma o texto. Participantes incluiriam o general Júlio Cesar de Arruda, militar e então comandante do Exército, além do general Paulo Sérgio Nogueira, então Ministro da Defesa;
  • “radicais”– parte seria a favor de ir atrás de uma suposta fraude nas urnas. Outra parcela “era a favor de um braço armado”. Estavam inclusos o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, e o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde.

“Me tratam como leproso”

Em oitiva, que quase fez com que Cid perdesse o benefício da delação premiada após a homologação do acordo, o ex-ajudante de ordens sugeria, em áudio vazado, que estaria sendo coagido a falar mais que gostaria a respeito da organização do golpe. Cid afirmou que enquanto “Bolsonaro ganhou Pix”, ele esta sendo tratado como um “leproso”.

O depoimento durou cerca de 30 minutos em março de 2024. Na ocasião, o militar disse que não sabia quem poderia ter vazado os áudios, mas se tratava de um desabafo. Ele também negou ter sido induzido às respostas.

“o presidente Bolsonaro ganhou pix, aos generais que estão envolvidos na investigação e estão na reserva. E no caso próprio, perdeu tudo. A carreira está desabando. Os amigos o tratam como um leproso, com medo de se prejudicar”, disse.

“Meu mundo era Bolsonaro”

Mauro Cid afirmou, em outro depoimento, que seu “mundo” era o ex-presidente Jair Bolsonaro e que sempre atuava a serviço do então presidente. Cid afirmou, também, que não participou de “nenhum planejamento detalhado” de tentativa de golpe.

“Eu não participei de nenhum planejamento detalhado, de nenhuma ação, meu mundo era o mundo do presidente, eu não estou mentindo, não estou omitindo […] o meu mundo era o presidente, o meu mundo de ação era o presidente, eu estou falando a verdade aqui”, afirmou.

Além disso, o ex-ajudante de ordens detalhou os pedidos feitos por Bolsonaro para que Alexandre de Moraes fosse monitorado. À época, Moraes presidia o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

De acordo com a delação, Bolsonaro havia recebido informações de que o general Hamilton Mourão, então vice-presidente, estaria se encontrando reservadamente com Moraes em São Paulo. Por conta disso, Bolsonaro solicitou o monitoramento do magistrado.

“O objetivo era verificar se o general Mourão estaria em São Paulo (SP), nas mesmas datas em que o ministro Alexandre de Moraes também estivesse na cidade”, concluiu.

Blindagem a Braga Netto

Ainda durante suas delações, Cid afirmou que blindou o ex-companheiro de chapa de Bolsonaro, general Braga Netto, em suas primeiras delações por questões de hierarquia. Braga Netto é general do Exército, patente mais alta da Força.

Em uma ocasião, o delegado da Polícia Federal Fábio Shor questionou Cid por que ele não tinha citado a “participação efetiva” de Braga Netto nos planos, “especialmente no financiamento dos militares”.

Cid afirmou que não tinha “receio” do general, mas respeito por sua hierarquia. “Não por causa disso [receio] efetivamente, mas pelo respeito que a gente tem com uma autoridade, um general Quatro Estrelas, que às vezes é muito caro, dosa muitas palavras para evitar estar acusando ou falando de uma autoridade, ainda mais um general Quatro Estrelas. […] Mais pelo íntimo interno, do ethos militar”, responde Cid.

Cid, no entanto, afirmou ter recebido dinheiro de Braga Netto dentro de uma sacola de vinho no Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente da República. “O general Braga Netto me entregou o dinheiro, eu tenho quase certeza que foi no Alvorada, até me lembro que eu botei na minha mesa ali na biblioteca do Alvorada e depois o [Rafael Martins] de Oliveira veio buscar o dinheiro comigo na próprio Alvorada”, contou Cid na ocasião.

O ex-ajudante de ordens, no entanto, afirmou não se lembrar do dia ou da quantia. “Eu não sei dizer o valor porque estava na casa, estava lacrado, não mexi, porque ele me entregou eu passei para ele”, completou Cid.

“Ele me entregou um, era tipo uma coisinha de vinho assim, de presente de vinho, com dinheiro. Eu não contei, não sei quanto, estava grampeado e, aí, o [Rafael Martins] de Oliveira veio buscar o dinheiro. Então, eu peguei o dinheiro e passei para o [Rafael Martins] de Oliveira”, prosseguiu.

Joias

Outro ponto citado por Cid é a questão das joias. O tenente-coronel indicou que ele e seu pai, o general Lourena Cid, repassaram US$ 78 mil (R$ 445 mil, na atual cotação) a Jair Bolsonaro (PL) entre 2022 e 2023, após a venda de joias.

Esses repasses teriam sido feitos de forma direta ou indireta em quatro entregas:

  • US$ 18 mil (R$ 103 mil) por Mauro Cid no Brasil, em junho de 2022;
  • US$ 30 mil (R$ 171 mil) por Lourena Cid em Nova York, em setembro de 2022;
  • US$ 10 mil (R$ 57 mil) por Lourena Cid no Brasil, no final de 2022;
  • US$ 20 mil (R$ 114 mil) por Lourena Cid em Miami, em fevereiro de 2023.

No primeiro caso, Cid viajou para os Estados Unidos para negociar parte das joias e retirou do valor final, cerca de US$ 18 mil, gastos com passagens e aluguel de um carro.

Tanto os US$ 30 mil quanto US$ 10 mil entregues por Lourena Cid para Bolsonaro foram entregues para Cid, que repassou a Bolsonaro. Já os US$ 20 mil foram entregues por Lourena Cid ao assessor Osmar Crivelatti, que acompanhava Bolsonaro em viagens aos Estados Unidos.

Leia também

Cada dia mais próximo de ver o sol nascer quadrado

Denúncia da PGR coloca Bolsonaro como líder da trama golpista, que teve início ainda em 2021;

Procuradoria-Geral da República denuncia Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado

O post Mauro Cid diz que é tratado como leproso enquanto Bolsonaro recebia PIX, veja o teor da delação do ex-ajudante de ordens apareceu primeiro em Jornal Opção.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.