Irapuan Costa Junior: um escritor, crítico e tradutor importante para a Academia Goiana de Letras

Salatiel Soares Correia

Especial para o Jornal Opção

Em um tempo em que as instituições culturais correm o risco de se tornarem protocolares ou meramente honoríficas, é fundamental lembrar que o ingresso em uma Academia de Letras deve fundamentar-se em valores sólidos: obra relevante, trajetória de vida histórica e conduta moral ilibada. Não se trata, apenas, de premiar nomes conhecidos, a questão é reconhecer legados que contribuíram de forma inequívoca para a cultura, a sociedade e o espírito de uma época.

É a partir desta perspectiva que se deve considerar, com a devida seriedade e reverência, a candidatura do ex-governador, ex-prefeito, ex-senador e escritor Irapuan Costa Junior à Academia Goiana de Letras (AGL).

A história política e cultural de Goiás não pode ser contada sem mencionar seu nome. Como presidente da Celg, Irapuan Costa Junior promoveu a expansão e modernização da empresa, levando energia elétrica a rincões esquecidos e permitindo que o desenvolvimento socioeconômico se tornasse possível no interior do Estado.

Prefeito de Anápolis, Irapuan Costa Junior foi um gestor moderno e eficiente, deixando marcas duradouras na infraestrutura e organização administrativa. Já como governador de Goiás, protagonizou um dos capítulos mais transformadores da história do Estado: a implantação do Distrito Agroindustrial de Anápolis (Daia). É cabível afirmar que a industrialização goiana começou ali, e que, graças à sua visão, Goiás deixou de ser somente uma economia agrícola para, então, tornar-se uma potência emergente no centro do Brasil.

No entanto o seu legado não se restringe ao campo econômico. Irapuan Costa Junior sempre teve sensibilidade em relação com a cultura goiana. Durante seu governo, grandes nomes das artes, como Siron Franco, receberam apoio decisivo ainda no início de suas carreiras. Foi também sob sua gestão que se deu a reforma do Teatro Goiânia, permitindo que espetáculos oriundos dos grandes centros culturais do país chegassem à capital. Ele compreende que a cultura não é ornamento, e considera isso a estrutura fundamental de um povo desenvolvido.

Você sabia que a grande bailarina britânica Margot Fonteyn (1919-1991) dançou no Teatro Goiânia? Pois é: a estrela mundial atendeu a um convite de Irapuan Costa Junior, quando era governador de Goiás. Numa entrevista ao Jornal Opção, o poeta Aldair Aires, que trabalhou na área cultural no governo de Irapuan Costa Junior, relatou que o gestor estadual tentou trazer também o bailarino Rudolf Nureyev, um dos maiores da história do balé. Não deu certo, porque ele tinha outro compromisso.

Pesquisadores conscienciosos sabem que, quando governador, Irapuan Costa Junior, com o apoio de seu vice José Luiz Bittencourt, patrocinou a republicação, no formato de livro, da importante revista “Informação Goyana”, editada pelo jornalista Henrique Silva. Seu governo também contribuiu para organizar arquivos.

Como senador da República, Irapuan não foi figura decorativa. Atuou com brilho e seriedade, representando o Brasil em inúmeras missões diplomáticas e parlamentares no exterior, sempre, com a compostura de um estadista e a inteligência de um intelectual.

É exatamente isso que ele também é: um intelectual com contribuição notável à cultura escrita. Como tradutor, introduziu no Brasil obras fundamentais do filósofo inglês Herbert Spencer, inéditas em português e escritas há mais de 150 anos. Suas traduções “Primeiros Princípios” (uma obra incontornável do pensador) e “Filosofia do Estilo” enriquecem os estudos sobre a escrita e a comunicação eficaz.

Como autor, brilha em obras como “Jogo da Memória”, em que revisita, com elegância proustiana, episódios vividos ao longo de sua rica trajetória pública e pessoal. Em “Dicionário do Milênio”, oferece ao leitor uma seleção refinada de conceitos essenciais para entender os desafios do século XXI.

Como articulista do Jornal Opção, é um dos mais lidos do país (e é lido em outros países, como Portugal). Há textos de sua autoria — como um sobre Jack London (autor sobre o qual sabe tudo e mais um pouco) — que chegam a ter mais de 500 mil acessos únicos por semana.

É pelo todo elencado até aqui que a candidatura de Irapuan Costa Junior não pode ser tratada com indiferença ou reduzida a uma formalidade. Trata-se de reconhecer a grandeza de uma vida dedicada ao bem público, à cultura e ao saber.

Sua entrada na Academia Goiana de Letras eleva ainda mais o brilho de uma instituição já constituída por figuras de expressão, cuja trajetória engrandece o nome de Goiás.

Salatiel Soares Correia é engenheiro, administrador de empresas, mestre em energia pela Unicamp e crítico literário. É autor de oito livros relacionados aos seguintes temas: energia, política, desenvolvimento regional e economia. É colaborador do Jornal Opção.

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