YouTube muda economia de vilarejo da Índia onde um quarto dos moradores são criadores de conteúdo

A aldeia Tulsi se parece com qualquer outro vilarejo indiano. O pequeno assentamento no Estado indiano de Chhattisgarh, no centro da Índia, abriga casas de um só andar e ruas parcialmente pavimentadas. As caixas d’água se destacam acima das casas e as figueiras-de-bengala, assim como suas bases de concreto, servem de pontos de reunião para os moradores.

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Mas o que diferencia Tulsi das demais aldeias é sua fama como a “aldeia do YouTube” na Índia. Cerca de 4 mil pessoas moram em Tulsi. Relatos indicam que mais de 1 mil delas trabalham de alguma forma com a plataforma de vídeos.

O dinheiro arrecadado com os vídeos compartilhados no YouTube transformou a economia local e, além dos benefícios financeiros, a rede social passou a ser um instrumento de igualdade e mudanças sociais. Os moradores que lançaram canais de sucesso no YouTube encontraram novas fontes de renda. 

O mês de fevereiro marca o 20º aniversário do YouTube. Estimativas indicam que cerca de 2,5 bilhões de pessoas usam a plataforma mensalmente e a Índia é, de longe, um dos maiores mercados da plataforma de vídeos. Ao longo das décadas, a plataforma digital não só mudou a web, mas também a forma de imaginar a criação e o consumo de cultura humana.

Mudanças 

A transformação de Tulsi pelo YouTube começou em 2018, quando Jai Varma, de 32 anos, e seu amigo Gyanendra Shukla lançaram um canal na plataforma, chamado Being Chhattisgarhiya.

“Não estávamos satisfeitos com o nosso dia a dia e queríamos fazer algo que pudesse fazer fluir nossa veia criativa”, explicou Varma à BBC.

Seu terceiro vídeo sobre um jovem casal sendo assediado no Dia dos Namorados pelos membros do grupo nacionalista hindu de direita Bajrang Dal foi o primeiro a viralizar. As pessoas se identificaram com aquela combinação de humor e crítica social.

A dupla ganhou dezenas de milhares de seguidores em questão de meses. Este número continuou crescendo até atingir 125 mil assinantes e uma audiência acumulada de mais de 260 milhões de pessoas. A preocupação das famílias com a dedicação de tanto tempo às redes sociais foi abafada quando o dinheiro começou a entrar.

“Estávamos ganhando mais de 30 mil rúpias [cerca de R$ 2 mil] por mês e conseguíamos sustentar os membros da equipe, que nos ajudavam”, conta Shukla.

Ele e Varma deixaram seus empregos para produzir vídeos para o YouTube em tempo integral. Seu sucesso logo inspirou outros moradores de Tulsi. Shukla conta que sua equipe pagou atores e até forneceu treinamento em edição e redação de roteiros para os demais. Alguns moradores da aldeia criaram seus próprios canais e outros se contentavam em colaborar voluntariamente.

Aquilo foi o suficiente para atrair a atenção das autoridades locais. Em 2023, impressionado com o sucesso dos criadores de conteúdo da aldeia, o governo estadual montou um estúdio de última geração em Tulsi e a aposta deu certo. O YouTube criou um modo de subsistência para centenas de jovens da aldeia. 

A plataforma alimenta uma indústria regional de entretenimento e está retirando alguns youtubers de Tulsi da sua vida na cidade pequena. De todas as estrelas das redes sociais surgidas no frenesi de Tulsi no YouTube, ninguém chegou mais longe do que Pinky Sahoo, de 27 anos.

O fato de ter sido criada em uma aldeia remota construída em torno da agricultura fez com que seu desejo de se tornar atriz e dançarina parecesse uma fantasia distante – especialmente com a reprovação da família e dos vizinhos. Para eles, ser atriz era um tabu.

Apesar das críticas, Sahoo começou a postar vídeos de dança no Reels do Instagram e nos Shorts do YouTube. A reviravolta veio quando os fundadores do canal Being Chhattisgarhiya encontraram seus vídeos e a chamaram para participar das suas produções.

“Foi a realização de um sonho. Eles reconheceram meu talento e aprimoraram minha técnica”, relembrou Sahoo em entrevista à BBC.

Seu entusiasmo aumentou ainda mais quando seu trabalho no canal Being Chhattisgarhiya chamou a atenção de cineastas locais da indústria cinematográfica de Chhattisgarh. Sahoo foi escalada para seu primeiro filme e, desde então, já participou de sete produções.

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