Com falta de apoio da UFG, estudantes se mobilizam e dominam handebol de praia no JUGs

Estudantes da Universidade Federal de Goiás (UFG) conquistaram, mais uma vez, o título no handebol de praia nos Jogos Universitários Goianos de Praia (JUGs Praia) de 2025. Apesar da instituição ser pentacampeã no masculino e tetracampeã no feminino, os atletas ainda enfrentam diversos desafios. Com pouco apoio da própria UFG, eles se mobilizam desde 2020, utilizando recursos próprios para financiar os treinos e a aquisição de equipamentos.

Com as vitórias nas duas modalidades, os estudantes garantiram a classificação para os Jogos Universitários Brasileiros (JUBs) Praia de 2025. O evento será realizado entre os dias 31 de agosto e 7 de setembro, em João Pessoa, capital da Paraíba. Até lá, os alunos precisarão continuar investindo recursos próprios para custear os treinos e esperam que a UFG os auxilie com os custos de transporte.

“A preparação para o torneio foi totalmente bancada pelos estudantes, que pagaram pela quadra privada e não contaram com um técnico, já que não há edital para contratação de treinadores para os esportes de areia. Contamos com a boa vontade do nosso treinador, que se dispôs a nos treinar de graça, e dividimos o custo da quadra entre os atletas. Os uniformes e equipamentos foram adquiridos integralmente pelos alunos”, contou Bianca Marinho, estudante do curso de Biomedicina da UFG, para o Jornal Opção.

Para o aluno do curso de Educação Física, Matheus Vieira, apesar do sucesso no JUGs Praia, a preparação precisou ser corrida e sem apoio da universidade. “Recebemos em cima da hora a informação de que o campeonato seria em março e que teríamos apenas dois meses para preparar e organizar o time para os treinos. Tudo foi organizado sem nenhuma ajuda da UFG, incluindo a logística para ir à competição em Inhumas. Todos se organizaram para que todos fossem aos jogos em seus carros pessoais”, explicou.

Em nota, a universidade esclareceu que, devido a limitações orçamentárias, não é possível oferecer apoio financeiro a todas as modalidades esportivas. “A UFG, por meio da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Prae), apoia a participação de estudantes da instituição nos Jogos Universitários. Entretanto, devido à limitação orçamentária, não é possível auxiliar financeiramente todas as modalidades”, informou, em resposta ao Jornal Opção.

Além da falta de apoio, os estudantes enfrentaram vários obstáculos, como a dificuldade em encontrar um local apropriado para treino e os equipamentos necessários. Segundo a estudante de Engenharia Elétrica, Ana Gabriela Machado, o maior desafio foi localizar uma quadra. “Desde o início da prática do beach handball, não tivemos nenhum suporte da UFG, então aprendemos a nos adaptar, e agora está mais fácil desenvolver a equipe. O processo de encontrar uma quadra foi extremamente difícil, em Goiânia, quase não existem quadras de areia com gol”, relatou ao Jornal Opção.

Eles também informaram que, às vezes, a UFG ajuda no pagamento da inscrição e do transporte, seja para o JUGs ou JUBs Praia. Mas, normalmente, a locomoção e a acomodação são custeadas pela Federação Goiana de Desportos Universitários (FGDU).

“Em relação aos custos, a UFG cobre a inscrição, e quando vamos para os JUBs, a hospedagem é paga pela FGDU. O transporte pode ser bancado pela UFG ou pela FGDU, dependendo da situação. O restante, incluindo o uniforme, fica por nossa conta. A UFG até tem uniformes, mas são antigos e não servem mais adequadamente. Por isso, sempre precisamos arcar com a confecção dos uniformes, que precisam ser compostos por duas camisetas, conforme exige o esporte. A alimentação também é de responsabilidade nossa quando participamos dos campeonatos”, contou a estudante de Engenharia Elétrica.

Logística

Ao contrário do handebol praticado em quadra convencional, o handebol de praia é disputado em uma quadra de areia. A modalidade mistura elementos do handebol tradicional com uma dinâmica diferente na pontuação. Com equipes compostas por quatro jogadores cada, os gols podem ter valores diferentes dependendo do tipo de movimento acrobático. Por exemplo, um gol realizado com um giro de 360º vale dois pontos, enquanto um gol convencional vale apenas um ponto.

Com dificuldade para localizar uma quadra, Marinho conta que o local dos treinos foi encontrado quase por “sorte”, após um estudante encontrar, sem querer, uma quadra de areia com gols. Depois de localizar o espaço no Parque Amazônia, Vieira relatou que os alunos entraram em contato com os donos e descobriram que a quadra fazia parte de um projeto esportivo, mas que liberaram o aluguel do local para os treinos.

Equipe feminina da UFG é tetracampeã de handebol de areia no JUGs Praia | Foto: Reprodução/Redes Sociais

No entanto, a estudante de Biomedicina conta que a situação ainda gerou prejuízos para a manutenção da modalidade. “Perdemos muitas pessoas nos treinos porque a quadra ficava muito longe dos campi e pelo preço cobrado”, afirmou. Isso ocorreu, considerando que muitos estudantes interessados no esporte moram perto do Campus Samambaia (Vila Itatiaia) e do Campus Colemar Natal e Silva (Setor Leste Universitário), que são distantes do Parque Amazônia.

Machado também pontua que os estudantes criaram um caixa próprio para financiar a modalidade e outros custos, como equipamentos necessários. “Pagamos um valor pela quadra e o que sobra, montamos um caixa que usamos para comprar bolas, por exemplo, inclusive a que é oficial e que adquirimos na competição nacional do ano passado”, destacou.

Além disso, os estudantes calcularam que gastam mais de R$ 500 com alimentação apenas com o JUBs Praia, por exemplo, considerando que o evento ocorre em outro estado. Cada atleta também precisa gastar cerca de R$ 100 para adquirir um conjunto de uniformes.

Marginalização

Marinho considera que a UFG “marginaliza” os esportes de praia, apesar dos esforços dos próprios estudantes. Nesse sentido, Machado vai além e afirma que os títulos são frutos do esforço e mérito dos estudantes, e não da instituição: “Nós fazemos as coisas pela nossa própria vontade, pela nossa força de vontade, porque se dependêssemos da UFG, não teríamos apoio nem para treinar”.

Ao mesmo tempo, Vieira cobra que a universidade dê algum suporte aos estudantes e à modalidade, destacando o sucesso que tiveram nos últimos anos. “Seria bom a valorização do esporte e dos atletas, que representam o estado há cinco anos, sempre com grandes resultados. Algum incentivo ou apoio que mostrasse que a universidade se importa seria um reconhecimento de todo o esforço e sacrifício de todos aqueles que se dedicam para representar a UFG em um palco nacional”, afirmou.

Independentemente dos percalços, Machado ressalta que, apesar das dificuldades, está animada com a nova possibilidade de disputar o torneio nacional. “Minha expectativa está bem alta. Como a mais velha do time, acredito que esta é a nossa melhor equipe. Estamos jogando handebol de areia de verdade, não somos mais um time que ainda está aprendendo”, justificou a atleta.

Equipe masculina da UFG é pentacampeã de handebol de areia no JUGs Praia | Foto: Reprodução/Redes Sociais

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