Os 340 anos de Johann Sebastian Bach

No dia 31 de março de 2025, Johann Sebastian Bach completaria 340 anos. E se ainda nos perguntamos por que falar de um compositor tão antigo, a resposta é simples: porque poucos nomes na história da música continuam tão vivos.

Bach não inventou a música que conhecemos hoje, mas a reorganizou de forma tão decisiva que sua obra é como uma espinha dorsal da tradição ocidental. Em sua música, tudo parece surpreendente: o encadeamento harmônico, o entrelaçamento das vozes, a arquitetura das formas. Mas essa aparente perfeição não é fria,  nela pulsa uma vitalidade rara, que emociona e desafia intérpretes e ouvintes até os dias de  hoje.

Como artista do  período barroco, Bach era um trabalhador incansável. Organista, professor, maestro e copista, tudo isso em meio a prazos apertados e critérios práticos. Sua produção é monumental: mais de mil obras catalogadas, incluindo cantatas, missas, paixões, oratórios, concertos, música de câmara e uma extensa literatura para instrumentos de teclas. Mas, para além da quantidade, o que impressiona é a coerência estética e o rigor técnico.

Johann Sebastian Bach | Foto: Reprodução

Bach escreveu uma música funcional: para cultos, para exames, para benefícios específicos. Mas, de alguma forma, ele extraiu a beleza universal dessas tarefas diárias. A música de Bach funciona como um mecanismo preciso, onde cada parte tem sua função, mas ao mesmo tempo existe liberdade, invenção e expressão. Um paradoxo que o torna único.

Uma das obras que melhor resume essa genialidade é “O Cravo Bem Temperado” , escrito em duas partes, sendo cada uma com 24 pares de prelúdios e fugas, uma para cada tonalidade maior e menor. Trata-se de um verdadeiro laboratório de formas, texturas e afetos. Não à toa, Chopin estudou seus prelúdios todos os dias.

Fuga em lá menor do segundo Livro de Das Wohltemperierte Clavier (manuscrito)

O compositor Adam Schoenberg disse:

“Com Bach, nada se perdeu: tudo é desenvolvimento”.

 O pianista Glenn Gould afirmou:

“a obra de Bach é a gramática da música ocidental”

O termo cravo, no Dicionário Grove, é descrito como: “instrumento de teclado com cordas, diferenciado do clavicórdio e do piano, pelo fato de suas cordas serem pinçadas e não percutidas”. O cravo é um instrumento de teclas anterior ao piano.  

Ao compor O Cravo Bem Temperado, Bach usou o titulo: Das Wohltemperierte Clavier. Talvez, o título alemão, poderia ser mais preciso se traduzido como O teclado bem temperado. Uma obra prima que fala diretamente ao ouvinte: basta ouvir.

Nesta data simbólica, sugerimos a audição do Prelúdio e Fuga nº 17 em Lá Bemol Maior, BWV 862, do Livro 1 do “O Cravo Bem Temperado’”.

Órgão Barroco de 1650 Jörg Hansen, diretor do Museu “Casa de Bach” Turíngia, no leste da Alemanha | Foto: Reprodução

Observe que o prelúdio tem uma leveza luminosa, quase pastoril. Já a fuga é mais recolhida, com ressonâncias introspectivas, como se Bach se voltasse para dentro, sem deixar de olhar o mundo com ternura.

Ouvir Bach aos 340 anos de seu nascimento não é apenas um exercício de memória. É um gesto de atualidade: porque sua música nos reconecta ao essencial — à escuta, à ordem, à complexidade, à emoção.

Como escreveu o regente John Eliot Gardiner,

“Bach não precisa ser entendido. Ele precisa ser ouvido”.

No vídeo abaixo, Prelúdio e Fuga nº 17 em Lá Bemol Maior, BWV 862, do Livro 1 do  “O Cravo Bem Temperado” interpretadopelo pianista András Schiff.

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