Cerrado perdeu quase metade de sua área coberta por cursos d’água naturais

O Panorama da Superfície de Água do Brasil, levantamento do MapBiomas, mostra que Goiás é o estado que mais ganhou área coberta de recursos hídricos em todo o Brasil. Em 2023, foi registrado um ganho de 105 mil mil hectares de área coberta por água em relação à média histórica iniciada em 1985, o que representa crescimento de 32%. Apesar de parecer positivo, o dado revela uma realidade preocupante: a perda de volume nos cursos d’água natural e um aumento da área antrópica, ou seja, criada pela ação humana. 

O levantamento explica que, comparando o ano de 2023 com o cenário de 1985, a superfície de água do Cerrado ligada à ação humana (hidrelétricas e reservatórios, por exemplo), teve ganho de 363 mil hectares, enquanto a superfície de água natural perdeu 696 mil hectares. Dessa forma, áreas de vegetação nativa e comunidades tradicionais perdem espaço para os grandes centros urbanos e para a produção agropecuária extensiva. 

A área de água natural no Cerrado representava 66,8% do total dos recursos do bioma no início da série histórica, e, em 2023, esse número caiu para 37,5%. Nesse período, as hidrelétricas tiveram maior crescimento em área. Em 1985, eram 438 mil hectares, o que representava 22,4% de toda a superfície, enquanto em 2023 o número já estava em 828 mil hectares, mais da metade de toda a superfície hídrica do Cerrado (51,1%).  

Vale lembrar que o Cerrado é conhecido como o berço das águas do Brasil, já que a nascente de oito das principais bacias hidrográficas do país (que acabam escoando parcialmente para outras partes da América do Sul) estão no bioma, ou seja, a perda de volume nos cursos d’água naturais afetam todo o país. 

No cenário nacional, a perda de área de água natural no Cerrado encontra eco. Em 2024, foram registrados 17,9 milhões de hectares do território brasileiro cobertos por água, o que representa número 2% menor se comparado aos 18,3 milhões registrados em 2023. Quando comparado com a média histórica, o número representa queda de 4%. De 2009 até 2022, foram registradas quedas consecutivas na área hídrica do país, sendo oito dos dez anos mais secos da série histórica apenas na última década. Esse quadro foi mostrar alguma evolução apenas em 2022. 

Fonte: MapBiomas.

Desmatamento 

A queda na superfície coberta por água, tanto em valores absolutos para o cenário nacional quanto para cursos d’água naturais em Goiás, é acompanhada por uma perda de vegetação nativa. Frequentemente, essa perda de vegetação nativa está associada com a expansão da fronteira agrícola, com seus campos de monocultura e rebanhos. O MapBiomas destaca que o Cerrado possuía 139 mil hectares de área em 1985, e esse número caiu para 101 mil hectare em 2023

O Matopiba, região de Cerrado foco da expansão agropecuária (nos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), está na área de maior superfície hídrica antrópica.   A Mata Atlântica é o bioma com maior superfície de água antrópica 1.33 milhão de hectares (mais da metade de toda a área hídrica do bioma), o Cerrado vem em segundo lugar com 828 mil hectares (também mais da metade do total), enquanto a Caatinga possui 292 mil hectares de água em reservatórios e 397 mil em hidrelétricas (somados, ultrapassam a metade dos recursos hídricos disponíveis no Bioma). 

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A expansão da área de água oriunda de ação humana altera o ciclo hidrológico, o que intensifica a perda de vegetação nativa, afetando também comunidades tradicionais. 

Enquanto esse cenário se intensifica, os fenômenos naturais saem da normalidade. Em 2023, a Amazônia registrou seca histórica, enquanto o Pampa viveu enchentes e secas num curto intervalo. Como o cenário de expansão da produção agrícola e de redução dos cursos naturais d’água e das vegetações nativas se mantém, a tendência é de que esses eventos se tornem mais recorrentes e intensos.

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