Coentro tem gosto de sabão? Entenda a ciência por trás da aversão a essa erva

O coentro é um dos ingredientes mais polêmicos da culinária mundial, amado por muitos e rejeitado por outros. Para alguns, seu sabor é um toque essencial na comida, enquanto para outros, tem gosto de sabão. A explicação para essa divisão, no entanto, não está apenas na cultura ou no paladar, mas na genética. Estudos científicos indicam que a predisposição a gostar ou odiar a erva está relacionada a variantes genéticas específicas.

No dia 23 de fevereiro, comemorou-se o Dia Internacional Eu Odeio Coentro, uma data criada em 2017 pela página do Facebook I Hate Coriander, que descreve a planta como a “erva do diabo”. Embora o tom seja humorístico, a ciência sugere que a repulsa ao coentro não é simples frescura, mas sim uma reação biológica a certos compostos químicos presentes na erva.

O papel da genética na aversão ao coentro

Uma pesquisa conduzida pelo neurocientista Charles Wysocki, do Monell Chemical Senses Center, nos Estados Unidos, forneceu  evidências de que a preferência pelo coentro pode ter um forte componente genético. Em um estudo com gêmeos, ele descobriu que cerca de 80% dos irmãos idênticos compartilhavam a mesma opinião sobre a erva, enquanto gêmeos bivitelinos – que não possuem o mesmo código genético – concordavam apenas em metade dos casos. Isso indica que a predisposição genética influencia na forma como o cérebro percebe o sabor do coentro.

Outro estudo, liderado pelo geneticista Nicholas Eriksson, da empresa 23andMe, analisou variantes genéticas em milhares de pessoas e identificou que aqueles que sentiam gosto de sabão ao consumir coentro tinham uma mutação no gene OR6A2. Esse gene codifica um receptor olfativo extremamente sensível a aldeídos – compostos químicos presentes tanto no coentro quanto em sabões, loções e até em alguns insetos.

A ciência por trás do sabor 

Os aldeídos são moléculas responsáveis pelo aroma e sabor característicos do coentro. Enquanto algumas pessoas os identificam como um cheiro agradável e fresco, outras os associam a produtos de limpeza devido à hiperatividade do receptor OR6A2.

Lilli Mauer, cientista da Universidade de Toronto, no Canadá, aprofundou essa pesquisa e descobriu que, além do gene OR6A2, variantes em genes responsáveis pela percepção do gosto amargo também influenciam a aversão ao coentro. O estudo foi publicado na revista científica “Chemical Senses” e analisou mais de 500 pessoas de ascendência europeia.

No entanto, Eriksson e sua equipe apontaram que esses genes não são herdados de forma simples. “É possível que a herdabilidade da preferência do coentro seja bastante baixa”, afirmam os pesquisadores. Ou seja, mesmo que um dos pais tenha aversão ao coentro, isso não significa que o filho necessariamente compartilhará da mesma característica.

É possível aprender a gostar de coentro?

Apesar da predisposição genética, as preferências alimentares não são totalmente imutáveis. Com treinamento adequado e exposição gradual, algumas pessoas conseguem alterar sua percepção gustativa e aprender a apreciar o coentro.

Isso ocorre porque o cérebro é capaz de se adaptar a novos estímulos ao longo do tempo. Assim como ocorre com alimentos amargos, como café e chocolate amargo, a repetição e o condicionamento podem ajudar a reduzir a aversão ao coentro.

Estudos indicam que técnicas como misturar a erva com outros ingredientes e consumir pequenas quantidades regularmente podem ajudar a reprogramar a resposta sensorial. Isso explica por que algumas pessoas que odiavam coentro na infância acabam tolerando – ou até gostando – da erva na vida adulta.

Leia também:

Roberta Flack, voz de ‘Killing Me Softly With His Song’, morre aos 88 anos

“Goiás é referência nacional em meio ambiente sem travas ao desenvolvimento”, diz Daniel Vilela durante congresso sobre gestão ambiental em Goiás

O post Coentro tem gosto de sabão? Entenda a ciência por trás da aversão a essa erva apareceu primeiro em Jornal Opção.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.