Mais de 50 animais silvestres foram mortos nas rodovias que levam à Chapada dos Veadeiros

*Colaboração de Guilherme de Andrade

A falta de controle de velocidade nas rodovias goianas está colocando em risco não apenas a fauna local, mas também a vida de motoristas e passageiros. É o que alerta Flávia Maria Ribeiro Cantal, vice-presidente da Associação Amigos das Florestas, em entrevista exclusiva ao Jornal Opção.

Flávia destaca a urgência da implementação de medidas de segurança, como redutores de velocidade e passagens de fauna, especialmente nas áreas próximas ao Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. “O atropelamento só não é pior para a biodiversidade do que o desmatamento”, afirma, citando um estudo da Universidade Federal de Lavras que estima a morte de 470 milhões de animais por ano no Brasil em decorrência de atropelamentos.

Decisão judicial

Em maio de 2020, Goinfra, ICMBio, Associação Amigos da Floresta e Ministério Público homologaram um acordo prevendo a instalação de redutores de velocidade e passagens para a fauna nativa. Apesar de terem sido colocados os redutores de velocidade, as passagens para a fauna ainda não tem data prevista. Por se tratar de uma decisão transitada em julgado, deve ser cumprida.

Entretanto, o acordo estabelecia o prazo de um ano, e quatro anos depois, ainda não foi completamente cumprido. A Goinfra implantou redutores de velocidade, que tinham um prazo mais curto (além de ser uma medida mais barata) foram implementados. Ainda assim, há uma multa de R$3 milhões prevista pelo descumprimento do acordo.

Ainda de acordo com a vice-presidente da associação, a Goinfra teria justificado o atraso com a licitação que foi suspensa pelo Tribunal de Contas do Estado de Goiás. Ou seja, um fato referente à 2020.

Nova audiência de conciliação

Flávia Maria Ribeiro Cantal relata que devem existir futuramente, conforme previsto no acordo, 8 passagens subterrâneas e 6 passagens superiores. Entretanto, a associação pretende negociar, em troca de uma novo prazo, a instalação de mais redutores de velocidade. Uma nova audiência de conciliação está prevista para o dia 6 de março, quinta-feira. Dessa forma, não há necessidade para a aplicação da multa.

“Entrou um novo presidente da Goinfra, em agosto do ano passado. E o doutor Pedro Sales tem muita preocupação com as questões ambientais e a segurança viária. Pode ser que ele se interesse pelo acordo”, afirma ela.

Além disso, Cantal também destaca que a Secretária de Meio Ambiente de Alto Paraíso está fazendo um levantamento dos animais atropelados desde dezembro de 2024. Até o momento, já são mais de 50 atropelamentos de animais silvestres na área onde serão as passagens.

Sobre a fauna e as passagens

Segundo Cantal, pela quantidade expressiva de ocorrências, os acidentes envolvendo animais silvestres se tornam um fator significativo na extinção de espécies. Principalmente para animais de topo de cadeia, como o logo-guará e a onça-pintada, que se movimentam muito. Por isso é imperativa a construção de passagens para a fauna.

As passagens subterrâneas costumam partir de adaptações nos dutos de água, como cercas e passarelas. Enquanto as passagens superiores são de madeira e corda, aproveitando as árvores, especialmente em áreas úmidas, onde há maior concentração de animais silvestres.

As passagens subterrâneas principalmente por mamíferos, como tamanduás, antas e onças. Já as passagens superiores focam em animais arboricolas. “Por exemplo, macacos, saruês e porcos espinho só descem da árvore quando totalmente necessário. Eles têm uma repugnância natural a descer, a ficar no solo”.

Para que os animais descubram os novos caminhos, a especialista explica que existem diferentes técnicas. Até porque, muitas vezes os animais tem medo das passagens. O mais comum é que comidas e cheiros especificos sejam colocados nas passagens para auxiliar na adaptação.

Animais reabilitados após resgate em Goiás | Vídeo: Divulgação

Riscos e prejuízos para humanos

A especialista ainda relata que a ausência dessas adaptações representa um prejuízo econômico e um risco para as vidas. Econômico porque um estudo aponta que, anualmente, o país gasta cerca de R$12 bilhões com consequências de atropelamentos de animais silvestres. Isto é, contando apenas com as rodovias federais.

“É uma questão de segurança viária, porque animais maiores, como antas e tamanduás, quando são atropelados, é comum que existam óbitos ou lesões gravíssimas de motoristas e passageiros”. Portanto, para Flávia Maria Ribeiro Cantal, as medidas não fariam apenas a fauna mais segura, mas também as pessoas que trafegam pelas rodovias.

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